terça-feira, 31 de março de 2015

Ditadura nunca mais



Pedro Aleixo, que era vice presidente da república na época da publicação do A.I 5, alertou o presidente Costa e Silva para os perigos que aquela lei representava:_ “ Presidente o problema de uma lei assim não é o senhor nem os que com o senhor governam o País; o problema é o guarda da esquina”.
O problema também incluía o general-presidente e os que com ele governavam o País, mas o político mineiro tinha razão em sua preocupação.

Naqueles tempos sombrios quando não havia garantias constitucionais, quando não havia direito à ampla defesa, quando não havia sequer habeas corpus, qualquer um podia ser preso indefinidamente sem processo ou acusação formal. Toda prisão por suspeita de atividade subversiva levava à tortura e muitas vezes à morte do suspeito. Em muitos casos o sujeito desaparecia e pronto. Bastava o guarda da esquina dizer ao delegado ou aos órgãos de segurança que em tal casa havia muito entra e sai, muita “atividade suspeita’  e haveria buscas, prisão, tortura, morte e desaparecimento. Não era necessário estar envolvido com a resistência democrática nem com a guerrilha para que isso acontecesse, bastava o guarda da esquina não ir com a cara de alguém que não patrocinou uma cervejinha ou o tratou com indiferença. 

segunda-feira, 30 de março de 2015

Falta d'água



Dizem que as crises geram oportunidades. No mundo capitalista isso é interpretado ao pé da letra e o que chamam de oportunidade é a ocasião de se ganhar dinheiro a custa do trabalho de uns e da estultice de outros.
Aproveitando a falta d’água, agora conhecida pelo eufemismo de crise hídrica ou (haja imaginação) estresse hídrico, alguns “empreendedores” inventaram um meio economizar água aproveitando a água da chuva. Uns tambores debaixo das calhas, nada mais que isso. Mas isso é vendido como tecnologia e seus “criadores” não só vendem o produto como dão cursos sobre a montagem da genial invenção para que outros abram seus negócios de economia de água. Todo o sistema sai por R$ 600,00, instalado. O valor do curso não foi divulgado, mas a procura é grande, segundo seus criadores, e pelas instalações também.
Embora todos saibamos que o consumo doméstico da água represente menos de 8% do total utilizado, os meios de comunicação e as autoridades responsáveis pelo desabastecimento insistem em falar de banhos demorados e de torneiras abertas enquanto escovamos os dentes. Houve quem sugerisse o uso comedido da descarga do sanitário e o governo de São Paulo mandou distribuir torneiras “econômicas” à população para reduzir o gasto.  Movidos pela desinformação os negócios de oportunidade prosperam.
O latifúndio, que atende pela alcunha de agronegócio, gasta 72% da água tratada e nada é feito para melhorar o sistema de irrigação. Nem por parte dos empresários do setor nem pela ação dos governos.
 A indústria faz propaganda sobre medidas tomadas para diminuição do consumo de água. Maquiagem igual a que é feita na questão da proteção ambiental.
Enquanto isso, grande parte da população paulistana compra a idéia que o desperdício doméstico e São Pedro (na linguagem infantilizada dos telejornais) são os culpados pela falta d”água e vigia o banho dos vizinhos com a orelha colada à parede.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Demagogia papal



As palavras vão ganhando novos significados com o passar do tempo. Demagogia, por exemplo, passou a significar qualquer coisa que um governante faz em favor do povo pobre. Seu sinônimo agora é populismo. Cotas raciais, renda mínima, inserção social; tudo isso é denominado como demagogia pelos engravatados que freqüentam os estúdios das TVs, os comentadores do facebook e os editorialistas dos jornais.
Eu já sou velho para essas novas interpretações e por isso chamo de demagogia o que meu velho dicionário diz que é demagogia.
Faz pouco tempo, Sua Santidade, o Papa Francisco, doou para os sem teto de Roma umas centenas de guarda-chuvas que haviam sido esquecidos por visitantes do Vaticano. Não usou do dinheiro que tem o Banco do Vaticano para construir casas ou abrigos para os que vivem ao relento, não fez sequer campanha para arrecadação de fundos exortando os católicos milionários para que doassem para tal fim. Não, o Papa deu-lhes guarda-chuvas.
Umas semanas depois, o Sumo Pontífice fez que enterrassem um mendigo nas proximidades das sepulturas de cardeais e outros potentados da hierarquia romana e pediu que as dioceses fizessem o mesmo. Não falou em dar vida digna aos que mendigam, não criou restaurantes populares, não mandou construir hospitais que lhes prolongasse a vida. Mandou-os enterrar junto aos que sempre viveram bem.
Para culminar foi anunciado que o Vaticano irá proporcionar visitas “VIP” à Capela Sistina para os moradores de rua. Chuveiros já foram instalados para o banho dos visitantes que entrarão por onde entram os funcionários e prelados e farão a visita quando não haja outros visitantes pagantes nos museus e outras instalações. Isso acontecerá quinta-feira à tarde. Os cerca de 150 moradores de rua que freqüentam a área do Vaticano terão o privilégio de apreciar os afrescos de Michelangelo e outros tesouros que a Santa Sé colecionou durante os séculos. Imagino que um lanchinho seja providenciado para que ninguém desmaie de fome durante o longo périplo.
Tão evidente demagogia me fez lembrar das visitas que o primo pobre fazia ao primo rico no humorístico “Balança mas não cai” que eu via quando era criança. Ainda posso ver a cara de frustração que Brandão Filho, que interpretava o primo pobre, fazia ao final dessas visitas. Acabei rindo do que era para chorar.

A agência Reuters, de onde colhi a notícia, não vê nenhuma graça nem demagogia no assunto e termina sua nota dizendo que Francisco era conhecido em sua Buenos Aires natal como o bispo das favelas devido às freqüentes visitas que fazia às comunidades carentes da capital argentina. Segundo a Reuters o Papa Francisco “fez da preocupação com os pobres uma das principais preocupações do seu papado.” Tô vendo.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Pobre Marcelo



Vinícius de Moraes era um homem feio. Sua cabeça serviria de molde para os criadores de ETs de Hollywood. Desde sempre calvo, o poeta também ostentava ombros arqueados e uma barriga de Buda de jardim. No entanto foi ele que no poema “Receita de mulher” cunhou o verso “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.
Lendo o poema sabe-se que a beleza que ele descreve (ou receita) não é a beleza plastificada das capas de revista ou das telas de cinema. Mas o que ficou foi o verso fora do contexto do poema. E todos adoram o verso e o citam quando a ocasião é propícia e se trata de mulheres.
Na página do facebook do Marcelo o verso de Vinícius aparece sobre a foto de capa. Fui até lá por curiosidade, queria ver quem publicara as piadinhas (umas 20 delas) sobre a Graça Foster e que, por vias tortas, vieram parar na minha página da rede social.
O rapaz fizera um apanhado de todas as charges, cartuns e ditos engraçadinhos da Internet que falavam sobre a aparência da ex-diretora da Petrobrás e os publicou. Nada sobre a atuação da engenheira à frente da empresa, nada de sua trajetória profissional, nada sobre sua responsabilidade (ou não) quanto ao escândalo que abalou o país e a saúde da petroleira. Apenas do aspecto físico de Graça Foster tratavam.
No facebook do Marcelo também havia fotos suas e de seus amigos. Todos jovens, na casa dos vinte e poucos anos. Quase todos homens com gostos infantis por jogos de ação da Internet e séries de TV com zumbis e tiroteios.
Pode-se fazer um monte de constatações xeretando o facebook de Marcelo, mas uma coisa chama a atenção: ele é feio, muito feio. Seu rosto está coberto de espinhas, acnes e toda espécie de afecções purulentas. Sua boca enorme, sempre aberta em sorrisos, mostra dentes tortos e curtos. Sua testa começa no meio da cabeça dando mais espaço para as horríveis bolinhas de pus. Nada se pode falar de seu queixo, pois ele não tem queixo. É como se a boca fizesse parte do pescoço curto e grosso. Qualquer um que o visse ficaria com pena de Marcelo. Principalmente porque para Marcelo beleza é fundamental.
Se eu conhecesse o Marcelo evitaria falar de beleza em sua presença. Seria como falar de corda em casa de enforcado. Sem embargo, é Marcelo quem puxa o assunto que lhe é tão desfavorável e faz piada da aparência física de uma senhora.
Talvez Marcelo não tenha autocrítica ou, quem sabe, para ele beleza é fundamental somente para mulheres. Essa visão machista vem varando o tempo e passando de geração em geração com o auxílio dos comerciais de TV e programas “humorísticos”. Agora temos as redes sociais para dar-lhe maior vazão.

Diferentemente de Vinícius, que podia encantar com versos e poemas, Marcelo, pelo que se vê em sua página no facebook, nada tem que fascine. É apenas um rapaz feio e infantilizado que gosta de joguinhos eletrônicos, filmes bobos e piadas de mau gosto. Pobre Marcelo.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Picaretas e achacadores



             Lula disse em 1993, que no congresso havia uns 300 picaretas. Lula estava certíssimo, talvez um pouco comedido quanto aos números, mas certíssimo.
Cid Gomes disse recentemente que nas casas legislativas 400 achacadores dão plantão. Cid Gomes acertou, talvez subestime a quantidade, mas acertou. Como se vê houve uma expansão da pilantragem e os picaretas se especializaram.
A diferença entre os picaretas de outrora e os atuais achacadores é que aqueles pouco se importaram com o epíteto e estes querem ser vistos como defensores da família, da moral e dos bons costumes. Acostumados ao histrionismo dos púlpitos, dão chiliques, batem boca e pedem a cabeça de quem os mostra como são.
Tanto nos anos 90 como agora, muitos desses picaretas e achacadores estão na base do governo. Outros esperam a vez na oposição.
Lula sabia do que estava falando. Esteve no congresso como deputado constituinte e viu de perto o balcão de negócios. Cid Gomes foi governador do Ceará e também sabe como as coisas funcionam no trato com o legislativo.
O governo atual, assim como os governos anteriores, investiu na cooptação dos picaretas e achacadores para sua base de sustentação. Enquanto a economia ia de vento em popa e as empreiteiras enchiam os cofres, os picaretas vendiam seu apoio em prestações mensais. Ministérios foram criados para acomodá-los e evitar intermediários nos seus negócios. Uma gorda fatia das propinas ia para os partidos que os abriga e para os próprios.
No estágio em que as coisas se encontram, com o governo lutando contra a queda de investimentos, enfrentando manifestações contrárias, ameaças de golpe e vendo a popularidade da presidenta Dilma cair, muitos picaretas ensaiam uma saída estratégica de sua base. Inventam diferenças ideológicas, criticam os escândalos que eles mesmos protagonizaram e até reclamam de excesso de ministérios. Os que ficam fazem birra e achacam como nunca.

  

terça-feira, 24 de março de 2015

Manifestações: epílogo



Muita gente anda preocupada com o ódio político que se alastra pelo país. O que acontecia apenas nas redes sociais e nas caixas de comentários do sítios informativos da Internet foi para as ruas, para o corpo a corpo.
O ódio e a irracionalidade que já separaram amigos, parentes e casais pelo facebook e pelo twiter tende a separar o país em duas metades sem que ninguém possa ao menos alegar que não está em nenhuma das metades. Parece que só existem dois grupos: os petralhas, bolivarianos, comunistas e os coxinhas, fascistas, leitores da Veja. (Assim nomeados por seus contrários)
A polarização inventada por marqueteiros e pelos interesses escusos tem levado pessoas aos extremos da insensatez. Petistas negacionistas do mensalão e analfabetos políticos que se manifestam nas ruas junto a golpistas e psicopatas, tomaram para si o protagonismo político.
O ódio que os petistas vêem dirigidos ao seu partido na verdade é o ódio da classe dominante e seus acólitos da classe média pelos pobres, negros, índios e favelados. Esse ódio sempre se manifestou na escola pública de má qualidade, no salário de fome, no latifúndio, na “entrada de serviço” para uns e no elevador “social” para outros. Esse ódio sempre esteve presente nos comerciais de TV, nas novelas, nas universidades de uso exclusivo, nos saguões dos aeroportos, no foyer do teatro. Com o advento da Internet e das redes sociais ele virou verbo, com as manifestações orquestradas pelos meios de comunicação e difundidas pelas redes sociais virou ação.
Se muito desse ódio é dirigido ao PT, isso se deve ao fato do partido ter tido a ousadia de eleger um presidente nordestino, ex-operário e sem diploma universitário e seu governo ter implantado algumas políticas sociais que em nada diferem das adotadas por países europeus. Talvez as cotas nas universidades para negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública tenha sido a gota d’água e os escândalos de corrupção o pretexto ideal para que milhares fossem às ruas pedir impeachment e golpe militar.
Mas não é tanto o ódio que me deixa perplexo e sim a boçalidade que parece ter tomado conta do país.
Dois fatos são exemplares. O primeiro deu-se na manifestação do dia 15. Entre as muitas faixas e cartazes com dizeres dos mais grotescos, uma grande faixa se destacou. Nela se lia: “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire.” É quase incrível que um dos maiores educadores do mundo seja tratado dessa maneira em seu país. A ditadura já o havia proibido e exilado, agora sua memória é vilipendiada pela boçalidade reinante. Quem poderia ser contra Paulo Freire? Ora, os mesmos que não querem ver negros freqüentando faculdades. Os mesmos que se calam (quando não aplaudem) diante da chacina da juventude negra e favelada. Os que querem a redução da maioridade penal e a pena de morte. Os fãs do Bolsonaro e do coronel Telhada.
O outro exemplo da estupidez sem limites vem, é claro, do facebook. Uma postagem que vi há pouco, trazia as fotos de Lobão e Chico Buarque. Uma frase as encimava: “Mais vale um Lobão com a bandeira do Brasil protestando na Paulista que um Chico Buarque sentado em Paris com dinheiro da lei Rouanet elogiando o governo”.

Comparar Chico Buarque e Lobão em qualquer área já é ridículo por si só, mas quem propagandeou isso desconhece o que é credibilidade, ignora fatos, contextos e bom senso. É simplesmente burro ou age de má fé. Como não sou de duvidar da boa fé de ninguém fico com a hipótese da burrice crônica e da boçalidade patológica. 

O Sr. CPI



Acho difícil que alguém conheça algum projeto de sua autoria. Talvez ninguém o tenha visto na tribuna ou sendo entrevistado pela grande imprensa, mas certamente todos o viram em alguma CPI. Ele já participou de 10 em seus 11 anos de mandato como deputado federal. Onyx Lonrenzoni (DEM-RS) é o Sr. CPI.
 Lorenzoni é o típico político brasileiro: oportunista, despreparado, boçal e rico. Tudo nele transcende arrogância, ignorância e hipocrisia. A ofensa gratuita aos depoentes das CPIs é sua marca registrada assim como sua gigantesca cuia de chimarrão. Chimarrão demagógico e eleitoreiro assim como sua presença nas CPIs.
Como não podia deixar de ser ele é membro da CPI da Petrobrás e embora seja um dos políticos que recebeu dinheiro das empresas que deveriam ser investigadas, não se constrange e se dispõe a investigar o escândalo protagonizado por seus apoiadores. Aliás, por que se constrangeria? Se nem os presidentes da Câmara, do Senado e da CPI se constrangem? Ninguém se constrange em receber dinheiro das empreiteiras e participar da farsa.
E como é uma farsa nada será investigado. Lorenzoni, assim como a maioria dos componentes da CPI da Petrobrás, quer apenas estar sob holofotes, fustigar os adversários políticos e ter a certeza que tudo terminará bem para seus correligionários e financiadores.


sábado, 21 de março de 2015

Fecharam o botequim da Yoanis Sanchez



Não faz nem 10 anos, o Dalai Lama era um dos líderes mais prestigiados do mundo. Onde quer que fosse era recebido com banda de música, tiros de canhão, coro infantil e o escambau. O Dalai era uma celebridade. Sua causa: a libertação do Tibete do domínio chinês. Era legal para as potências ocidentais apoiar a luta terrestre do Dalai Lama e beber de seus ensinamentos celestiais.
Mas aí aconteceu o que tinha de acontecer: a China tornou-se o maior comprador de matérias primas de todo mundo. Já não ficava bem fustigar o país oriental que vinha num crescimento anual de mais de 10% com recriminações sobre a ocupação do Tibete. O negócio era vender pros chineses e rapidamente a causa tibetana deixou de interessar aos governantes, à imprensa e aos budistas de fim de semana.
O próprio Dalai Lama se tocou, e depois de não ser recebido com honras de chefe de estado nos EE.UU, como era de costume, abdicou da liderança política dos tibetanos e passou a se dedicar apenas aos temas espirituais. Era o fim das limousines e tapetes vermelhos para ele.
Com menos fama e prestígio, mas com muito oba oba, Yoanis Sanchez também ocupou lugar de destaque na política por algum tempo. Seus financiadores deram-lhe, além da grana, o status de lutadora da democracia em Cuba. A moça viajou, palestrou, teve seus 15 minutos de celebridade e vai desaparecendo como a Kelly Key e o Restart, sem que ninguém se dê conta. Yoanis já não conta.
Com a reaproximação dos EE.UU e Cuba e o possível fim do embargo, Yoanis Sanchez deixou de ser útil aos interesses americanos. Na tentativa de isolar a Venezuela, Obama acenou para a ilha com promessas de amizade. Claro, já não fazia sentido ficar numa implicância pueril com o governo da pobre e inofensiva Cuba quando o que interessa são os milhões de barris de petróleo que a Venezuela produz logo ali, no quintal da grande potência e que o governo bolivariano teima em manter estatizado e longe das mãos das petroleiras americanas.
O Dalai Lama ao passar o bastão da liderança política para um monge mais moço e se retirar para algum mosteiro, o fez com grande dignidade. Já Yoanis não aceitou bem seu descarte e mesmo antes de Obama e Raul Castro se pronunciarem sobre a nova etapa das relações entre seus países, a opositora profissional do socialismo escreveu no sítio “14 y médio” que estava triste pela reaproximação e disse que era uma “vitória do castrismo” e que “no jogo político os totalitarismos sempre conseguem se impor sobre as democracias”. Depois voltou atrás no twiter e disse que a reaproximação tinha sabor de capitulação para o regime cubano.
Se a retirada do Dalai Lama do jogo político teve algo de Greta Garbo, a saída de cena de Yoanis Sanchez mais se assemelha a um botequim fechando de madrugada.


quarta-feira, 18 de março de 2015

Financiamento privado, caixa 2, corrupção



Na Espanha, está rolando um processo por uso de caixa 2 no financiamento do PP, o partido de direita que está no poder. Empresas doaram por baixo do pano mais do que permite a lei, durante 20 anos. Essas empresas, por serem contratantes do estado espanhol, estavam proibidas de fazer doações e financiar partidos políticos. E já que estavam mesmo proibidas de doar, doaram acima do permitido por lei.
Sedes regionais do Partido Popular foram construídas com esse dinheiro, até o arquiteto que reformou uma das sedes foi pago por esse meio. Salários extras de dirigentes do PP (entre eles Mariano Rajoy, atual primeiro-ministro, Rodrigo Rato, que foi ministro da economia de Aznar e diretor gerente do FMI e Dolores de Cospedal, secretária geral do PP e presidente da junta de Castilla- La Mancha) também saíram da conta que abrigava tais doações ilegais. Quase todo mundo nega ter recebido. Alguns confessaram.
Quem entregou a rapadura foi o tesoureiro do partido Luis Bárcenas. Está tudo explicadinho no livro caixa que ele mantinha. O processo de lavagem do dinheiro era simples, quase torpe: a cada doação ilegal o tesoureiro subdividia a quantia e depositava numa conta do partido valores menores que podem ser doados anonimamente.
Fica claro que a lei que determina o quanto pode ser doado, como e por quem, é falha. Parece ter sido feita para ser facilmente burlada.
Para nós brasileiros o que chama a atenção no caso é o valor que pode ser doado pelas empresas espanholas para os partidos dentro da legalidade: 60 mil euros. Isso no Brasil é dinheiro de pinga quando se trata de campanha eleitoral. Mas embora as somas sejam bem menores das que aqui geram a corrupção mesmo antes da eleição do político, vê-se que o padrão é o mesmo. É o financiamento privado um dos motores da corrupção. Não o único, mas o que mais impulsiona essa prática.


terça-feira, 17 de março de 2015

Manifestações. Os Black blocs não foram



Os organizadores da manifestação do dia 15 em Belo Horizonte, contrataram lutadores de artes marciais para darem “segurança” ao evento. Se fosse em São Paulo, onde mais de 480 milhões de pessoas foram para a Av. Paulista, precisariam contratar o exército chinês. Mas foi em B.H e uns 50 bombados bastaram. O ato na capital mineira tinha menos gente que no jogo do Atlético contra a URT.
Segundo os organizadores contratantes a presença dos casca grossa era para prevenir distúrbios e segurar algum desordeiro até a chegada da polícia. Mas isso é linguagem “corporativa”. O que o homem quis dizer é que quem tumultuasse ia entrar na porrada.
Algum petista mais paranóico pode ter pensado que a mensagem era para ele: Nem pensar em aparecer na rua de camisa vermelha ou boné do MST. Escolado nos ensinamentos do imortal Ubaldo do imortal Henfil, não posso negar que o petista tem seus motivos para o ressabio.
Mas creio que a segurança anabolizada visava mesmo era os Black blocs.
Acontece que eles não foram. Digam o que quiserem dos meninos, mas idiotas eles não são. Quem se dispôs a marchar ao lado de malucos golpistas e viúvas da ditadura foi a classe média despolitizada que deu pra ver comunistas até na sopa.
Desde as manifestações de 2013, os Black blocs vêem sendo tachados de vândalos e baderneiros. Nessa análise torpe juntaram-se a imprensa e o governo, o golpismo e o PT, jornalistas a soldo e ministros. As máscaras dos meninos carbonários foi motivo para discursos moralistas, anacrônicos e reacionários. Até mesmo o incidente trágico da morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão, foi explorada para desqualificar o movimento. Os rapazes acusados de acenderem o artefato estão presos e Sininho e Karlayne são consideradas foragidas da justiça. Ao coro de acusadores somou-se boa parcela do petismo oficialista, temeroso das verdades que o movimento radical fazia vir à tona. Atacavam-se as máscaras e os que as usavam por não poderem atacar o fato que existe cada vez mais gente que não se sente representada por nenhum grupo político. Gente que já não crê na democracia representativa, mas que em vez de golpe propõe a participação popular.
Após as manifestações de caráter golpista do dia 15, o movimento Black bloc se posicionou através de sua página na Internet pela legalidade e contra os que pedem quarteladas para resolver os problemas da nação. Prometeram dar batalha em favor da democracia.
Será que agora o governo e os petistas vão entender quem é o inimigo?



segunda-feira, 16 de março de 2015

Manifestações 2º ato



Há pouco mais de duas semanas a polícia baiana matou 12 jovens na periferia de Salvador. Diante da chacina o governador Rui Costa pronunciou-se fazendo uma analogia futebolística. O governador comparou os assassinos com um artilheiro diante da meta adversária. Nada disse sobre apurações, perícia técnica ou afastamento dos policiais envolvidos. Preferiu a comparação estúpida e não voltou atrás nem mesmo quando setores da sociedade o criticaram.
Rui Costa é um governador do PT. E não é um petista de última hora; está no partido desde 1982. É puro sangue.
A chacina e a declaração do governador deveriam merecer o repúdio e a indignação de todos. Principalmente dos revoltados que se manifestaram dia 15 contra o Partido dos Trabalhadores e o governo que encabeça. Seria quase óbvio, para os que se manifestaram em Salvador, ligar o governador do estado ao governo federal e expor sua falta de sensibilidade ao comentar a morte dos meninos e sua incompetência no que tange à segurança pública.
Segundo as edições eletrônicas da Tribuna da Bahia e d’A tarde nada disso aconteceu. Ambos os jornais só falam dos cartazes e palavras de ordem contra o governo da Presidenta Dilma e generalidades contra a corrupção. A morte dos meninos por policiais, que estão sob o comando de um governador petista, não causou a indignação que causa o aumento do preço dos combustíveis ou a tabela do imposto de renda.
A omissão dos manifestantes diante da incúria do governador baiano não me surpreende. Os governos do PT não são criticados por seus erros e sim por seus acertos por essa camada da população que faz manifestações e vai atrás do trio elétrico do Lobão. Caso Rui Costa resolva implantar ciclovias ou criar um programa de inclusão social de travestis através da educação, aí sim merecerá a indignação e a vaia. Enquanto sua polícia estiver chacinando meninos negros da periferia, ele terá o silêncio cúmplice, a compreensão pelos “excessos” da polícia e até mesmo o aplauso dos revoltadinhos.



Manifestações



Cada dia fica menos evidente o que realmente motiva as manifestações contra o PT e o governo da Presidenta Dilma. O mote da corrupção é o disfarce ideal. No entanto, entre os cartazes genéricos “fora Dilma” e “fora corrupção” estavam as faixas que mais exprimiam o sentimento dos que se manifestaram na Paulista e na orla carioca.
Uma senhora foi fotografada levando seu cartazinho anti-coministinha que exigia o fim da doutrina marxista nas escolas. Outro cartaz dizia não a Paulo Freire e sua doutrina educacional esquerdista.
Claro que para praticar esse anti-comunismo jurássico não é necessário um discurso coerente nem que faça jus à realidade.Basta escrever um cartaz, fazer cara de indignado e fingir que entende o que está acontecendo. 
Em mãos de outros manifestantes alguns cartazes nos remetiam aos anos 50 e 60. Neles se lia “o Brasil não será uma nova Cuba”. Não importa que o ministro da economia seja um banqueiro do Bradesco ou que a ministra da agricultura seja uma latifundiária que defende escravocratas. Para os manifestantes do dia 15 o perigo marxista ronda nosso país. Havia até um cartaz que dizia “pelo fim da democracia, intervenção militar já”. Se é apenas ignorância ou parte de um plano de desestabilização de origem externa eu não sei. O fato é que as emissoras (Globo e Bandeirantes) que cobriram o evento com dezenas de repórteres e comentarista, nada disseram sobre as aberrações que se viam nesses cartazes. Na tela da TV só aparecia o que poderia fazer algum sentido. Poderia.
Poderia, mas não faz. Uma manifestação organizada contra a corrupção deveria estar repleta de cartazes exigindo investigação e punição para os corruptos. Deveria atacar o foco da corrupção que é o financiamento privado das campanhas eleitorais. Deveria receber com pedradas gente como José Agripino e Aloysio Nunes (ambos investigados por corrupção). Deveria mostrar indignação com a farsa montada na CPI da Petrobrás. Mas não, os manifestantes preferiram pedir o fim do socialismo no país, o fim do comunismo ensinado nas escolas.
O que essa gente chama de comunismo é a comida na boca do povo que recebe bolsa-família. É o pobre freqüentando faculdade. É a empregada doméstica que tem direitos trabalhistas. O que indigna esses manifestantes não é a corrupção, é o pobre.

Nas redes sociais, o melhor termômetro quando de sentimentos e posturas sociais se trata, podemos ver claramente que quem apoiou e participou da manifestação do dia 15 são os mesmos que meses atrás criticaram o programa “Mais Médicos”. São os mesmo que viam (e vêem) no Bolsa Família um absurdo. São os mesmos que odeiam as cotas nas universidades e que acham que as praias deveriam cobrar ingressos. Ou seja: as elites e os inocentes úteis da classe média que tem pesadelos com empregadas domésticas invadindo o elevador “social”.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Psol e Daciolo, cada um no seu quadrado



Imagino que antes mesmo de preencher sua ficha de filiação o Cabo Daciolo já tentava converter militantes, funcionários e outros membros do Psol à sua crença religiosa, pois se há uma coisa que não se pode dizer dos religiosos é que eles escondem suas crenças. Pelo contrário. Quanto mais fanático o crente, mais alarde faz das coisas em que crê.
O Psol ignorou o óbvio, aceitou sua filiação e deu-lhe legenda para concorrer à Câmara Federal. Não creio que o tenha feito por ser Daciolo um puxador de votos. Não me parece que essa seja uma prática do partido. Tampouco Daciolo, um iniciante na política, poderia trazer qualquer garantia de grande votação.  Houve, isto sim, por parte do Psol uma supervalorização do movimento dos bombeiros e de suas lideranças.
Daciolo se elegeu, penso, não só pela sua liderança entre os bombeiros ou sua penetração no meio evangélico, mas também puxado pela candidatura de Luciana Genro à presidência e Tarcísio Mota ao governo do Estado do Rio. Não tenho dúvida que Luciana e Tarcisio preencheram o nicho da rebeldia tão caro para uma importante parcela do povo fluminense e que estava vago desde que o PT se aliou ao que há de mais fisiológico e oportunista da política do Rio e Gabeira virou esse tiozão mala da TV dos Marinho. Daciolo, que se rebelara contra a política de arrocho salarial posta em prática pelo governador Sérgio Cabral Filho, foi a reboque das candidaturas da esquerda rebelde.
Pouco mais de dois meses depois de sua posse Daciolo apresentou seu primeiro projeto de lei. Trata-se de uma PEC e propõe alterar o artigo primeiro, parágrafo único da Constituição Federal. Onde se lê que todo poder emana do povo, Daciolo quer que a Carta Magna reze que “todo poder emana de Deus que o exerce de forma direta e por meio do povo e de seus representantes”.
A proposta não é apenas ridícula, é obra do fanatismo religioso que domina nosso parlamento e grande parte da sociedade brasileira.
A direção do Psol disse em nota que após reunião o deputado foi convencido a retirar a proposta que vai contra o princípio do estado laico.
Mas e agora? O que fazer com esse deputado que é capaz de apresentar tal proposta? Esperar que ele diga que homossexualidade é abominação como afirmam seus irmãos de fé? Que ele proponha a leitura da bíblia nas escolas e o ensino do criacionismo? Esperar que ele faça do partido motivo de chacota?  

O Psol errou ao aceitar a filiação do Cabo Daciolo, errou ao dar-lhe legenda para disputar as eleições, mas agora, depois do absurdo projeto de emenda constitucional que vai contra princípios defendidos pelo partido, não pode seguir errando. Está claro que as propostas do Psol e o Cabo Dalciolo são incompatíveis. Um partido que se quer socialista e libertário não pode abrigar em suas fileiras um fundamentalista obscurantista e fanático como Daciolo. Cada um no seu quadrado.

terça-feira, 10 de março de 2015

Corrupção sem corruptores



Eu sei, eu sei. Comentar a CPI da Petrobrás é bobagem. Nada pode ser mais ocioso. É dar milho a bode. Só a lembrança da figurinha difícil do presidente da comissão tira o ânimo de qualquer um que queira fazê-lo.
No entanto, não dá para deixar passar o fato de que estamos diante de uma dessas farsas grotescas que mexe e vira nosso parlamento proporciona.
Já no primeiro dia de funcionamento da CPI, o presidente pau mandado manobrou e criou sub-relatorias sem ao menos avisar ao relator. Negou a palavra aos que se opunham a manobra e deu chilique. Foi tratado por opositores de esquerda pelo nome que merecia: moleque.
Antes que sua excelência fizesse o mandado, vários requerimentos para oitivas foram aprovados. Os nomes dos mesmos funcionários que já depuseram na Polícia Federal e no Ministério Público compõem a lista dos que deverão alegar seu direito de permanecer calados diante das perguntas e ofensas dos deputados.
E, claro, nenhum dos empresários envolvidos será chamado para depor. Mais uma vez teremos uma investigação de corrupção na qual não se menciona os corruptores. Também pudera, a maioria dos membros da CPI teve suas campanhas bancadas pelas empresas que eles deveriam investigar.

Não investigarão. Não precisam investigar o que já sabem. 

quinta-feira, 5 de março de 2015

A milícia de Edir Macedo



Edir Macedo fundou sua milícia. Os Gladiadores do Altar formam, marcham, batem continência e gritam besteiras em uníssono como qualquer recruta. Com uma diferença: o fanatismo dos milicianos de Macedo é religioso e não patriótico. E é aí que reside o perigo.
Toda força militarmente organizada precisa ter um inimigo, seja ele real, potencial, ou imaginário. Para as forças armadas de qualquer país existe o discurso da força defensiva, preventiva. Prepara-se a guerra para alcançar-se a paz. A correlação de forças seria o inibidor da agressividade do inimigo. São patranhas, claro, que  servem de desculpa para as potências intimidarem os mais fracos, os de menor poder bélico.
No caso da milícia de Macedo não existe ameaça, não existe uma força contrária. A menos que o Bispo veja na concorrência pelo bolso dos fiéis essa ameaça. Não creio que seja o caso. Para isso há os recursos tipicamente macedianos: milagres, retiros, jejuns, fogueira santa, lavagem cerebral e mais milagres.
 A Igreja Universal é uma igreja-circo, uma seita voltada para o espetáculo e os grandes eventos. Dentro desse lucrativo mundo do entretenimento a encenação marcial protagonizada pelos Gladiadores do Altar causou grande impacto entre os fiéis. Talvez tudo não passe de presepada. Talvez não.
Creio que a finalidade da milícia da Universal seja a intimidação de infiéis. Ateus e praticantes de religiões afro-brasileiras em particular. A Igreja Universal é notadamente a seita que mais ataca os cultos de origem africana. Depredações de terreiros e agressões físicas de fiéis dessas religiões fazem parte dos expedientes empregados pelos fanáticos da Universal. De vez em quando sobra para os católicos.
Há quem diga que a formação da milícia de Macedo tenha como inspiração o Estado Islâmico. Eu não descartaria a hipótese. O som dos coturnos retumbando nos templos da seita também fazem recordar as SA da Alemanha hitlerista.
Diferentemente das ações de proselitismo e captura de seguidores para a Universal que conta com o esforço de obreiros e otários de ambos os sexos, na milícia de Macedo só há homens. Homens jovens e fornidos. Gente que parece estar preparada para o conflito, para a porrada.

Segundo a seita já são 4.300 desses milicianos em todo o país. Esse número tende a crescer com a mesma velocidade com que cresceu a fortuna de Edir Macedo e sua influência. 

terça-feira, 3 de março de 2015

A teoria da conspiração universal



Há na minha cidade alguns jornais. Não são bem jornais, são folhas de publicidade com uma ou outra notícia, uma ou outra coluna opinativa. Algo assim como a revista Veja, mas sem o Constantino. Desses jornais vi o nascimento e morte de vários. Não sei se o que os mata é a falta de assunto ou a falta de publicidade, mas um deles ficou e tem até mesmo sua coluna social, o horóscopo e as palavras cruzadas. Claro, continua faltando assunto.
Faz alguns anos eu folheava uma dessas publicações e me deparei com um relato de um morador daqui. Vinha em forma de coluna, quase como notícia. Contava o homem de sua mudança de um bairro para outro. Ele dizia que era da montanha para a praia, mas era de um bairro que fica no alto e afastado uns dois ou três quilômetros da praia para outro à beira mar plantado.
Talvez por ter se dado conta que algo tão prosaico como meter uma geladeira e outros trecos num caminhão ladeira abaixo não poderia interessar a ninguém mais além dele, o narrador resolveu colorir seu relato e usou uma expressão em voga naqueles dias. Falou, referindo-se à sua satisfação com a nova morada, que o universo conspirara a seu favor.
Pois é, assim é o ser humano em sua infinita estultice. O sujeito olha o firmamento, vê a imensidão; lê, estuda, assina as revistas científicas e na hora H acha que bilhões de estrelas, buracos negros, quasares e nebulosas estão em movimento para que tudo saia bem na sua mudança da Encantada para o Siriú.
Já vai passando de moda falar das conspirações do universo. O destino dessas coisas é o baú das necedades onde já estão a regressão de vidas passadas, o feng shui e os crocs.
De vez em quando alguém mexe no baú e tira de lá seu ganha pão, sua fama e seu prestígio. É o caso dos leitores de aura.
Lá pelos 70 esse negócio funcionava e tinha sempre alguém que olhava pra gente com cara de desgosto por ter encontrado nossa aura suja, pouco luminosa ou poluída. Os cursinhos de leitura de aura de fim de semana proliferavam. Alguns quiseram fazer disso uma ciência. Havia maquininhas de ver aura e seus intérpretes.
Hoje, leio com assombro que em São Paulo tem um desses leitores de aura que é o guru da elite paulistana. A consulta custa 400 reais e o cursinho 2.500. Viagem à Índia, acompanhado pelo guru, sai por 7.000, mas aí é dólar. Tem também retiros e palestras. Claro.

O sujeito contabiliza mais de 1.500 leituras, mas diz que faz tudo por amor e fundou um movimento intitulado New Ways. Tem mais de 5 mil seguidores. Esse também deve achar que o universo conspira a seu favor.