Donald Trump ao lançar-se à corrida pela indicação de seu
partido para disputar a eleição presidencial americana optou pelo confronto.
Disse cobras e lagartos dos imigrantes mexicanos e foi parar nas manchetes do
mundo. Ninguém mais pode perder tempo comentando seu penteado ou o programa de
TV que ele comandava. Trump com suas declarações virou, da noite pro dia, uma
figura política. Esqueçam o topete.
Andei lendo aqui e ali que sua estratégia de ofensas é um
tiro no pé e que ele vai acabar por perder o cada vez mais numeroso voto
“hispânico”. Li isso de gente que faz análises de política externa e usa uns
paletós maneiros. Eu tendo a discordar de tal vaticínio. Digo isso pensando nos
brasileiros residentes nos EE.UU e que se manifestam nas redes sociais e nas
caixas de comentários dos sítios informativos.
Se Trump tivesse se referido aos imigrantes brasileiros como
traficantes e estupradores, como fez com relação aos mexicanos, eu tenho a
impressão que ele não perderia um único voto dos filhos e netos de imigrantes
brasileiros aptos a votar. Imagino que o mesmo se passe entre os descendentes
de mexicanos. O imigrante alvo de Tramp é o imigrante das construções, os
camelôs, os biscateiros, os ilegais. Os que não votam. Gente que faz lembrar aos
filhos dos imigrantes “velhos” sua origem e seu passado. E essa gente quer
esquecer tudo isso e ser assimilada. É gente que realizou o sonho americano de
comprar uma casinha a prestação e botou um carro na garagem. Gente que se
tornou conservadora.
Com a polêmica Trump não só não se enfraqueceu entre os
“latinos” como deve ter se fortalecido muito junto à extrema direita americana.
O Tea Party pode passar a vê-lo como um candidato viável e depositar apoio à
sua indicação.
Iniciado o caminho do confronto Trump seguiu o rumo e atacou
as mulheres. Primeiro Hillary Clinton, depois Megyn Kelly, apresentadora do
ultra direitista canal Fox News, que mediava um debate entre os postulantes à
candidatura republicana.
Também nesse caso creio não haver risco de perda de apoio.
Muitas mulheres pensam como ele. Prova disso é que numa democracia com quase
240 anos, nenhum dos dois principais partidos jamais apresentou uma mulher como
candidata à Casa Branca. Hillary Clinton, ao que tudo indica, será a primeira,
mas não é certo que o voto feminino lhe caia no colo, pelo contrário. Entre os
países desenvolvidos os EE.UU têm uma das menores bancadas femininas no
legislativo. Lá como cá a grande maioria conservadora (homens e mulheres) ainda
vê a política como coisa de homens, de provedores.
Vindo do mundo dos negócios (e que negócios!) Donald Trump
não dá ponto sem nó, nem faz discurso sem prévia pesquisa. Quem o vê apenas
como um palhaço de TV pode ser surpreendido com sua escolha pelos republicanos
para disputar a presidência dos EE.UU. Uma pesquisa de intenção de votos feita
recentemente na Carolina do Norte apontou Trump em 1º, dois pontos percentuais
acima de Hillary Clinton. Não sei que grau de influência essas pesquisas têm na
escolha dos partidos por seus candidatos, mas é um dado.
Desprezando os votos
das minorias Trump vai aglutinando em torno de sua pré-candidatura as amplas
maiorias. Possivelmente seus próximos alvos sejam os gays ou os ecologistas. Ou,
quem sabe, os negros.