sábado, 29 de outubro de 2011

Bossa nova






Não me entenda mal, eu gosto de bossa nova. A riqueza das harmonias, os arranjos elaborados e seus intérpretes, fizeram desse gênero musical uma referência de bom gosto e qualidade. Há melodias que chegam a doer de tão belas. E há também os poetas. Mas, como em tudo, há exceções.
No caso específico das letras encontramos aqui e ali algumas bobagens como em “Rapaz de bem”, gravação de Johnny Alf, cuja letra me parece cínica e classista ainda que possa ser interpretada como sarcástica. Também não encontro nenhum valor poético em “O pato”, que se fora música infantil teria sua graça. Não é. No tempo de sua gravação, música infantil era na base dos três porquinhos e chapeuzinho vermelho. Pior é a letra de “Lobo mal” carregada de um machismo, que mesmo para a época de seu lançamento, era rançoso. Mas temos pérolas como “Chega de saudade”, faixa título do primeiro disco de João Gilberto.
No começo de carreira o cantor bahiano ainda não transformava samba em mantra e deu á essa peça uma interpretação intimista como requeriam letra e música. A primeira estrofe é deliciosamente triste


“Vai minha tristeza e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece que ela regresse
Por que eu não posso mais sofrer”


Segue o poeta em seu pedido


“Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza, é só tristeza
E a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai”


Da tristeza nasce o sonho do futuro idílico


“Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca”


Peraí... beijinhos?  Depois de tanto sofrimento, beijinhos?
Os beijinhos e os peixinhos traem o poema.


E talvez esteja aí o ponto fraco da bossa nova. Ela não tem paixão. Amor, ternura, afeto, sim. Mas paixão não. Isso se vê pelo excesso de “inhos”. O cantinho, o barquinho, o poetinha, o banquinho. Se a isso juntamos os peixinhos e os beijinhos...
Com diminutivos não se fala de paixão. Paixão, meu amigo, precisa de superlativos.






O juiz e o vernáculo

                                              



Era véspera de carnaval. O advogado do governador de Brasília impetrara junto ao Supremo Tribunal Federal, um “Habeas Corpus” para resgatar seu cliente da” masmorra”, que era como o causídico denominava um quarto com t.v  e frigobar em que estava preso o Arruda. O juiz que julgaria o pedido seria o Ministro Marco Aurélio. Temi. Afinal o grande magistrado, a quem devemos a criação da TV Justiça, é conhecido pela forma como ataca qualquer restrição à liberdade de ir e vir assim como não admite qualquer medida que reduza o direito à ampla defesa. “Mas isso está certíssimo” Você dirá. Sim, devo concordar que estes princípios devem nortear qualquer sociedade que queira gozar do estado de direito. Mas tem um senão.
Aqueles que merecem o douto voto do ilustríssimo ministro são apenas os que, através de seus bem remunerados advogados, conseguem levar seus pleitos ao tribunal supremo, justiça dos ricos e riquíssimos. Para preso pobre, algemas, cadeia e a cara estampada no programa do Datena.
Mas, surpreso, leio no “Congresso em foco” que Sua Excelência denegara o pedido em substancioso voto. O panetônico governador passaria o carnaval preso.
Com uma alegria sádica passo a ler a íntegra do parecer do Ministro Marco Aurélio e lá pelas tantas me deparo com a expressão “veio à balha.” O ministro errara tão grosseiramente? Para ter certeza fui ao “Aurélio” que tenho no computador  e constatei que só havia a expressão “à baila.” Quanto “à balha,” nada. Só poderia ter sido erro de impressão,ou algum secretário distraído   Fiquei pensando como pode um documento de tamanha importância vir à público com semelhante falha. O ministro estaria  indignado.
Passou o tempo e eis que um dia assistindo a um julgamento daquela colenda corte, escuto o nobre magistrado cometer o mesmo erro, desta vez de viva voz. Mais duas ou três vezes ouvi de Sua Excelência a mesma dicção. _Como pode? Perguntavam meus botões. Eu dava de ombros.
Semanas atrás, numa dessas tardes frias do sul, acompanhando o julgamento de um dos membros de nossa elite, ouço novamente e dos mesmos doutos lábios a citação e antes que pudesse retirar meu riso galhofeiro do rosto, o ministro aclarou:_“A expressão é vernacular , Balha com L H “ Desta vez, computador desligado, corri ao meu velho dicionário Lep edição de 1964 e lá estava;” à balha ; a propósito, vir à balha fazer-se lembrado de modo oportuno”. O Ministro estava certo e o “Aurélio” errado. E eu também e algum outro que por certo questionou o Ministro fazendo-o aclarar, em público, o uso da locução.
Ficou a lição. O meu desconhecimento não é prova da inexistência de nada.




sábado, 22 de outubro de 2011

Fatos do futebol brasileiro







                   Até 1958 os torcedores brasileiros viviam com complexo de cachorro vira-latas principalmente depois da derrota de 50. A imprensa esportiva da época havia plantado no inconsciente coletivo, a idéia de que estávamos fadados á derrota por sermos um país mestiço. Quem se interessar em pesquisar os jornais dos dias e semanas seguintes àquele 16 de julho de 1950 se deparará com o mais atroz racismo. Seríamos eternos perdedores por questões “antropológicas”. Mas veio 58.
Nelson Rodrigues escreveu que depois da vitória em gramados suecos, qualquer costureirinha de subúrbio se sentia uma Joana D’Arc. Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos haviam nos redimido. Em 62 fomos mais uma vez imbatíveis e quando chegou 70 o mundo viu a maior seleção de futebol de todos os tempos desfilar nossa incomparável destreza. O resultado da final contra os italianos conta bem a história daquela copa: 4 X 1 irretocáveis. Depois ainda vieram os títulos de 94 e 2002. Era de se esperar que nossa imprensa especializada botasse a viola no saco e se penitenciasse pela injustiça cometida com nossos craques de 50. Mas nada disso aconteceu.
Hoje, que todos os mais importantes campeonatos da Europa são mostrados pela televisão, nossa crônica esportiva voltou à velha xenofilia. Nossos jogadores, nossos técnicos, nossa arbitragem, nosso campeonato, tudo enfim, é tido como de qualidade inferior. O jogador só é bom se joga na Europa ou se por ele há interesse de algum clube europeu. Chega-se a afirmar que tal ou qual jogador aprimorou-se por jogar lá. É o caso do Anderson que jogava no Grêmio. De meia atacante, driblador e refinado, foi reduzido à mero cabeça de área no futebol inglês. Mas os cronistas dizem que lá ele melhorou e torno-se um jogador completo. Nada mais falso. Basta ver quantos goals ele marcou na última temporada inglesa. Foram poucos, pouquíssimos. Não sei como um jogador pode ser completo se não marca goals.
Mas as vezes essa mania de depreciar nossos craques chega às raias do absurdo. Outro dia ouvi de um jornalista esportivo que era convidado do programa Redação Sportv que o jogador brasileiro chutava mal. _” Como chuta mal o jogador brasileiro” enfatizava.Não foi contestado por outros jornalistas presentes.
Se este senhor se ativesse aos fatos constataria que só dois homens no planeta marcaram mais de 1000 goals, Pelé e Romário. Que Pelé marcou só de cabeça mais goals que Maradona marcou usando pés e mãos. Que em 2002 Ronaldo foi às redes mais vezes que toda a seleção da Espanha em 2010. Que Ronaldo é o maior artilheiro da história das copas. Que Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká foram eleitos como melhores do mundo nos últimos tempos. Isso sem falar em Marta, por cinco anos consecutivos, considerada a melhor futebolista do mundo. Tudo isso chutando mal?
Mas se isso fora pouco nossa seleção disputou todas as 19 copas mundiais ficando por 10 vezes entre as quatro melhores. Em sete delas decidindo o título e conquistando cinco taças. Mais que qualquer outra seleção do planeta. Sem contar que os dois melhores resultados de Portugal em mundiais foram conseguidos quando os portugueses eram dirigidos por técnicos brasileiros, Oto Glória e Scolari. Na única vez que a Jamaica foi ao mundial, seu técnico era René Simões. Parreira é o técnico que mais copas disputou. Didi e Tim comandaram o Peru nas melhores participações da seleção andina em mundiais,70 e 82. São fatos que contam um pouco da história do futebol do Brasil.
Em dezembro o Santos enfrenta o Barcelona pelo mundial inter-clubes e lembrando das duas últimas vezes que clubes brasileiros enfrentaram o campeão europeu, estou a fim de casar um dinheirinho nos meninos da vila. Alguém se habilita?

 



















sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Corrupção

Na convenção do PSDB que oficializou o nome de José Serra como candidato do partido para a disputa presidencial passada, ouvimos da jornalista Eliane Catanhede, que falava ao vivo para o jornal das dez da Globo News, que se tratava de um evento de massa, mas “uma massa cheirosa”.
Esta pérola de preconceito está no youtube para quem quiser ver por toda eternidade
O que surpreende não é o reacionarismo da frase, mas a grosseria. Sempre se espera que mesmo as mentes mais conservadoras e preconceituosas tenham um mínimo de recato e compostura quando exercem o ofício de jornalista. Mas o fato aconteceu  quando a jornalista falava de improviso, sem um texto que disfarçasse  sua visão de mundo. No fundo foi melhor assim. Os telespectadores puderam ver realmente de que tratava a reportagem.
Os grandes meios de comunicação no Brasil e do mundo gostam mesmo é de massas cheirosas, comportadas. Vê-se isso muito claramente na cobertura que recebem as manifestações que tomam conta da Europa nos últimos meses.
Enquanto em Londres os manifestantes eram tratados como vândalos e marginais por terem promovido uma quebradeira, os jovens cheirosos e charmosos de Madri eram mostrados como indignados cidadãos. As reportagens de Londres traziam saques e agressões, enquanto os espanhóis eram entrevistados sobre os muitos comitês que haviam formado.( Tinha comitês demais para uma manifestação que queria mostrar-se como espontânea e sem lideranças.) Embora pacífica e ordeira  também foi reprimida pois estava atrapalhando o trânsito e o comércio no centro da capital. Não resistiram mais que uns dias.
Se sobre a Inglaterra nada foi dito sobre os fatores econômicos e sociais que deram origem ao quebra-quebra, no caso espanhol nada se questionou sobre a participação política daqueles que ali se manifestavam em pleno dia de pleito. Deu vitória folgada da direita nas eleições regionais. Embora indignados os eleitores daquele país estão prestes a dar nova vitória ao PP nas eleições para o parlamento nos  próximos dias.
Agora é a vez da Itália. No último fim de semana os manifestantes quebraram tudo em repúdio as novas medidas de arrocho que serão implementadas  pelo governo de Berlusconi, mas, delas pouco se falou. Nas reportagens dos jornais televisivos apareceram pessoas chorando, vitrines quebradas e carros incendiados. Seria até incoerente se a Globo ou a Bandeirantes fizessem restrições a essas medidas que os governos de Portugal, Itália ou Espanha estão tomando, afinal são as mesmas medidas que eles preconizam para nós: privatizações, diminuição dos gastos sociais, precarização do emprego e moleza para os bancos para evitar “uma crise sistêmica”.
Também no terreno doméstico a massa cheirosa ganha espaço nos noticiários com as manifestações anti-corrupção.. Senhoras com vassouras verde-amarelas são mostradas como símbolo da indignação popular frente aos desmandos e à roubalheira generalizada. Mesmo em seus trajes de faxina estas senhoras são chiques. Parece que saíram do movimento “cansei” promovido por João Dória e que esteve de moda no ano passado. Se esse movimento estava restrito à fina flor da burguesia paulista e tomava chá nos salões, o dos dias de hoje incorpora a classe média e vai às ruas. É supra-partidário, ou seja, é anti-governo.Após o último ato público que aconteceu no feriado de 12 de outubro, vi a entrevista de um dos “organizadores” no Jornal da  Cultura. Tratava-se do diretor da Ong  Contas Abertas, que ressaltando o aspecto supra-partidário do movimento, citou o fato de um manifestante que empunhava uma bandeira do Psol ter sido expulso e vaiado.. Quando questionado sobre o que origina as manifestações, respondeu que não é normal que quatro ministros sejam demitidos por corrupção em poucos meses de governo e isso levou à indignação  nossa população.
Ora, isso deveria ser visto como algo positivo. Mostra a disposição da Presidenta  de não tolerar tais fatos e em vez de manifestações anti-corrupção deveriam acontecer atos de apoio à Presidenta.. Mas não é disso que trata o movimento. Ele não quer acabar com a corrupção, quer ser contra o governo e o que ele tem de melhor que são os projetos sociais e a inserção de milhões de brasileiros na vida cidadã.
Claro que a maioria das pessoas que vão às manifestações o fazem de boa fé, imbuídos das melhores intenções. Mas estão servindo de massa de manobra para aqueles que plantam nas redes sociais esse movimento “espontâneo” A oposição de direita está adorando. Poupa-lhe do ridículo de empunhar uma bandeira contra a corrupção, único discurso possível nesse momento, já que os pontos negativos do governo passado e do atual, (reforma da previdência, manutenção do superávit  primário, submissão às regras do mercado especulativo etc) fazem parte do seu programa. Com as ruas ocupadas pelos indignados, a oposição pode restringir sua falação às tribunas do congresso, pois lá, mesmo ACM  Neto e Agripino Maia podem fazer-se de vestais. É do jogo.
O fato é que as pessoas de boa fé que acodem às manifestações anti-corrupção acreditam que passando pito nos corruptos vão tocar-lhes a consciência. Ou que denunciando-os vão fazer com que eles percam as eleições. Será que preciso citar o nome de um certo deputado paulista eleito e reeleito inúmeras vezes mesmo tendo contra si vários processos no supremo e um pedido de captura expedido pela Interpol?
Contra a corrupção somos todos, inclusive os corruptores que gostariam de desfrutar de benesses sem ter que pagar por elas ou pelo menos pagar propinas mais módicas.
Lá pelos anos 50, havia um político mineiro que respondia pela alcunha de Quinzinho (em mineirês; Quinzim). O apelido não era devido a ele se chamar Joaquim e sim por cobrar 15% de propina quando todos os outros corruptos cobravam 10%. O homem estava à frente de seu tempo.




Vila Isabel

                                                 


Quando me mudei para Buenos Aires cheguei lá crente que era Boca. Era o óbvio. Futebol para mim sempre teve uma conotação popular e não tinha o menor sentido torcer pelo River embora, como mineiro, tivesse mais lembranças do time de Nuñes .Afinal foi um jogador do River quem marcou o primeiro goal  do Mineirão em sua inauguração que contou com o time porteño.
Mas não. Mesmo que suas origens no Brasil nada tenham de popular, vejo no futebol uma expressão de massas, de maiorias. Não vejo sentido algum em alguém torcer pelo Fluminense ou pelo Cruzeiro ou ainda pelo São Paulo quando há o Galo, o Flamengo, o Vasco ou o Coríntians para torcer. Não entendo alguém ser tricolor, das Laranjeiras ou do Morumbi ou, pior ainda, de Porto Alegre. Desconfie sempre de times tricolores.
Mas como ia dizendo, cheguei em  Bs As  achando que era Boca até o dia em que acompanhava pelo rádio ( naquela época não havia futebol na televisão argentina, Só um vídeo tape domingo de noite e mesmo assim resumido) o jogo Boca Juniors x  Racing. O primeiro tempo terminara 2 x 0 para  los bosteros mas no segundo tempo veio a virada. O time de Avellaneda  tinha um ataque maravilhoso com Medina Bello então com dezenove anos, Totti Iglesias e Gualter Fernandes. No meio campo imperava o uruguaio Ruben Paz alem de contar com “El Pato” Fillol no goal e Nestor Fabri na zaga. O técnico era Alfio “Coco” Basile.
E foi “El Totti” Iglesias quem comandou a virada metendo três goals. Os três de cabeça. Pronto, eu era racinguista. Acompanhei o time, pelo rádio, durante toda a temporada que o deixou em terceiro ou quarto lugar. Nesse ano o Racing ganhou um torneio continental em cima do Cruzeiro. Bom demais da conta.
Nesse caso lembro com precisão quando me tornei torcedor do Racing durante minha estada argentina. Mas houve outras conversões das quais não tenho idéia como se deram.
Quando deixei de acreditar que era mangueirense e me converti às cores de Vila Isabel? Não sei. Só sei que hoje torço pela Vila no desfile das escolas.  Não é por ser do bairro de Noel, afinal todas as escolas tem  grandes e admiráveis nomes ligados às suas cores. A Mangueira de Cartola, a Portela de Monarco o Império de D. Ivone Lara. Etc, etc e etc. Tampouco há, como no futebol, grandes diferenças nas origens das agremiações. Todas nasceram no seio do povo mais humilde do Rio de Janeiro. Nos morros e periferias. A Mocidade nasceu de um time de futebol que depois virou bloco e depois escola de samba, isso lá na Vila Vintém.
Freqüentei os ensaios da Vila por algum tempo, mas também ia á quadra da Portela quando esta se hospedava em Botafogo. Minha tia foi vizinha da "Em cima da hora" em Cavalcanti e de sua casa escutava-se a bateria da escola. Tenho aproximação afetiva com outras escolas por seus compositores que admiro. Mas torcer, torço pela Vila.

Globalização

                                      

                                         




Nosso ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso não é homem mal humorado. A carranca que hoje ostenta é postiça, faz parte da indumentária de sábio, professor e prócer. Na verdade FHC é homem de riso fácil se a anedota é boa.. Mas o que a vaidade, sua marca registrada, lhe esconde é que ele não foi feito para a graça. Isso acontece.     
Muitos de nós somos como ele. Sabemos receber, mas, não possuímos o dom de dar quando de graça se trata. Muitas vezes não nos damos conta disso e o resultado são os apresentadores de televisão. Como explicar o Marcelo Tass senão por esta ótica?
Todos lembramos os discursos de improviso de FHC principalmente quando eram feitos diante do “povão” (a turma do Fernando deve usar esta expressão).Sempre lhe escapava a mão e no dia seguinte a imprensa tinha do que falar. Ele já chamou aposentado de vagabundo, e em uma favela disse que vida de rico era muito chata e que vida de pobre é que era divertida. (Qué trocá dotô?) Mas, as vezes, ainda que sem nenhuma sutileza, dizia lá suas verdades. Foi assim que uma vez ao referir-se não me lembro bem a que, disse que o brasileiro era muito caipira.A frase não carregava nada de pejorativo mas como era véspera de campanha política, muita gente esqueceu o contexto e demagogicamente o atacou.
Mas tinha, o então presidente, muita razão. È só ligar a televisão ou ler os comentários postados na internet para dar-lhe crédito. Brasileiro é muito caipira e outros povos também o são. Veja os americanos e sua relação com o resto do mundo. Claro que eles vão pro lado da soberba e acreditam que se o mundo não for como sua aldeia é porque o mundo está errado. Nós vamos na direção oposta. Tanto é assim que a classe média cunhou uma expressão que é o cúmulo do servilismo cultural. Basta que haja um mínimo de criatividade, inventividade ou visão independente por parte de brasileiros que escuta-se a frase: _ “Se só tem no Brasil e não é jaboticaba, algo está errado”Mais tolo que isso só mesmo a visão que nossas elites e classes médias têm da  globalização
Se Santos Dumont, Carlos Chagas ou Manuel de Abreu vivessem os nossos dias seriam vítimas da frase estúpida. Mas tem coisa pior. É o vocabulário.
Dia desses, minha mulher e eu resolvemos que tínhamos que nos atualizar e nos dispusemos a assistir o rock in rio. Sintonizamos justamente no intervalo entre duas apresentações e pudemos ouvir a entrevista que era feita à Claudia Leite direto do “back stage’. Gostaria de reproduzir o diálogo, mas, do inglês só tenho vagas noções.A cada duas frases as entrevistadoras ou a entrevistada  metiam uma expressão nesse idioma . O triste é que apenas substituíam  palavras e frases comuns em português por outras em inglês.Assim que bastidores virava back stage. Mudamos de canal para ver um programa que tratava de novos editores que haviam feito coletâneas dos contistas da geração “00”. Se por um lado o linguajar fosse um pouco melhor, os conceitos iam na mesma direção. E era gente de letras. Para essa gente, globalização é engolir sem mastigar qualquer coisa que venha de fora,de preferência em idioma inglês. Não há troca, não há o conceito antropofágico de Mário e Oswald.  É engolir e pronto.Mas você me dirá que sempre foi assim e talvez até cite Noel que lá nos anos trinta já nos alertava que “o cinema falado é o grande culpado da transformação”. Pode ser, mais hoje está demais. E parafraseando o Poeta da Vila eu diria que a tv à cabo é a grande culpada pela tolice nacional. E que alô boy, alô Johnny só pode ser conversa de internet.        
                           

sábado, 15 de outubro de 2011

Motivos

                                                  


Dois motivos me levaram a fazer este blog. Primeiro porque gosto de conversar e segundo porque meu computador completa maioridade este ano e já estava na hora de assumir responsabilidades antes que se torne incompatível com o resto do mundo tecnológico. Minha mulher diz que não é para tanto e que a placa mãe já foi trocada etc e tal. Não vou discutir com ela por pouca coisa, mas, acho que o que temos é uma placa avó. Seja como for, tem me servido esses anos todos. Ainda que com fases rebeldes. Coisas da adolescência. Alguns meses atrás, só pegava no tranco. Acendia quando queria e se queria conectava a internet.
Os caras que nos venderam o aparelho lá no século passado, são os responsáveis pela sua sobrevida. Espécie de médicos de família. Não pretendo troca-lo tão cedo. Enquanto acenda as luzezinhas vai continuar trabalhando.
Quando digo que não pretendo troca-lo, não é por apego nem nada pelo estilo: é dureza mesmo. Alem do mais não sou consumista nem novidadeiro. Se todos tivessem os meus hábitos de consumo o mundo teria menos lixo e muito mais gente desempregada.
Por isso é que se você pensa que eu vou fazer pregação anti-consumo, aqui ó! Não se pode falar nisso sem pensar em como dar emprego a todos que ganham a vida graças ao consumismo exagerado de nossos dias.
Até a década passada a zona franca de Manaus tinha na montagem de televisores, o carro chefe de sua economia. Hoje são os aparelhos de telefone celular. Desses que as pessoas trocam a cada seis meses e conforme a classe social, possuem dois, três e até mais. Já temos mais linhas telefônicas de aparelhos móveis do que habitantes. Já imaginou se esta gente põe a mão na consciência e deixa de ser babaca? O desemprego se alastraria nesse país. Pois se por um lado somos exportadores de produtos primários, somos fabricantes e consumidores de bens de consumo e bens duráveis. Bens de produção ainda não são nosso forte.
Mas um dia a casa cai. O planeta não tem capacidade de gerar tantos recursos naturais quanto se demandará em pouquíssimo tempo com o aumento de consumo dos países em desenvolvimento e o a manutenção dos mesmos níveis de apropriação dos países desenvolvidos. O que fazer?
Na minha humilíssima opinião não há outra saída senão um retorno ao campo. Produzir alimentos para suprir postos de trabalho que serão extintos seja pela baixa da demanda devido às crises econômicas, seja pela diminuição consciente do consumo. A geração de emprego no campo exige menos investimento e emprega mão de obra de todo grau de qualificação. Mas aí chega-se ao impasse. Terra. Para enfrentar os problemas do século vinte e um, o Brasil precisa resolver seu problema do século dezesseis. Concentração fundiária. E aí, meu amigo, só com reforma agrária profunda e radical.
Não é mais possível ver as melhores terras do país cobertas de plantio de soja para exportação. De cana de açúcar para produção de combustível. O que necessitamos é produzir alimentos para o mercado interno e termos excedentes para exportar. Sempre haverá demanda por alimentos por pior que seja a crise. Há um continente inteiro por alimentar e não estou falando da Europa.
A Cristina Kirchner lançou um programa de desenvolvimento tecnológico agrícola na Argentina para fazer daquele país o maior exportador de grãos do mundo nos próximos vinte anos. Se seu plano incorpora a idéia da reforma agrária eu não sei. O que sei é que aqui os produtores rurais se vangloriam dos constantes recordes de produção e de terem sido a âncora verde da economia brasileira nos últimos tempos. Isso quando não estão chorando por mais e mais recursos públicos e políticas de incentivo.
Hoje quando se discute a reforma política, que alguns políticos chamam de mãe de todas as reformas, fico pensando quando haverá no congresso brasileiro, menos latifundiários e mais trabalhadores para que enfim, se discuta uma verdadeira reforma agrária que possibilite ao país acabar com as capitanias hereditárias e entrar no século vinte e um.

Andrezinho






Temos hoje no Brasil uma bela safra de jogadores de futebol. O time campeão mundial sub-20  já seria uma boa base para a olimpíada de Londres sem contar com nomes como Pato, Rafael,. Renan Oliveira etc. Se formos pensar em 2014 as perspectivas também são boas. Neymar, Ganso, Casemiro e Lucas já são jogadores testados em seleção de base e em seus clubes Todos grandes jogadores, E tem mais.Muito mais.
Agora, jogador completo só tem um. É o Andrezinho.
O engraçado é que ele nem sequer consegue ser titular absoluto de seu time e muito menos ser citado como provável convocado para a seleção. A imprensa o ignora. O máximo que ele merece é um discreto elogio mesmo depois de ter comido a bola como fez no jogo contra o Atlético no qual foi substituído lá pelos trinta minutos do segundo tempo. Substituição inexplicável. Naquele momento do jogo ele ditava o ritmo do meio campo. Como sempre dava continuidade a todas as jogadas que passavam pelos seus pés. Como sempre aparecia livre para receber a bola que havia sido roubada por um companheiro. Errou pouquíssimos passes embora seja o tipo de jogador de dois toques, daqueles que antecipam as jogadas. Seu futebol é simples, instintivamente foge da marcação, pois é jogador brasileiro, gosta de jogar livre e evita o corpo a corpo. Defende com persistência, marca bem, passa como poucos e aparece para finalizar. Como se isso fora pouco, tem na bola parada seu forte.
Mas como é que ninguém vê? Não sei. Suas qualidades são óbvias. Tinha razão o Nelson Rodrigues quando dizia que só os sábios e os santos vêem o óbvio. Eu como não sou sábio, sinto-me santificado. A única ressalva que pode haver quanto à minha futura canonização é que talvez  Andrezinho não tenha um empresário mais astuto ou um assessor de imprensa mais loquaz. Isso significaria que todos vêem o óbvio, mas não há interesse em divulga-lo. Falta algo que o ponha em evidência. Talvez receber a imprensa em casa para longas entrevistas exclusivas, daquelas que enchem lingüiça nos canais esportivos. Jogar muita bola não é suficiente nesses dias de super-exposição da imagem em que vivemos.
Seu caso me faz lembrar outros jogadores que percorreram o mesmo caminho de muita bola e pouca exposição nos meios de comunicação. Lembram do Uildemar? Pois é. Ele passou uns dois anos no Flamengo sem perder um único jogo. O problema é que nem sempre jogava. E quando não jogava o Flamengo perdia. A imprensa do Rio preferia ridiculariza-lo por seu jeito interiorano e tímido .Outro nome  que me vem à memória é o de Carlos Alberto Santos que na  mesma época atuava pelo Botafogo. Este, pelo menos teve uma convocação para a seleção num período de transição, logo após a demissão do Falcão. Mas a imprensa achava engraçado seu jeito de falar um pouco empolado e o apelidou de “orador da turma”. A piada e a chacota serviram para o esquecimento de ambos.
Embora o Andrezinho não seja vítima desse tipo de anedota, ele tem em comum com os outros jogadores citados o fato de atuar na mesma posição e com o mesmo brilhantismo.


Inimigo público

                                       


Cada época escolhe seus inimigos. Os eleitos são seres humanos que tem algo diferente de outros seres humanos.  Assim foi na Alemanha nazista Lá os judeus tornaram-se a encarnação de todo o mal. Foram culpados por tudo. Desde o desonroso acordo de paz que pos fim à primeira guerra, até o desastre econômico que vivenciou o país por aqueles anos. Hoje os árabes ocuparam esse lugar. Na Europa e nos EE UU qualquer árabe ou outro muçulmano é perseguido como agente terrorista.
A proibição do uso do véu em locais públicos na França vem acompanhada de um discurso libertário e de defesa da dignidade da mulher árabe. Nada mais falso. Nada mais falacioso.
Que eu saiba, ninguém contesta o papel a que são relegadas as religiosas católicas no âmbito desta religião. Tampouco vê nos crucifixos cristãos ou nos kipás judeus, nenhuma forma de ostentação religiosa. Ademais entre todas as comunidades árabes que residem na Europa, o número de mulheres que fazem uso do véu, do chador  ou da burca , é mínimo. Não é boa prática legislativa, legislar pela exceção.
No Brasil nem nos passa pela cabeça restringir a liberdade das pessoas vestirem-se de acordo com suas tradições religiosas ou culturais. Aqui, como em outras partes do mundo o inimigo público é outro. É o fumante.
Eu disse o fumante? Pois disse bem. Não é o tabaco e seus malefícios que é combatido. É o fumante. No começo da campanha anti-fumante ainda prevalecia o bom senso. Estabelecimentos como restaurantes e bares, foram obrigados a criar espaços separados destinados aos não fumantes, a propaganda de cigarro foi proibida, alem de outras medidas bastante racionais. Mas parou por aí. Veio a sanha persecutória.
Começando por São Paulo e Rio o ato de fumar foi proibido em qualquer local público fechado. Os comerciantes que pouco tempo atrás haviam adequado seus estabelecimentos para acompanhar a lei que privilegiava a separação entre fumantes e não fumantes, perderam o investimento. E o que alegam os governantes proibicionistas?
_ Que a fumaça que emana dos cigarros não respeita divisões de espaço e torna os não fumantes em fumantes passivos. Ora, a pelo menos vinte anos que ouço a expressão “fumante passivo” e não conheço nenhuma prova científica disto. E não conheço por que não existe. Tempo houve para que fossem produzidas. Salta aos olhos a falta de lógica, afinal os fumantes também são fumantes passivos. Estariam expostos aos dois males. Ou seja: já morreram.  Os defensores da idéia de fumante passivo, falam de consenso médico. Se eu fosse citar todos os consensos da medicina que caíram por terra nos últimos anos, ficaria aqui até amanhã escrevendo. Mas também dizem os governantes defensores da saúde dos cidadãos:
_Que as doenças advindas do tabagismo, oneram o sistema público de saúde. Tão preocupados estão com o tema que esquecem que saneamento básico evita um número sem fim de enfermidades. Mas sai caro. Demagogia é de graça. Seguindo a lógica de proibir o que onera o serviço público de saúde pago pelos cidadãos, vão acabar proibindo o bolinho de bacalhau e o torresmo.
Tão logo passaram a vigorar as leis cerceadoras de liberdade, assisti a um debate sobre o tema na Globo News entre uma senhora que defendia a proibição e advogando contra estava  Pondé o filósofo televisivo. Os argumentos de uma e outro não convenciam ninguém assim como os meus talvez não convençam. Mas, ao menos senti-me companheiro de armas do filósofo das estrelas. Já é algo.