quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Demagogia



Em fevereiro de 2013, o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, resolveu não liberar a verba pública de 1 milhão de reais para o carnaval da cidade. Dizia o prefeito que o dinheiro seria aplicado na saúde. Houve aplausos gerais dos usuários das redes sociais e de outros bocós. A notícia voltou a circular no carnaval de 2014 como se fosse novidade. Possivelmente será requentada no carnaval de 2015 e outros doentes do pé, ruins da cabeça e evangélicos em geral aplaudirão mais uma vez o prefeito.
Para qualquer um que saiba fazer as quatro operações, fica claro que 1 milhão de reais investido na saúde de um município com mais de 300 mil habitantes é dinheiro de pinga. Se o prefeito resolvesse diminuir o número de secretarias, cortar pela metade seu salário e de seus secretários e acabasse com os cargos comissionados de sua administração, a economia para o erário do município seria muito maior. Mas isso nem deve ter passado pela cabeça do prefeito de Petrópolis. Além do mais, toda cidade que promove carnaval aufere ganhos importantes. Recife, por exemplo, fatura mais de 700 milhões nos três dias de Momo. Será que Petrópolis não arranjaria  uns 2  ou 3 milhões com a brincadeira?
Bomtempo, que ocupa pela terceira vez a prefeitura da cidade serrana, por pouco não pôde se candidatar. Sua candidatura foi vetada pelo TRE do Estado do Rio em decisão unânime (5 X 0). O homem respondia, até a data de sua inscrição para o pleito de 2012, a 107 (cento e sete) processos no TCE. O tribunal rechaçou duas de suas prestações de contas e o TER o considerou ficha suja.
O então candidato recorreu e o caso foi parar no TSE que anulou a decisão do órgão eleitoral fluminense. Não o considerou inocente, apenas concluiu que o parecer do TCE era um parecer técnico que poderia ou não ser aceito pela Câmara dos Vereadores a quem caberia a última palavra sobre a rejeição ou aprovação das contas pouco ortodoxas de Bomtempo. Acontece que todos sabemos como funcionam as câmaras de vereadores.
O TCE do Rio, não é nenhuma flor de austeridade, pelo contrário, e mesmo assim reprovou as contas de Bomtempo. Sem embargo, a população de Petrópolis deu-lhe mais um mandato e a demagogia deslavada e pueril do prefeito convenceu os mui politizados das redes sociais.






terça-feira, 28 de outubro de 2014

Rescaldo das eleições


Um colunista social do interior de São Paulo,  publicou que domésticas deveriam ser trancadas em casa no dia da eleição. O “jornalista” também destilou preconceito para com porteiros e nordestinos. O jornal onde trabalhava, querendo tirar o seu da reta, depois da repercussão negativa da “matéria”, demitiu o sujeito.
Até aí nada de mais, afinal não é o primeiro idiota que escreve coisas assim. O Mainardi, o Jabor e outros meninos levados são mestres no assunto, apenas não são tão toscos, (Minto; o Mainardi é tosco).  O engraçado do negócio foram os comentários postados nas redes sociais. Num deles, um leitor que se mostrava indignado com o “texto” do colunista, disse que o escriba tinha cara de pedreiro.  Pois é, no afã de condenar o preconceito do outro, o cara me manda uma dessas.
Mas, pelo menos para mim, a surpresa maior dessas eleições foi descobrir amigos virtuais, conhecidos e parentes simpatizantes de Malafaia, Sherazade e Bolsonaro. Não foram poucas as postagens que tinham como origem as páginas desses personagens.

O mais pitoresco, no entanto, foi o grande números de senhoras direitistas que ameaçaram deixar o país caso Dilma fosse reeleita. Mesmo se o tio do Aécio entregasse a chave do aeroporto de Cláudio, não haveria como embarcar tanta gente. Seria o caos aéreo com uns meses de atraso. Mas, claro, elas não irão. Essas pessoas não estão dispostas a mudar velhos hábitos como o de ter quem lhes lave as calcinhas e vá buscar seus brioches pela manhã. E isso só tem aqui, nessa sociedade herdeira do escravismo, que essa gente quer perpetuar.

sábado, 18 de outubro de 2014

Muita informação e pouco uso



Há meses que venho lendo um livro sobre história do Brasil. São quatro volumes e eu ainda estou na metade do terceiro. Não que a obra seja enfadonha ou de leitura difícil. Pelo contrário, é obra das mais interessantes. O motivo da demora em terminar o livro é que  ele está no computador, não é livro de papel e eu sou uma presa fácil da internet.
Todo dia faço o mesmo: abro o livro, chego na página em que havia parado e vou dar uma olhadinha no facebbok. Pronto. Me interesso pela nota sobre o seqüestro dos normalistas de Iguala, vou  ver o mapa da região, busco outro jornal para confrontar versões, vou para a wikipedia atrás de alguma biografia e duas horas depois estou lendo uns poemas de Octavio Paz. Sempre a mesma coisa. Há muita informação ao alcance da curiosidade e da ociosidade. E eu, um indisciplinado nato e contumaz, me deixo levar.
Talvez parte dessa indisciplina se deva a que eu seja, como todo mundo de minha geração, creio, um fascinado pela internet e a possibilidade de adquirir  informação instantaneamente. E todo dia tem novidade nesse mundo velho sem porteira. Quem viveu a maior parte de sua vida sem isso sabe do que estou falando. É irresistível.
Mas há algo estranho. Se há tanta informação disponível, por que há tanta ignorância sobre temas corriqueiros, sobre fatos que aconteceram num passado tão recente?
Fala-se da corrupção nos governos petistas como se ela fosse a maior de todos os tempos ou que tivesse nascido junto com a administração do PT. Esqueceram-se das privatizações? Das denúncias? Esqueceram-se do Proer? Já não lembram do 1% do PIB que foi doado ao sistema financeiro?  Da pasta rosa do ACM? Das contas CC5? Da desvalorização de real? Dos bancos que fizeram operações gigantescas na véspera do anúncio da medida?
Nada disso que digo é difícil de ser visto, está tudo na internet. Os jornais da época, as capas de Veja, que a cada semana do governo FHC trazia uma denúncia de corrupção, desvio, superfaturamento e tráfico de influência. Tá tudo lá. De fácil acesso. De mão beijada.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Junho acabou em outubro



Depois de abertas as urnas constatou-se o tamanho do conservadorismo dos eleitores brasileiros. É certo que os evangélicos não conseguiram ampliar sua bancada como imaginaram, mas isso foi devido, creio, à sua própria incompetência.
Os pastores, que estavam divididos por todos os partidos, como candidatos ou apoiadores, atiraram para todos os lados e pouco acertaram. Um exemplo dessa falta de estratégia, foi a postura de Malafaia que apoiava Everaldo, passou pelo colo da irmã Marina e agora está com Aécio.
Outro motivo da votação aquém das expectativas dos pastores e bispos de araque foi a apropriação do discurso homofóbico, moralista e fanático por outros candidatos não afiliados às seitas. A prova disso foi Levy Fidélix, que conseguiu superar Everaldo no quesito escrotidão durante os debates dos candidatos à presidência.
Os eleitores também acharam de dar voz nos legislativos estaduais e no Congresso Nacional aos representantes da bancada da bala. Policiais, ex-policiais civis e militares e outros aprendizes de Bolsonaro, se elegeram aos montes. O discurso do homem de bem, do bandido bom é bandido morto, do rebaixamento da idade penal e até da pena de morte, fez nas urnas o mesmo sucesso que faz nos programas policialescos da TV.
Entre os latifundiários também há motivos para comemorações. Todos os representantes das capitanias hereditárias foram reeleitos e ainda levaram alguns filhotes e afilhados para Brasília. Para abrilhantar nosso congresso, fazem sua estréia o filho de José Agripino Maia, Felipe Maia, o Júnior de Nelson Marchesam, Irajá Abreu, filho de Kátia Abreu entre outros.
 Mais uma vez as vítimas votaram nos algozes. Os trabalhadores elegeram os patrões e os camponeses deram mais poder aos ruralistas. Desde os tempos da ditadura não houve um Congresso tão conservador como o que teremos nos próximos 4 anos.
Sem inserção na sociedade, sem ouvir a voz das ruas antes de se apropriarem delas, as jornadas de protesto, que prometiam ser um divisor de águas na política brasileira, nada trouxeram de concreto.  Junho acabou em outubro.



sábado, 11 de outubro de 2014

Eu voto Dilma




Há alguns anos, li o livro “O negro no Brasil”. Creio que o sobrenome do autor é Chiavenato. Gostei do livro e recomendo. Só encontrei um senão. Na verdade, o embrião de um senão. Foi quando o autor tratou da libertação dos escravos em 1888. Diz ele que eram “apenas” 700 ou 900 mil pessoas que se encontravam naquela situação. Diante dos milhões que sofreram a escravidão durante mais de 3 séculos, o número parece pequeno. Ora, mas não são números, são pessoas. Com a intenção de destruir o mito da princesa generosa, Chiavenato (se é que esse é mesmo seu nome) diminui o impacto que a libertação teve na sociedade e, principalmente, na vida daqueles recém-libertos.
Estou longe de ver a libertação assinada pela princesa como uma benesse do poder ou das elites brasileiras. O sistema escravista do Brasil já parecia algo grotesco mesmo para as nações que se aproveitaram ao extremo da compra, venda e exploração dos negros. Ademais, as lutas travadas por quilombolas, escravos libertos e por parte da elite esclarecida, já havia posto um fim moral no escravismo do Brasil.
Mas veio a Lei Áurea e a instituição indefensável foi extinta.
Outro dia, acompanhei os comentários que Mauro Iasi, candidato à presidência pelo PCB, fazia durante os debates da Bandeirantes. Num determinado momento, Iasi fala sobre os projetos sociais e da eficácia, ou falta dela, do programa bolsa família. Diz o líder comunista que as pessoas atendidas saíram da miséria absoluta para a miséria. Reclama de políticas de longo prazo que combatam essa miséria.
Não deixa de ter razão o candidato do PCB, há que se ter políticas de longo prazo para o drama da miséria em nosso país. Mas o que é a miséria absoluta, a miséria extrema? É não ter o que comer, é comer calango e rato na caatinga, é comer o lixo das feiras e restaurantes nas grandes cidades, é mendigar todo o dia para comprar um pastel ou um pão. Miséria extrema é ver os filhos morrendo por inanição, é ter a cabeça girando pela fome, é morrer de velhice aos 40.
Não acho desprezível tirar milhões de pessoas dessa situação. Ainda que um imenso contingente de brasileiros continue a viver em condições miseráveis, sem habitação digna, sem emprego decente, sem condições de higiene, o fato de ter o que comer alimenta a esperança, dá alguma perspectiva, livra o homem, a mulher, a criança da luta por manterem-se apenas vivos.
Mauro Iasi é um sujeito dos mais corretos, um lutador, um cara que não se acomodou diante da iniqüidade existente no país. Mauro Iasi quer melhorar o Brasil para os brasileiros, para os brasileiros mais pobres, mas sua critica ao programa de governo que mata a fome é injusta. Iasi, assim como Chiavenato, se esquece que detrás dos números existem pessoas. Esquece de interrogar as pessoas que saíram da pior das condições de vida. Seu discurso é lógico, mas carece de empatia com os que passam fome.
Aqueles escravos libertos em 1888, não foram viver nenhum paraíso, pelo contrário, foram vivenciar a miséria. Mas existe maior miséria que não ser dono de si mesmo?  Hoje, os descendentes daqueles libertos e tantos outros brasileiros vivenciam a escravidão da fome e os governos do PT os tem libertado.
Ainda que não tivesse outros motivos para votar em Dilma no segundo turno, o combate à miséria extrema no país que teve início no governo Lula, e que ela dá prosseguimento, seria o suficiente.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

O voto consciente do sul e do sudeste



Em São Paulo, Tiririca, Russomano e Marco Feliciano foram os mais votados entre os que disputavam uma cadeira na Câmara dos Deputados. O maior estado da federação também mandou para Brasília, Sérgio Reis, o missionário José Olípio e o filho do Bolsonaro. Isso sem contar que entre os que não se elegeram, estão o Dr, Rey com mais de 21 mil votos, o cantor Frank Aguiar, com mais de 26 mil e ex-BBBs que juntos levaram mais alguns milhares de votos.
Os paulistas também elegeram, no primeiro turno, o Picolé de Chuchu, cuja maior façanha no comando do executivo paulista, foi deixar os paulistanos sem água.
No Rio, o campeão de votos foi Jair Bolsonaro seguido por Clarissa Garotinho. O segundo turno que irá decidir quem ocupará o Palácio Guanabara, terá Pezão, o desconhecido filhote de Sérgio Cabral Filho e Marcelo Crivela, pastor da Igreja Universal e sobrinho do proprietário da seita. Em terceiro lugar ficou Garotinho, aquela gracinha.
Os gaúchos mandaram para o senado, Lasier Martins, jornalista que fez carreira no grupo RBS afiliado à Rede Globo. Lasier ficou conhecido através da internet num vídeo em que toma um choque elétrico. Fora isso, sua trajetória como jornalista não tem maior relevância. Pouco antes da eleição, ele recebeu uma colega e concedeu entrevista. As respostas, todas clichês, estavam escritas e ele as lia sem o menor constrangimento.
 Por falar em constrangimento, o ex-jogador de futebol, Jardel, foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul com mais de 40 mil votos. O cearense sequer residia no estado e transferiu para lá seu título com o intuito de disputar a eleição. Quem assistiu a entrevista que Jardel concedeu ao pessoal do “Na chincha” do click RBS pouco antes do pleito, sabe do que estou falando.
O povo do Distrito Federal preferia eleger José Roberto Arruda, um dos poucos políticos brasileiros que foi filmado metendo dinheiro de propina nas meias. (Pelo geral, usam-se cuecas para esse fim). As pesquisas feitas antes que a justiça eleitoral o considerasse inelegível, davam mais de 60% das intenções de voto para Arruda. Depois do indeferimento de sua candidatura, Arruda  ameaçou:_"Agora sou cabo eleitoral"e meteu sua mulher como vice na chapa de Jofran Frejat que vai disputar o segundo turno.
Santa Catarina elegeu como senador, Dário Berger. O político está com seus bens indisponíveis por conta dos processos que correm contra ele. Berger foi condenado por nomeação ilegal pela Fazenda Pública e terá que pagar multa que ultrapassa 330mil reais.  Ainda assim, Berger doou 100 mil reais para a própria campanha. A doação também foi bloqueada pela justiça. Contra Berger tramitam outros processos que agora devem seguir para o Supremo logo depois da diplomação do novo senador. O segundo colocado na eleição para o senado foi Paulo Bornhausen. O sobrenome fala por si.
Paulo Hartung foi eleito governador no Espírito Santo com mais de 53% dos votos úteis. É a segunda vez que Hartung  governará o estado. Na sua primeira passagem pelo Palácio Anchieta, Hartung deixou dúvidas no Tribunal de Contas do Estado. Várias empresas que prestaram serviços ao seu governo entre 2003 e 2010, fizeram repasses a Econos, uma empresa de consultoria que tinha Hartung como sócio. Foram mais de 5,8 milhões de reais. Hoje, quem representa a empresa é José Teófilo Oliveira que foi secretário da fazenda do governo Hartung. O Tribunal de Contas também apura  as 75 viagens feitas por Madame Hartung ao Rio. Os filhos do casal moram na Cidade Maravilhosa. Não os culpo, mas as viagens foram pagas com dinheiro público.
Como se vê, votar no que há de pior da política nacional não é coisa de nordestinos.


A teoria do bundalelê



Numa entrevista, Érico Veríssimo disse que como não era formado em nada podia tecer as teorias que quisesse. A frase do grande escritor gaúcho abriu para mim o infinito. Deu-me aval. Cortou-me os últimos laços da pudicícia. Me dei conta que também não tenho uma reputação profissional com a qual me preocupar. Não zelo por nada. Posso elaborar, com o maior despudor, teorias sobre tudo.
Pois bem, minha nova teoria é que todas as teorias que tentam explicar os resultados das urnas estão erradas. Se eu tenho alguma explicação melhor? Claro que não. Não faço a mínima idéia do que leva um sujeito a votar nesse ou naquele projeto de governo. Nesse ou naquele político.
Sei sim que entre os que defendem e os que atacam o governo, existe uma enorme confusão. Tentam encaixar as preferências de mais de 140 milhões de eleitores nas suas teorias fabricadas no conforto do ar condicionado.
No mapa da distribuição de votos nota-se o que poderia ser qualificado como um bundalelê eleitoral.  Na Paraíba, por exemplo, onde Dilma foi a mais votada para presidente, os dois candidatos ao governo do estado que vão disputar o segundo turno, pertencem a partidos que fazem oposição ao governo federal. No Amapá, estado que deu mais de 51% dos votos à Dilma, dá-se o mesmo.
Minas Gerais, estado natal de Aéreo Neves, elegeu em primeiro turno, o candidato do PT ao governo do estado e deu maior número de votos à Dilma, mas elegeu o senador do PSDB.
No Acre, um dos dois estados onde Marina venceu, os dois candidatos ao governo estadual que vão para o segundo turno são Tião Viana do PT e Márcio Bittar do PSDB. O senador eleito é do PP.
Para a Câmara dos deputados e Assembléias Legislativas foram eleitos postulantes cuja única bandeira é a derrocada do PT. E o partido de Lula e Dilma teve mais de 8 milhões de votos sobre o segundo colocado no primeiro turno. No país onde a maior parte da população é pobre, os ruralistas e outros endinheirados aumentaram sua representatividade no Congresso Nacional. Teremos o Congresso mais conservador desde a república velha. O PT perdeu cadeiras nas duas casas legislativas assim como o PMDB, o maior partido da base de apoio.
O resultado dessa eleição, e acho que de qualquer outra, não tem explicação pelos manuais dos politicólogos. É bundalelê mesmo.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

BBC



A BBC é uma referência quando se trata de informação.
A forma como é administrada a BBC, deveria servir de modelo para nossa TV pública.
A BBC é isenta em suas reportagens.
A BBC é foda.
Como eu posso garantir essas afirmações? Pois é, não posso. Talvez eu tenha escutado isso de gente que respeito, por isso as tinha como verídicas e irrefutáveis.
Acontece que eu nunca tinha escutado a BBC e se tivesse não teria entendido nada, pois não falo inglês. Havia, sim, assistido uns bons documentários produzidos pela BBC e também alguns bons programas. E só.
Agora, recebo diariamente pelo facebook dois informativos daquela rede de comunicação. O da BBC Brasil e o da BBC Mundo.
E o que encontrei nesses boletins? Pouca coisa relevante. Parece que o redator do Fantástico faz bico na BBC.
Ontem, num desses boletins, li uma reportagem sobre uma senhora carioca que aos 50 anos trocou o carro por uma bicicleta elétrica. Na verdade não trocou. Deixou na garagem o bólido e vai na magrela turbinada para o trabalho quando não está chovendo. A reportagem é longa e vem acompanhada do depoimento da senhora em questão. Os problemas da mobilidade urbana me interessam, mas não a vida alheia. A abordagem parecia mesmo coisa do Fantástico.
Outro informe, também publicado ontem e intitulado  “ Contratar pessoas inteligentes pode ser mau negócio, diz especialista”, me cativou. Claro, não podia ser simplesmente uma apologia à burrice, ali devia ter coisa. Mas não tinha. Era apologia à burrice mesmo. O autor do texto, que é professor de estratégia e liderança, publicou 16 livros sobre essas e outras enganações.Não há uma só linha de crítica sobre o que diz o professor. É para engolir assim mesmo.
Mas se a BBC Brasil ignora o ebola, o estado islâmico, a crise ucraniana e outros temas, o mesmo não se pode dizer da BBC Mundo que, em sua edição em castelhano,  trás uma análise das eleições brasileiras. O título da matéria é, no mínimo, instigante: Por qué en Brasil no hay derecha?
BBC mundo através de seu correspondente e de depoimentos de cientistas sociais brasileiros chegou a conclusão que aqui não temos direita. Pelo menos não a direita representada por um partido que assim se defina. Mas fica por aí. A análise tem a profundidade de um pires. A percepção que muitos de nós temos de que há direita demais no Brasil, não encontra eco na reportagem da BBC.

Fiquei com a impressão que o Mark Ruffalo deve ter lido essa reportagem antes de apoiar Marina.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O Hulk e eu



Eu ia escrever alguma coisa pra sacanear um pouquinho o ator americano que apoiou Marina Silva e menos de 24 horas depois, retirou seu apoio, mas não posso. Ou melhor, posso, mas me envergonho. Acontece que fiz algo parecido dias atrás.
Não, eu não insuflei meus milhões de admiradores a votarem nesse ou naquele candidato, não usei de minha imagem pública para apoiar candidaturas. Não foi isso. Apenas compartilhei no facebook uma postagem pela legalização do aborto postada por um grupo de católicas que advogam pela propoata.
No afã de demonstrar apoio à causa, esqueci de pensar. Não fui pesquisar o que pensam essas católicas, favoráveis à interrupção da gravidez, sobre temas que para mim são tão importantes quanto. Seriam essas senhoras favoráveis à evangelização dos povos indígenas?  O que pensam sobre a legalização das drogas? Sobre a homossexualidade? Sobre a sexualidade? Que nem um Hulk depois da gripe, me apressei.
Afinal, não era uma postagem de uma senhora que casualmente fosse católica e sim de um grupo que põe adiante de sua opinião sobre a legalização do aborto, sua fé.
A lei absurda que manda prender e submeter a júri popular as mulheres que praticam aborto é tão absurda quanto a que manda prender alguém que fuma maconha ou cheira cocaína. Em ambos os casos são, as leis, causadoras de mortes de milhares de pessoas todos os anos no país. Pessoas pobres, que fique claro, afinal quem tem dinheiro faz aborto em clínicas caras ou no exterior e se fuma maconha será tratado como usuário e não traficante como acontece com os meninos pobres que apertam um na encolha.
Claro, uma pessoa pode ser pela legalização das drogas e contra a legalização do aborto e vice-versa, mas quando deixa a pessoalidade para se integrar a um grupo, seja ele católico, budista, nazista ou qualquer outro, está assumindo uma série de valores inerentes a esses grupos.
O mesmo se dá com a questão da evangelização dos índios. Aqui não é uma lei e sim a falta dela que continua permitindo essa prática que remonta o século 16. É justo, em nome da cultura dominante, da fé dominante, destruir crenças seculares? Os católicos acham que sim. Os cristãos acham que sim.
Possivelmente as senhoras católicas que advogam pela causa justa e nobre da legalização do aborto, pensam que sim. Que se deve evangelizar os índios.