domingo, 17 de maio de 2015

Youssef bom, Youssef mau



Que Alberto Youssef é bandido todos sabemos de longa data. Entre os crimes mais leves que praticou está o perjúrio numa delação premiada, isso ainda na CPI do Banestado.
Por incrível que pareça Youssef é novamente premiado pela deduragem na CPI da Petrobrás.
A imprensa de direita quando relata as confissões premiadíssimas de Youssef  diz que se trata do “doleiro” Youssef e não do bandido dando a entender que mercadejar moeda estrangeira por debaixo dos panos é algo de menor poder ofensivo para a sociedade. Sim, pois no Brasil certas atividades como o comércio ilegal de moeda estrangeira, a lavagem de capitais e o enriquecimento sem causa, não causam a indignação dos meios de comunicação como causam os furtos cometidos por menores infratores “em plena luz do dia” ou a venda de maconha na favela pacificada. Chamar Youssef de doleiro é quase uma atenuante na sua longa ficha criminal. Quem usa de doleiros para lavar dinheiro não são menores que furtam em plena luz do dia nem o cara da boca e sim os que financiam partidos, telejornais e concursos de miss. Essa gente tem nos doleiros uma ferramenta de seus negócios e costuma aparecer na capa de Veja como empresário do ano, líder da oposição ou reserva moral da nação.
Do outro lado do balcão, as publicações mais alinhadas com o governo tratam Alberto Youssef com os devidos epítetos e desacreditam sua delação. Isso, claro, quando o alvo das acusações do bandido são figuras importantes do PT como Vaccari Neto, o tesoureiro que confessou na CPI da Petrobrás ter ido visitar Youssef a convite deste. Mas quando Youssef aponta seu dedo de veludo para os opositores, sistemáticos ou eventuais, do governo, a coisa muda e o que diz Youssef vira matéria da imprensa alternativa sem que nenhuma objeção seja feita ao caráter do denunciante ou à sua óbvia estratégia de vender silêncios e negociar prêmios.
A cada semana, a cada denúncia, temos um Youssef diferente. Ou melhor: um Youssef de ocasião para todo gosto e uso.



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Por que batem as panelas?



Não sei onde nem quando começou. Sei que não foi mês passado e não foi no Leblon.  A primeira vez que vi, o significado era claro: batiam-se panelas para mostrar que elas estavam vazias, que havia fome. E agora, o quê quer dizer o bater de panelas nas varandas dos endinheirados? Obviamente não é contra a fome. Tampouco é contra o infame projeto de terceirização que elas batem. Nem pelo tratamento dispensado aos professores e à escola pública.
Dizem que é contra a corrupção que os bem viventes batem panelas. Eu não creio. Corrupção é coisa corriqueira desde sempre. Em todos os governos, em todos os entes da Federação em todos os níveis, em todas as instâncias.
Não. As panelas são batidas contra o Governo Federal, só e tão somente.
Bem que esse governo merece apanhar, afinal entregar a economia na mão do banqueiro Levy e a agricultura nas patas da escravocrata Kátia Abreu é motivo de sobra para apanhar. Mas os batedores de panela não visam os erros do governo quando o atacam; visam seus acertos.
As panelas batem contra as cotas raciais e não contra o extermínio de jovens negros das periferias. Batem contra os direitos de minorias e não contra sua violação.  
As panelas batem contra os direitos das empregadas domésticas, contra o filho do porteiro que faz faculdade, contra a mulher negra que chefia.
As panelas batem contra qualquer menção de mudança na estrutura social, nos privilégios, no status quo.
As panelas batem para que a fome volte a assombrar milhões e gritam contra o Bolsa Família como se tratasse do pior dos inimigos.
As panelas são a trilha sonora das manifestações que pediam menos Paulo Freire e mais milicos.
As panelas batem contra o voto da maioria.

As panelas batem contra o 13 de maio.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ziraldo







  



Numa entrevista que assisti há alguns anos, Ziraldo contava a história de um empregado de seu tio. Dizia o autor do Menino Maluquinho que o tal empregado vivia doente, numa inaptidão pro trabalho de dar nojo. Molenga e sorumbático. Um dia o homem foi ao dentista e extraiu o resto de dentição que ainda tinha. O protético meteu-lhe na boca uma dentadura. Milagre! O sujeito se tornou um trabalhador de primeira. Prestimoso e incansável. Eram os focos dentários que lhe tiravam o ânimo e a força.
Ziraldo contava a história familiar para se contrapor à fluoretação da água. Dizia ele que aquilo era bobagem e preconizava a extirpação dentária. Claro, não para seus filhos, netos ou bisnetos, não para os de sua classe social, mas para os pobres que padecem com as afecções bucais. Confesso que me chocou a falta de sensibilidade do cartunista genial, mas quem nasce e vive na classe social em que nasci e vivo já se acostumou a ouvir de pessoas que admira comentários desse naipe. Deixei pra lá.
Agora Ziraldo falou dos homossexuais. Falou as mesmas bobagens que os Bolsonaros, Malafaias e Felicianos falam. Criticou Fernanda Montenegro pela interpretação de uma personagem homossexual. Ouvir ou ler isso de alguém ligado à arte foi o mais chocante. De resto, nada me surpreendeu. Fui leitor do Pasquim desde meados dos 70 e bem me lembro de tirinhas que faziam piadas grosseiras com homossexuais e feministas
Muitos daqueles cartunistas e escritores do Pasquim se fossem questionados hoje sobre o tema da homossexualidade diriam coisas semelhantes àquelas que disse Ziraldo. Tenho certeza disso. Não imagino, por exemplo, o Jaguar com opinião diferente. O fato de terem sido importantes na luta contra a ditadura e serem artistas não faz deles, necessariamente, pessoas progressistas no tocante ao comportamento ou à sexualidade. 
Repito que não me surpreendeu o que disse Ziraldo assim como não me surpreendo com o que diz Caetano quando lhe pedem que faça comentários sobre a política nacional. É como diz o grande compositor baiano: “De perto ninguém é normal.”




sábado, 2 de maio de 2015

A canetinha do soldado



Como se não bastassem as covardes agressões, o cinismo do governador e os meios de comunicação chamando de confronto o que foi um ato de extrema violência policial, apareceu o soldado Umberto Scandelari e sua canetinha hidrocor. Pois é, o cana se pintou de cor de rosa (simulando sangue) e postou no facebook a foto que seria a prova da agressividade dos professores. Só se for da professora de educação artística. O patético PM ainda legendou: Professor, conta outra. Que outra, Umberto? Que você além de violento é débil mental?
Tão logo a foto com a maquiagem grotesca apareceu na rede social os amiguinhos de Umberto se apressaram em mostrar solidariedade. Parece que muitos acreditaram ser sangue a pintura cor de rosa espalhada porcamente pelos braços do soldado sem noção. Se tem Umberto e sua canetinha tudo é possível. Mas o pior estava por vir.
Umberto e seu sangue de canetinha viraram tema de chacota nas redes sociais. O mico do soldado estava contaminando a brava corporação e era de se esperar que seus superiores tomassem alguma providência com relação à farsa, algo pra inglês ver como costumam fazer em situações semelhantes. Que nada. A PM do Paraná, através de alguém que a BBC Brasil não identifica, disse àquele sítio informativo que as manchas cor de rosa nos braços, mãos e rosto do policial provinham de bombas de tinta usadas para marcar manifestantes. Que como policiais e manifestantes estavam muito próximos o soldado foi atingido pela pinturinha. Só não explicou por que a farda não ficou manchada. Se cutucar ele explica.

Ficamos sem saber o que é mais ridículo: se a farsa do soldado Umberto ou a versão do porta-voz (formal?) da corporação. Mas ambos disputam apenas o segundo lugar. O grande campeão é, sem dúvida, o governador Beto Richa que insiste em dizer que não vimos o que vimos em dezenas de imagens reproduzidas nas redes sociais e sítios informativos. Segundo o governador os professores tentavam depredar o patrimônio público e foram contidos em seu nefando intento pela valorosa polícia. Os professores seriam os agressores. Ridículo e cínico.