domingo, 23 de agosto de 2015

Donald Trump: o palhaço que virou candidato



Donald Trump ao lançar-se à corrida pela indicação de seu partido para disputar a eleição presidencial americana optou pelo confronto. Disse cobras e lagartos dos imigrantes mexicanos e foi parar nas manchetes do mundo. Ninguém mais pode perder tempo comentando seu penteado ou o programa de TV que ele comandava. Trump com suas declarações virou, da noite pro dia, uma figura política. Esqueçam o topete.
Andei lendo aqui e ali que sua estratégia de ofensas é um tiro no pé e que ele vai acabar por perder o cada vez mais numeroso voto “hispânico”. Li isso de gente que faz análises de política externa e usa uns paletós maneiros. Eu tendo a discordar de tal vaticínio. Digo isso pensando nos brasileiros residentes nos EE.UU e que se manifestam nas redes sociais e nas caixas de comentários dos sítios informativos.
Se Trump tivesse se referido aos imigrantes brasileiros como traficantes e estupradores, como fez com relação aos mexicanos, eu tenho a impressão que ele não perderia um único voto dos filhos e netos de imigrantes brasileiros aptos a votar. Imagino que o mesmo se passe entre os descendentes de mexicanos. O imigrante alvo de Tramp é o imigrante das construções, os camelôs, os biscateiros, os ilegais. Os que não votam. Gente que faz lembrar aos filhos dos imigrantes “velhos” sua origem e seu passado. E essa gente quer esquecer tudo isso e ser assimilada. É gente que realizou o sonho americano de comprar uma casinha a prestação e botou um carro na garagem. Gente que se tornou conservadora.
Com a polêmica Trump não só não se enfraqueceu entre os “latinos” como deve ter se fortalecido muito junto à extrema direita americana. O Tea Party pode passar a vê-lo como um candidato viável e depositar apoio à sua indicação.
Iniciado o caminho do confronto Trump seguiu o rumo e atacou as mulheres. Primeiro Hillary Clinton, depois Megyn Kelly, apresentadora do ultra direitista canal Fox News, que mediava um debate entre os postulantes à candidatura republicana.
Também nesse caso creio não haver risco de perda de apoio. Muitas mulheres pensam como ele. Prova disso é que numa democracia com quase 240 anos, nenhum dos dois principais partidos jamais apresentou uma mulher como candidata à Casa Branca. Hillary Clinton, ao que tudo indica, será a primeira, mas não é certo que o voto feminino lhe caia no colo, pelo contrário. Entre os países desenvolvidos os EE.UU têm uma das menores bancadas femininas no legislativo. Lá como cá a grande maioria conservadora (homens e mulheres) ainda vê a política como coisa de homens, de provedores.
Vindo do mundo dos negócios (e que negócios!) Donald Trump não dá ponto sem nó, nem faz discurso sem prévia pesquisa. Quem o vê apenas como um palhaço de TV pode ser surpreendido com sua escolha pelos republicanos para disputar a presidência dos EE.UU. Uma pesquisa de intenção de votos feita recentemente na Carolina do Norte apontou Trump em 1º, dois pontos percentuais acima de Hillary Clinton. Não sei que grau de influência essas pesquisas têm na escolha dos partidos por seus candidatos, mas é um dado.

 Desprezando os votos das minorias Trump vai aglutinando em torno de sua pré-candidatura as amplas maiorias. Possivelmente seus próximos alvos sejam os gays ou os ecologistas. Ou, quem sabe, os negros.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Meryl Streep, uma paixão



Eu tinha vinte e poucos anos e havia perdido um amor. Mais de um ano se passara e a paixão continuava intacta, doendo. Eu sabia que a única maneira de curar aquela dor era me apaixonar de novo. E eu tentava. Ah, como eu tentava. Mas era só cruzar com Ela pela rua ou vê-La de longe e o coração disparava.
Lembro de um dia: Ela vinha da praia e eu descia a Santa Clara. Parou pra falar comigo. Me contou de uma viagem que fizera. Até hoje não sei quem estava com Ela. Não sei nem o sexo de quem estava com Ela. Era assim que acontecia: Ela aparecia e o mundo acabava, o fôlego sumia, as palavras me abandonavam. Eu sofria.
Por vezes eu pensava em desistir de encontrar outro amor. Era o tempo da amizade colorida e eu tinha umas amigas. Quando sossegava a libido eu me metia no cinema. Havia um embaixo do prédio onde eu morava. Vi muitos filmes naquela época. E foi aí que aconteceu.
Passavam “A mulher do tenente francês”. E lá estava a mulher que eu esperava para me apaixonar com seus cabelos ruivos cacheados, sua pele pálida, aquelas mãos que falavam. Pois é, eu me apaixonei por Meryl Streep.
Meryl não era tão linda quanto Ela nem tinha aquela voz doce e o sorriso espontâneo de menina, mas tinha seus encantos; uma delicadeza e uns olhares de deixar a gente pensando.
Outro dia a vi (a Meryl). Foi na entrega do Oscar e ela (Meryl) aplaudia entusiasmada uma colega premiada que no seu discurso falava de diferenças salariais entre homens e mulheres em Hollywood. Parece que a discrepância é enorme. Enquanto os galãs ganham 10 ou 12 milhões de dólares para fazer um filme, as atrizes protagonistas têm de se contentar com apenas 5 ou 6 milhões. Um disparate.
Mas o que me entristeceu foi a última notícia que li sobre Meryl. Minha antiga paixão (a Meryl) se colocou contra a legalização da prostituição como sugeriu a Anistia Internacional. Não estamos falando da regulamentação da profissão e sim de sua descriminalização pura e simples. Meryl é contra. Os argumentos que ela (Meryl) e outras pessoas usam para criticar o documento da A.I (que, todavia está em fase de discussão) são pueris. Praticamente os mesmos usados pelos que defendem a proibição das drogas.
Claro que vou perdoar Meryl Streep por esse deslize. Sempre acabamos por perdoar aquelas que amamos um dia. Mas poxa Meryl, como você é complicada!


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Marcha das Margaridas



No programa esportivo falava-se dos elefantes brancos que foram construídos para a Copa. Especialmente do Mané Garrincha. Um dos maiores estádios do país foi erguido numa cidade onde não há um só time nas três principais séries do futebol brasileiro. (O Gama, equipe mais popular do DF, está na série D onde ocupa a 2ª colocação no Grupo 6) Falou-se do custo de manutenção, do preço da obra, totalmente bancada com dinheiro público, etc. O discurso da presidenta Dilma durante a inauguração também foi exibido.
Falou-se também do pouco uso que a praça esportiva estava tendo, ao contrário do que preconizavam o então presidente da CBF e atual detento, José Maria Marin e a  presidenta Dilma. Desde o mundial a “arena” recebeu apenas alguns jogos de times do Rio, deixando prejuízo para os organizadores. Mais nada.
O apresentador do programa, André Rizek, comentou, valendo-se de uma reportagem do Correio Brasiliense, que o estádio havia sido alugado pelas participantes da Marcha das Margaridas que ali realizariam uma pelada festiva no encerramento de seu encontro. Rizek perguntou aos participantes do programa o que era a Marcha das Margaridas. Não foi uma pergunta retórica. Não foi uma indagação usada como mote  para esclarecer algum telespectador desinformado. Rizek realmente não sabia do que se tratava. Seu tom de voz não deixava dúvidas sobre isso. Sidney Garambone, um dos participantes do programa, gracejou: _É algum encontro de fãs do Pato Donald? Garambone, jornalista que ocupa cargo de chefia, também não sabia do que se tratava. Nenhum dos dois se mostrou constrangido com a própria ignorância. Gracejaram.
O desconhecimento desses jornalistas, desses formadores de opinião sobre os movimentos sociais não é de se estranhar. Eles fazem parte do Brasil oficial, do Brasil do bom emprego e do diploma universitário. O Brasil real, o Brasil das reivindicações sociais, da enxada e da foice para eles é um grande desconhecido. Fosse o João Dória Jr. que tivesse alugado o estádio de Brasília para algum convescote de grã-finas eles certamente dariam detalhes do evento.
Mas o mais constrangedor, o que provoca vergonha alheia, é que esses jornalistas do Brasil oficial criticam a pouca participação política dos brasileiros.
Outro dia, quando se especulou sobre o interesse de um time inglês pelo atacante Pato, torcedores do Corínthians invadiram a página que o tal clube mantém numa rede social e lá deixaram comentários elogiando Alexandre Pato. Postavam as mensagens como se fossem torcedores do time inglês incentivando a contratação. Rizek achou engraçada a manifestação dos corintianos, mas não deixou passar a oportunidade para arengar que se os brasileiros tivessem essa mesma mobilização para cobrar dos políticos e dos governantes blá blá blá...

Chega a ser ridículo que um sujeito que desconhece uma manifestação social como a Marcha das Margaridas cobre participação política dos outros. Claro, para Rizek e outros que tais, participação política é enviar “email”, para o “site” do deputado. O resto é vandalismo ou não existe.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

FHC



Conta-se que Getúlio Vargas dizia que um grande negócio era comprar os Melo Franco pelo que valiam e revendê-los pelo que eles pensavam que valiam. Antes de ouvir essa versão da anedota eu conheci outra em que a ilustre família mineira era substituída pelos argentinos em geral. Ambas me parecem engraçadas, ainda que nada saiba sobre os Melo Franco que os desabone, mas Seu Gegê devia ter lá suas razões.
No Brasil atual a historinha poderia ser usada para muitos. O Marco Feliciano, por exemplo. Faz uns dias eu o ouvi dizer que era um homem de “intelecto apurado’. É assim que ele se vê: como um homem de “intelecto apurado”. O sujeito é tão sem noção que perde a graça metê-lo na anedota. Com quase todos os políticos brasileiros daria o mesmo. Nossos representantes e governantes servem mais para comédia pastelão do que para anedotas de salão.
Mas o Fernando Henrique Cardoso bem que poderia substituir os argentinos e os Melo Franco na anedota. Sua vaidade intelectual é conhecida e por ele mesmo admitida. Claro que um sujeito semi-alfabetizado como eu não tem como mensurar se a tal vaidade se justifica ou não, mas valho-me de João Ubaldo Ribeiro que lecionou sociologia e afirmava que a contribuição de FHC para a área é nula.
Mas mesmo não sendo o gênio da raça que pensa ser Fernando Henrique não é burro. Longe disso.
Na semana passada ele declarou que a presidenta Dilma é pessoa honrada e nada tem a ver com corrupção. É uma declaração que roça o óbvio, mas nesses dias interessantes que vivemos torna-se importante. Só os relinchantes eleitores de Bolsonaro, os abestalhados fãs do Lobão e os analfabetos políticos ouvintes da Sheherazade insistem em involucrar a presidenta na roubalheira da Petrobrás. Para essa gente os meios de comunicação hegemônicos servem a alfafa diária das insinuações.
Depois de publicada a declaração do ex-presidente, batedores de panelas e golpistas em geral começaram a atacá-lo. Chamam-no de traidor. Mas traidor de quê? Do golpe que se pretender dar? Da estupidez galopante?
Desde a eleição de Lula, Fernando Henrique Cardoso tem protagonizado momentos de extrema mesquinhez política. Talvez movido pela vaidade, pelo ego ferido ao ver o ex-operário ganhar o respeito mundial e o carinho do povo, mas não contem com ele para dar tiro no pé.
É bem verdade que o alvo de FHC é Lula e não Dilma. Ele sabe que é hora de pensar em 2018 e o golpismo, tendo à frente Cunha, Aécio e uma porção de mentecaptos que se articulam através das redes sociais, faz água. Até mesmo a Globo já abandonou o navio com direito a editorial e tudo.
Fernando Henrique Cardoso se valoriza.


domingo, 9 de agosto de 2015

Campanha à portuguesa

                         



                          Portugal está em plena campanha eleitoral. O PS, na oposição, vê possibilidades de ganhar o pleito graças às políticas desastrosas implementadas pela direita. Os socialistas mandaram fazer cartazes alusivos ao desemprego que afeta milhões de portugueses. Num deles aparece a foto de uma senhora com os dizeres:"Estou desempregada há 5 anos etc etc..." Acontece que há 5 anos quem governava era o PS. O tiro saiu pela culatra.
                          Depois da gafe os socialistas fizeram a egípcia e mandaram outro cartaz que também foi espalhado pelas ruas das principais cidades portuguesas. Igual ao primeiro. Nesse último a foto é de uma rapariga e lê-se: "Estou desempregada há 2 anos etc etc..." Melhorou, né? Só que não. A rapariga do cartaz não está desempregada. Ela trabalha numa freguesia de Lisboa administrada pelos socialistas e contou que pediram-lhe para que tirasse uma foto para ser usada na campanha de António Costa, mas não deram detalhes nem pediram autorizações posteriores. O mesmo se passou com outras pessoas que tiveram suas fotos usadas sem autorização em cartazes similares O PS se desculpou timidamente com as pessoas envolvidas  dizendo que as histórias relatadas nos cartazes eram verdadeiras e apenas não puseram as fotos dos personagens reais para não constrangê-los. Só não se preocuparam com o constrangimento pelo qual passaram as pessoas cujos rostos apareceram nos tais cartazes.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A noiva e o conferencista



Quando eu lia jornais de papel não deixava de ler os classificados. Sempre me divertia buscando por sítios que nunca compraria, por filmadoras usadas, por máquinas de costura, por quinquilharias em geral. Numa época me interessei por vestidos de noiva. Ainda me lembro de um anúncio que vi e me intrigou: “Vende-se vestido de noiva sem uso, manequim 42. Tratar...”
Hoje não leio os jornais, leio o facebook. E, à moda de classificados, leio as abas que me sugerem amizades, grupos de interesse, cura para a calvície e o novo santo graal do emagrecimento. Sem contar o “enlarge your penis” que anda por toda parte.
Na sua digital e proverbial falta de tato o facebook me sugeriu encetar amizade com uma senhora. Temos sete amigos em comum. Somos conterrâneos.  Acontece que a tal senhora já era minha amiga e foi assim (através dos classificados) que eu soube que ela me cortara do seu grupo de amizades e agora me era oferecida como amizade nova em folha. Me senti como o sujeito que descobre que é traído pela mulher numa edição do Jornal Nacional. Fiquei frustrado. Eu gostava das coisas que ela postava. Sempre versos, sempre de sua lavra. Eu compartilhava os poemas. Ela mandava uma carinha feliz e agradecia. Mas não me quer mais lendo seus versos. Cortou-me. Paciência.
Foi também por esses classificados que soube que a camisa que o comentarista esportivo da TV usava ontem e que me pareceu um atentado ao bom senso está na moda. São vendidas no atacado e em inglês por $25, 99 (dólares, claro).

Serviços profissionais também são oferecidos nos classificados do facebook. Disfarçadamente. Na forma de “páginas que podem lhe interessar”. Um senhor, por exemplo, anuncia-se como conferencista. O homem não se propõe a dar conferências sobre uma área específica de seu conhecimento e profissão. Não, o Leonardo contemporâneo dá conferências sobre um tudo. Imagino que o contratante possa escolher o tema da conferência a ser proferida como quem sugere um mote para um repentista.Tanta sapiência é quase tão intrigante quanto à noiva e seu vestido jamais usado.

domingo, 2 de agosto de 2015

Os frentistas comunistas e o astrólogo



O Brasil há que reconhecer, perdeu o juízo. Não sei se algum dia teve, mas definitivamente perdeu o juízo.  E não são apenas os políticos e os cidadãos, as donas de casa e os latifundiários, os intelectuais e os bicheiros. Não, até os paralelepípedos  das ruas e as pedras portuguesas das calçadas parecem ter perdido o senso.
Não passa dia sem que milhares de usuários da redes sociais e sítios informativos chamem o governo de comunista. Mesmo que todas as medidas tomadas, todos os fundamentos da economia, todos os membros do gabinete de ministros emanem o inconfundível fartum neoliberal, alguns de nossos concidadãos acusam a presidenta de ser comunista e, através do Fórum de São Paulo, orquestrar a tomada do poder pelas armas.
Segundo esses especialistas em tramas vermelhas e outras senvergonhices  os agentes do comunismo já se infiltraram no país disfarçados de médicos cubanos e imigrantes haitianos. Enquanto aguardam ordens para o levante armado os agentes trabalham como frentistas e atendem pacientes do SUS. Os americanos, que bisbilhotam até o que colocamos na sopa, devem estar perplexos com essa nova guerra fria que só existe aqui.
Mas o que melhor demonstra o grau de maluquice a que chegamos é que a atual direita brasileira quando tenta se informar sobre os acontecimentos políticos consulta um astrólogo. Pois é, um astrólogo. Entre um mapa astral e outro, Olavo de Carvalho usa de seu vocabulário chulo para falar de política. E há quem o escute e até o cite. Claro que ninguém o lê, mas seus livros de filosofia, política e astrologia vendem bem e adornam as estantes dos cidadãos de bem.
Nem nos piores tempos da ditadura e do obscurantismo a alguém lhe ocorria consultar o Omar Cardoso sobre as questões administrativas ou questionar a Zora Yonara sobre as votações do congresso. Era cada um no seu quadrado.