O ator Ary Fontoura publicou uma carta na qual pedia a
renúncia da Presidenta Dilma. Pelo menos isso foi o que pensou a maioria dos
usuários das redes sociais. Sim, pois esses usuários jamais lêem qualquer texto
na íntegra, apenas as chamadas, as primeiras linhas ou o título das matérias
publicadas. E daí saem tecendo comentários e, pelo geral, ofendendo quem teve a
ousadia de publicar algo fora da visão em branco e preto tão comum nesses dias
interessantes que vivemos.
Quem leu a carta até o fim, soube que o que quer o ator é que
Dilma renuncie a certas práticas. Pede Ary Fontoura que a Presidenta renuncie à
corrupção, aos corruptos, aos corrompidos etc.
Eu tenho muita simpatia por Ary Fontoura e de seus trabalhos
na televisão eu sempre gostei. Desde o hippie que queimava as ervas daninhas na
novela “O cafona”. E depois em “Saramandaia” quando fazia um tímido e
melancólico lobisomem contracenando com a linda e inesquecível Dina Sfat.
Uma vez o vi. Foi no cinema Roxy, em Copacabana. Estavam
passando “O último tango em Paris” que depois de anos fora liberado pela
censura. Chovia (eu ia escrever que chovia a cântaros, mas na dúvida se ponho
crase ou não, digo que chovia muito e pronto). Chovia muito naquela noite e no
foyer do cinema, Ary Fontoura levava um guarda-chuva.
Não me lembro de entrevistas do ator. Tampouco tenho na
memória qualquer manifestação de cunho político feita por ele.
Como qualquer cidadão ele agora resolveu se manifestar e o
fez através de carta pública. A manifestação, dentro do melhor espírito
democrático, é um direito seu e para não me aborrecer nesse último dia do ano,
não li os comentários dos leitores dos diversos sítios onde a carta foi
publicada.
Faço, dentro do mesmo espírito democrático, minhas ressalvas
quanto ao que escreveu Ary Fontoura. E só o faço por que em determinado trecho
da missiva ele escreveu que falava em nome de 200 milhões de brasileiros.
Eu não espero que Dilma renuncie aos companheiros do passado
como quer o ator, pelo contrário, gostaria que ela renunciasse aos novos, essas
aves de rapina do oportunismo. Não espero que a Presidenta renuncie ao PT e sim
que possa fazê-lo voltar às suas origens. Não acho que Dilma deva renunciar à
volta da CPMF, deve sim, penso eu, voltar a cobrar esse que era o único imposto
justo do país e deixe de tributar os
produtos da cesta básica e bens relacionados à educação e à cultura.
Tampouco quero que a Presidenta Dilma governe com a oposição
como propõe Ary Fontoura. A oposição de esquerda (leia-se Psol), colaborou com
o governo quando viu em suas propostas benefícios para a população e votou com
o executivo em vários temas. Mas seu papel é se opor às práticas daninhas ao
interesse do povo trabalhador. Quanto à
oposição de direita não se pode esperar nada dela, apenas as picuinhas e o jogo
sujo do poder a qualquer custo.
Tenho outras objeções ao que escreveu Ary Fontoura, mas não
vejo em sua carta outra coisa que não seja o desejo de contribuir com o país e
sua governabilidade.
O erro que comete o ator em sua carta é tentar falar em nome
de todos num país dividido por classes, raças, credos e visões de mundo.