quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Um palpite e algumas constatações


É só um palpite, mas creio que o Supremo vá liberar as biografias não autorizadas. Acho que a  corte acatará a ADI impetrada pelos editores.
O resultado prático da decisão judicial favorável à liberdade de expressão será uma grande quantidade de biografias saídas das penas de Rui Castro, Sérgio Cabral (pai), Fernando Morais e outros craques. Muitas personalidades da história do país terão suas vidas contadas, suas aventuras e desventuras narradas por essa gente que já tem um acervo de títulos memoráveis.
Certamente que a novidade de qualquer um poder escrever sobre a vida de pessoas famosas sem temer demandas judiciais que venham a impedir a comercialização do livro, atrairá outro tipo de biógrafo. Eu não estranharia encontrar em breve nas livrarias a biografia não autorizada de Valeska Popozuda escrita por Nelson Rubens ou a saga de Suzana Vieira assinada por Leão Lobo.
Muitos irão se adiantar e contratarão suas próprias biografias não autorizadas. Em vez de escritores fantasmas, biografados fantasmas. O escândalo sob encomenda pode vir a ser uma nova moda editorial.
Mas por que estou antevendo tantos atos vis antes mesmo que o caso seja julgado? Ora, porque os argumentos que são usados para desqualificar os que advogam pelo direito à privacidade são dessa índole, e me fazem pensar em interesses idem.
Hoje li na coluna de Anselmo Gois, n’O Globo, a seguinte notinha assinada por Jorge Antônio Barros: “Circula pelo território livre da internet um vídeo no qual Roberto Carlos saúda o presidente do Chile, general Augusto Pinochet, em 1975, dois anos depois do golpe militar.” Abaixo vem a ligação para o youtube com o vídeo do festival de Viña Del Mar onde ocorreu a saudação do Rei ao carniceiro chileno.
Roberto Carlos é um dos que querem ver seu direito à privacidade prevalecendo sobre a liberdade de expressão, e a retirada de sua biografia das livrarias por ordem judicial, foi, em última instância, o que detonou o protesto de biógrafos e editores que entraram com uma ADI junto ao Supremo.
Agora a imprensa lembra daquele fato ocorrido em Viña Del Mar. 38 anos depois lembram daquilo. Justo a imprensa brasileira que nunca criticou Bono Vox por suas sorridentes fotos ao lado de Putin quando o presidente russo massacrava os chechenos. Logo a imprensa brasileira que faz cutchi-cutchi para o herdeiro do império britânico. A grande (?) imprensa brasileira que acha que é uma honra ser recebido por Obama enquanto o havaiano prossegue com a matança no Iraque e mantém aberto o campo de concentração de Guantánamo. A mesma imprensa que criticou a política externa do Brasil por sua atuação legalista no golpe de Honduras. A sereníssima imprensa dos Marinho, Frias, Mesquitas e afins que apoiou a ditadura brasileira. A imprensa monopolista brasileira que, em editoriais e reportagens, sustentou a legalidade do golpe no Paraguai e a tentativa de deposição de Hugo Chaves.
Roberto Carlos nunca fez o gênero politizado, ao contrário de Bono Vox e outros que tais. Roberto saudou o açougueiro chileno, eu diria, ingenuamente e não como fazia a imprensa brasileira naquele tempo, com a euforia de um Plínio Correia, fundador e líder da TFP (Tradição, Família e Propriedade) em sua coluna na Folha de São Paulo.

O debate em torno da questão das biografias poderia ser rico. O lado que defende a liberdade de expressão dos biógrafos pode estribar-se em doutrinas, pode argumentar tendo por base o direito comparado, a declaração universal dos direitos do homem, o bom senso, o escambau. Não precisa de advogados de porta de cadeia que usem de expedientes tão mesquinhos.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Política de extermínio


É uma política de segurança pública muito simples: baseia-se na intimidação, no terror e no extermínio. No Rio optou-se pela ocupação de comunidades como se fossem território inimigo. Para lugares densamente povoados foram mandados tanques de guerra e efetivos das forças armadas. Para desalojar traficantes, dizia a propaganda. Para subjugar o gueto, diz a realidade das balas “perdidas”, dos meninos que tombam tachados de marginais, de perigosos marginais.
Já nas primeiras ocupações, policiais invadiam toda e qualquer moradia para intimidar moradores e até mesmo furtar-lhes pertences. Invadiam, já não por sua conta, como de costume, mas com o aval do poder público. Sob aplausos de incautos e cínicos.
Instaurou-se o terror e o caos aos quais deu-se o nome de Unidade de Polícia Pacificadora. Nas reportagens das TVs que propagandeavam a ocupação, vimos risonhos policiais afagando criancinhas e levantando o polegar para os moradores que passavam. Mesmo tosca, mesmo copiada das campanhas políticas, a propaganda do estado funcionou. Muita gente acreditou que algo estava sendo feito em favor das populações dos morros e favelas, inclusive a Presidenta Dilma, que em visita à capital fluminense, elogiou o programa de polícias pacificadoras e disse que serviam de exemplo para outros estados.
 A peça publicitária do governo de Cabral dizia que enfim o estado estava chegando às comunidades carentes com os serviços que sempre foram negados. Mas as valas negras continuam lá. Não foram instaladas creches nem postos de saúde. Nenhuma escola subiu o morro. Sequer o lixo é coletado. O que houve foi ocupação militar e seus previsíveis desdobramentos.
A morte de Amarildo desnudou a farsa. Mostrou que nada se modificara na relação da polícia com as populações mais pobres. Também haja ingenuidade para crer que depois de um cursinho de três semanas, dado a policiais formados na brutalidade e na corrupção, se romperia com práticas de 400 anos.
Depois do crime, quase todos os comandos das “pacificadoras” foram trocados. Monta-se uma nova farsa. É como se a morte de Amarildo fosse um problema de comportamento de indivíduos e não de uma ação deliberada do estado.
O total desrespeito aos direitos básicos do ser humano foi a norma desde sempre quando de pobres se trata. Nas favelas e periferias imperam leis de exceção: toque de recolher, cerceamento do direito de ir e vir, e outras. Entre as outras, que sequer estão previstas como medidas excepcionais, estão a tortura, o esculacho, a desumanização.
Em São Paulo, a morte do menino Douglas pelas mãos de um facínora fardado, cumprindo as ordens explícitas ou não do poder público, deixou claro que também naquele estado da federação não há titubeios na hora de apertar o gatilho para matar pobres.
As mortes de Amarildo e Douglas ( pardos, pobres) dão bem a dimensão da nova velha política de segurança pública posta em prática nas duas maiores cidades do país. Não há coincidência, não há desvio de conduta de indivíduos, não há mal entendido. Há sim uma política de extermínio. Que obviamente fracassará.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Cartas dos leitores


O vício é antigo. Muito antes de existir internet, quando a TV, os jornais e o rádio ainda eram em preto e branco, eu já lia a seção de cartas dos leitores.
Sempre me intrigou que alguém escrevesse cartas para os jornais. Havia que escrevê-la, ir até o correio, pagar o selo e metê-la na ranhura da caixa coletora para, talvez, vê-la publicada dias depois com os devidos cortes e correções ortográficas feitos pelo senhor editor.
Pelo geral, eram cartas cobrando medidas das autoridades ou criticando alguma matéria do próprio jornal. Mas também as havia enaltecendo o papel dos militares no comando do país. Outras faziam furibundas defesas da família e dos bons costumes que se julgava corrompidos.
As opiniões, quase sempre conservadoras, ou mesmo reacionárias, desses missivistas me pareciam ser coisa daqueles tempos bicudos.  Não eram tempos de contestações por escrito com nome e endereço.  Ninguém iria facilitar o trabalho da repressão que via em qualquer manifestação de opinião independente uma ameaça ao estado, à família e à propriedade. Escrevia e assinava quem estava a favor, ou pior, quem estava mais a favor que os favorecidos.
Depois larguei mão. Passei anos sem ler jornais só voltando a eles depois que ficaram gratuitos na rede de computadores. E, claro, voltei a ler os leitores que, indignados ou simplesmente chatos, escrevem. Acho que só para dar sopinha para meu masoquismo. Pois acontece que sofro. Cada vez que leio as manifestações desses leitores, sofro. Sofro e continuo lendo. Leio e continuo sofrendo. Freud explica.
Não há matéria que não mereça os comentários mais absurdos, mais caretas, mais reacionários desses decifradores do mundo. Sem o problema da exigüidade de espaço que havia nos jornais de papel, as manifestações são inúmeras e prolixas. Do biquíni da Beth Faria aos protestos dos meninos mascarados; da espionagem americana à liberação da maconha, nossa sociedade, tão bem representada pelos escritores de cartas para jornais, continua dando mostras de cretinice sem limites nos comentários que faz.
Se tempos atrás, associávamos os comentários mais conservadores e rançosos a velhos milicos de pijama e senhoras mal amadas, hoje, é entre a juventude que encontramos seus autores. Meninos e meninas expõem sua total falta de sensibilidade e bom senso comentando sobre tudo e sobre tudo deixando a marca do preconceito, da idéia fixa, do reacionarismo. Xenofilia, racismo, homofobia e misoginia fazem parte do seu cotidiano de escribas.

E o pior, numa linguagem e escrita que precisam ser decifradas. Não falta nem o "com cordo" nem o "consertesa". 

sábado, 26 de outubro de 2013

Reforma agrária


Estamos no final de outubro. Pouco mais de dois meses nos separam do próximo ano e só agora a Presidenta Dilma assinou o primeiro ato de desapropriação de terras para fins de reforma agrária, do ano.
Não que a presidenta não se dê conta da importância da redistribuição de terras para redistribuir renda e fazer-se justiça aos milhões de trabalhadores rurais sem terra. Não é isso. Não falta à nossa presidenta nem sensibilidade social nem conhecimento dos problemas do país, mas Dilma Roussef é herdeira das alianças espúrias feitas por seu partido com o que há de mais abjeto na política nacional.
Essas alianças vêm desde o governo Lula e ganharam espaço dentro do governo Dilma. Afinal, com a defecção de muitos aliados de primeira hora como o PSB de Eduardo Campos e a ala verde encabeçada por Marina Silva, que partem em busca de carreira solo, os articuladores políticos do governo e do PT, para ganhar eleições e garantir a tal governabilidade, fazem qualquer negócio.  
Entre essas alianças a mais nociva aos interesses do país é a que o PT perpetrou com o latifúndio. Essa aliança, que a cada dia é mais explícita, começa a desestabilizar as relações do governo com o MST, até aqui pacífica e de confiança. Prova disso foram as mobilizações que o movimento comandou nos últimos dias em que vários órgãos governamentais foram tomados por seus militantes.
 Um exemplo dessa aliança perversa com o latifúndio? O novo código florestal. Outro? A impunidade reinante para os crimes contra lideranças indígenas e camponesas.
Posição tão cômoda levou os representantes do agronegócio (ou agrobusines, como gostam de falar nossos caipiras milionários) para a ofensiva. Já não lhes basta paralisar a tímida reforma agrária que aqui é feita somente sobre terras improdutivas. Agora partem em busca de reservas indígenas e ambientais.
A senadora Kátia Abreu, Presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e sua voz no parlamento, deu de escrever disparates nos jornais. Em sua coluna na Folha de São Paulo faz afirmações esdrúxulas, tece teses antropológicas estapafúrdias, cita estudos encomendados, ameaça. E das ameaças parte-se para os fatos.
Não faz muito tempo vimos a senadora do Tocantins descendo a rampa do Palácio do  Planalto de braços com nossa presidenta. Falou-se que era cotada para ocupar uma pasta em algum ministério, o que afinal não se confirmou. Mas a especulação certamente tinha algum fundamento. Creio que tal fato não ocorreu devido às perdas eleitorais que adviriam para ambos os lados caso se concretizasse o absurdo.
Em 2011, Kátia Abreu deixou o DEM para ingressar no PSD. O partido de Kassab seria uma ponte de aproximação com o governo, mas após a breve estadia na legenda que não é de direita nem de esquerda nem situação nem oposição nem porra nenhuma, a musa ruralista ingressou no último dia 3 de outubro, no PMDB, partido da base governista. Vai disputar por essa sigla a reeleição para o senado. Acho que não poderia haver pior notícia para aqueles que vêem na reforma agrária um meio de fazer justiça nesse país.
Com tudo isso, pode-se dizer que 2013 foi um ano perdido na resolução do problema que vem se arrastando desde o século 16: dar terra para quem nela trabalha.



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Bolsa família


Imagine uma pessoa muito pobre. Imagine que essa pessoa só possa comer arroz, feijão e farinha e ainda assim falta-lhe um dia o feijão no outro o arroz e no outro a farinha.
Imagine que essa pessoa um dia comece a receber um dinheirinho extra, pouco dinheiro, muito pouco, mas esse pouco dinheiro permite que ela compre um pacote de bolachas por semana, para fazer um agrado pros filhos. Não uma bolacha cara, das de marca famosa. Uma bolacha barata. Então essa pessoa começa a comprar 4 pacotes de bolachas por mês.
Essa pessoa não é a única pessoa pobre que começou a receber esse dinheirinho extra, digamos que sejam 10 milhões delas e a todas lhe ocorra comprar o mesmo pacote de bolacha barata por semana. Aí teremos 40 milhões de pacotes de bolacha sendo vendidos por mês apenas para essas pessoas que antes nem pensavam em comprá-los.
Mas há tantas bolachas sobrando no mercado para vender para essas pessoas que nunca tinham comprado bolachas antes? Claro que não, é necessário fabricá-las, embalá-las, transportá-las. Sim, mas as fábricas podem aumentar tanto assim sua produção de bolachas de uma hora para outra? Olha que são 40 milhões de pacotes de bolachas! Realmente não podem. As fábricas terão que adquirir novas máquinas que fazem bolachas, contratar mais gente para fazer bolachas, e comprar veículos para entregar bolachas.
 Os fabricantes de embalagens de bolachas terão de fazer o mesmo. Comprar mais máquinas de fabricar embalagem de bolachas, contratar mais gente para fazer embalagens de bolachas e comprar veículos para entregar as embalagens de bolachas.
Claro, os fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolacha também terão de correr atrás: comprar maquinaria, contratar pessoal e comprar veículos.
Muitas dessas pessoas que nunca tinham comprado um pacote de bolachas, possivelmente serão empregadas pelos fabricantes de bolachas, pelos fabricantes de embalagens de bolachas, pelos fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolachas e também pelas montadoras de veículos e já não precisarão receber aquele pouco, pouquíssimo dinheiro extra que recebiam antes.
Mas aqui entramos em mais um dilema. Essas pessoas que nunca comiam bolachas e começaram a receber um dinheirinho extra, agora que têm emprego nas fábricas de bolachas, na fábrica de máquinas de fazer bolachas ou na fábrica de embalagens de bolachas, começaram a comprar também a margarina para barrar as bolachas. Acontece que não há tanta margarina sobrando no mercado e os fabricantes de margarina terão de comprar novas máquinas de fabricar margarina e contratar mais gente para operar as máquinas. E também comprar mais embalagens para envasar a margarina. Ah! Eles também precisam de mais veículos para as entregas.
Aqui não falei da dona da venda que vende bolachas e margarina nem da comprinha extra que ela agora pode fazer. É um corte de tecido, um sapato novo pro filho ou, quem sabe, uma geladeira nova no crediário.
Como há muitas vendinhas nesses interiores e nessas periferias, as donas de vendinhas são muitas e todas elas andam fazendo umas comprinhas extras. É um corte de tecido, um sapato novo pro filho e, quem sabe, uma ida ao salão de beleza uma vez ou outra. Mas como é tarde, da dona do salão de beleza, do dono da concessionária de veículos e do dono da sapataria eu falo depois.

Isso não é nenhuma estória de ficção, isto está acontecendo no Brasil e tem nome. O nome disso é economia, mas pode chamar de Bolsa Família.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Tozim


Dizem que os amigos não os fazemos, os reconhecemos. Acho que foi isso que se deu quando conheci o Tozim.
Eu freqüentava uma turma no Alto Barroca, um típico bairro da classe média belorizontina. Não fazia muito tempo que eu por lá andava, um ano, pouco mais. Tinha ido parar naquelas ruas levado pelo Eduardo e ao fim de alguns meses, fiquei mais íntimo dos caras que ele. Principalmente do Careca, do Ronim, do Cássio e do Mazim.
Com essa turma bebi, fumei muita maconha e comi cogumelo pela primeira vez.  Também com eles  acampei várias vezes na Serra do Cipó. Foi o fim do meu ciclo nas Alterosas e foi em ótima companhia.
Um dia, fui praqueles cantos procurar conversas. As ruas estavam vazias na tarde quase azul. Não achei ninguém até vir o Tozim.
Eu o conhecera há poucos dias. Ele havia se mudado pra lá vindo do norte de Minas e talvez por ser da mesma região de meus antepassados, eu logo simpatizei com ele, com seus olhos apertados, os lábios finos que soltavam rápidas palavras meio de canto com  sotaque já puxando pro abaianado. Gostei de seu sorriso sincero de camarada.
Nesse dia que narro, falamos de cachaça. Ele era de Januária, creio, e o assunto veio  naturalmente. Resolvemos beber, para conhecer, aquela cachaça São Francisco que tinha sido recém-lançada com propaganda na TV e tudo mais. O mote publicitário da birita dizia: “Rico também bebe cachaça”.
Não que fôssemos metidos a besta ou algo assim. Os dizeres da propaganda para nós era apenas uma referência de qualidade. E era disso que falávamos: da qualidade da cachaça de Januária, tida como a melhor do Brasil. Aos 18, 19 anos já nos achávamos expertos  ou, pelo menos, queríamos parecer para o outro. Vaidade viril de moços.
Resolvemos pela prova da São Francisco, mas quando escarafunchamos nossos bolsos, não saíram mais que umas moedas. Acho que cada um esperava que o outro estivesse mais fornido. Lembro que fizemos umas diligências para conseguir uma intera, mas não deu. As ruas estavam avaras de outros vagabundos e até as casas dos amigos pareciam desertas.
Enquanto batíamos perna ladeira abaixo, ladeira acima, fomos entabulando nossa conversa. Eu nunca pequei por calado e Tozim também gostava de charla.
Por fim desistimos de conseguir dinheiro emprestado e acabamos mesmo numa vagabundíssima cachaça de armazém. Bebíamos enquanto íamos daqui pra lá pelas ruas tão iguais, tão burguesamente iguais. Passando a garrafa naquele ritual de querer bem.
Não me lembro das outras vezes que me encontrei com ele. De certo houve outras vezes, mas a lembrança só quis guardar aquela tarde.

Meses depois fui para o Rio e nunca mais voltei a morar em Belo Horizonte. Isso foi em 76. Nunca mais vi Tozim.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Balzaquianas


Quando Honoré de Balzac escreveu, na primeira metade do século 19, sua ode à mulher de 30 anos, era comum que moças se casassem aos 16, 15, 14 anos de idade. Minha avó casou-se assim, em plena adolescência, já no começo do século passado..
Não era o caso dos homens, ao contrário. Entre as classes médias e abastadas era necessário estabelecer-se financeiramente antes de contrair matrimônio. Mocinhas, mal saídas da infância eram desposadas, muitas vezes, por homens já maduros.
Ao chegar aos trinta anos, uma mulher do século 19, estava na iminência de tornar-se avó. Claro que não há conveniência social nem costumes do tempo que façam com que a beleza de uma mulher dessa idade se esvaneça. Só a extrema miséria ou o sofrimento desmedido é que têm a capacidade de apagar a luz de uma mulher de trinta anos.
Na minha infância, eu escutei muito falar de balzaquianas quando os mais velhos referiam-se às mulheres que entravam nessa fase da vida. Se a mencionada fosse uma rara mulher solteira daqueles anos 60, o epíteto vinha em tom de censura ou deboche. Meu pai usava muito o termo balzaquiana e creio que foi dele que o aprendi.
Mas agora vejo que a alcunha de balzaquiana para uma mulher de tal idade, estava fora da realidade daqueles anos. A mulher de trinta anos de Balzac teria, nos anos 60 do século passado, por volta de 37, 38 anos. Talvez 40. A mudança de costumes, a sociedade e talvez a Elizabeth Arden fizeram isso.
 Hoje, a balzaquiana tem exatos 50 anos. Aqueles encantos que o mestre francês descreveu para sua Julie, habitam os corpos, corações e mentes das mulheres de 50 anos que vemos diariamente nas calçadas, nas praias, nos cinemas ou mesmo nos supermercados.
E, creio, que nem o tempo nem a sociedade nem o sabonete Dove tenham algo a ver com isso. Foi a mulher que dilatou o tempo, que estendeu o viço. Foi a mulher que arrombou as portas e se libertou da tirania dos usos e costumes. Foi ela que tomou a liberdade de sua beleza madura negada há séculos, milênios.
Os homens não. Eles ficaram ali jogando gracejos pras mocinhas, fazendo galhofa das balzaquianas. Ainda hoje os vemos assim, a repetir, ou pelo menos querendo repetir, a cena desgastada pela interpretação de mil canastrões.
Não há um sequer que, após uma operação plástica nas pálpebras, uma aplicação de Koleston ou mesmo uma cirurgia bariátrica, não se sinta um galã pronto para raptar o coração de mulheres 20, 30 anos mais jovens.  Desde o comerciante de secos e molhados até o candidato à presidência, todos pagam o mico de passarem-se por coronéis.
Nos outros eles vêem o ridículo da situação, não em si mesmos. O homem maduro se crê desejável pelo seu poder de mandar, comprar, influir. Não vê que é o poder e não ele que faz o serviço do amor a domicílio.
Esses homens, no afã de iludir a passagem dos anos, de demonstrar sua virilidade comprada em comprimidos, de sentirem-se jovens, estão perdendo a chance de descobrir as mulheres de 50 anos.
Se a Madame Clessi de Nelson Rodrigues dizia que toda mulher só devia se apaixonar por meninos de 17 anos, eu, mesmo correndo o risco de ser coberto pelo escárnio dos tolos, penso que o homem só deveria amar as mulheres de 50 anos. As balzaquianas de 50 anos.


domingo, 20 de outubro de 2013

Biografias não autorizadas, continuo procurando saber


Não faz muito tempo. Era o aniversário de Dalton Trevisan. O escritor paranaense completava 88 anos e a TV fez uma reportagem. Era uma típica reportagem de TV: superficial, fútil, banal. O aspecto mais abordado foi a reclusão em que vive o escritor e não sua obra.
Mas, verdade seja dita, esse aspecto foi longamente explorado. Serviria de alerta para quem pensasse em desrespeitar a escolha pelo recolhimento do autor que nunca aparece, que jamais concede entrevistas, de quem só conhecemos as feições por fotos antigas que estão na Wikipédia.
No entanto, a segunda parte da reportagem nos guardava uma surpresa. Depois de tanto bater na tecla do retraimento em que vive o contista octogenário, o que fez o repórter? Foi postar-se à porta da casa de Trevisan. Com a câmera oculta pelos arbustos que guarnecem a residência, filmaram-no de longe, entretido com as coisas de seu quintal. Com o microfone atrás das costas, o jornalista perpetrou mais uma infâmia e chamou o dono da casa. Este veio ver, e dando-se conta do que se tratava correu em busca de refúgio no interior da morada. Um homem de 88 anos teve de correr para poder preservar algo que lhe é caro: sua privacidade.
Por que cito essa história? Bem, porque estou procurando saber algo sobre as biografias não autorizadas. O que tem a ver uma coisa com a outra? Ora, tudo. Trata-se de privacidade e de saber se esse direito pode estar acima do direito à livre expressão dos escritores biógrafos ou dos repórteres bisbilhoteiros. Realmente não sei.
O desrespeito ao escritor curitibano me faz crer que pode não haver limites quando se trata de fazer sensacionalismo ou de querer ganhar dinheiro a custa da fama alheia. Mas não deixo de pensar no que disse o ex-ministro Aires Brito quando afirmou que “não se pode alegar o abuso para coibir o uso”.
Como disse, continuo procurando saber.


Biografias não autorizadas


Muitas vezes fui para frente da televisão acompanhar julgamentos do Supremo com opinião já formada. As havia concebido confrontando os dados de que dispunha com minhas íntimas convicções e muitas vezes, após ouvir os doutos pareceres de Suas Excelências, tive de botar minha viola no saco. E por um fato muito simples: eu desconhecia vários fatores envolvidos nas questões. Desconhecia preceitos constitucionais que não podiam ser superados, desconhecia as implicações futuras de certas decisões. Ou seja, eu não estava apto a me posicionar por pura ignorância.
Agora surge o tema das biografias que em breve merecerá apreciação daquela colenda corte. Trata-se de uma ação direta de inconstitucionalidade impetrada pelos editores, através de sua associação, que contesta os artigos 20 e 21 da lei 10.406 de 2002.
Até bem pouco tempo eu estava convicto que bastaria ser utilizado o mesmo critério que é usado nos EE.UU para pôr fim a celeuma que aqui estava se instalando. Bastaria, pensava, que as biografias não autorizadas exibissem em suas capas os dizeres “biografia não autorizada” para que  o leitor fosse alertado para o fato que o autor não dispusera de documentos pessoais do biografado para a confecção da obra, que não o entrevistara nem contara com depoimentos de seus parentes e amigos. Que o que ali estava escrito, poderia não passar de especulação ou simples sensacionalismo. Eu estava pensando no leitor e no direito de livre expressão dos escritores biógrafos. Tinha me esquecido dos prováveis biografados, de seu direito à privacidade
Pensava exclusivamente nos escritores sérios, no público leitor que ambiciona umas belas páginas sobre alguém que lhe desperte a admiração. Nada mais ingênuo, nada mais Polyana do que esse meu raciocínio. Esses escritores são raros, esse público é ínfimo.
Nos últimos dias deixei de ter qualquer certeza com relação ao tema. Se por um lado pense que qualquer cerceamento à liberdade de expressão seja um atentado contra a democracia, não posso deixar de considerar o direito individual à privacidade, que também alicerça essa mesma democracia.
Ademais os argumentos dos que apóiam o pleito dos editores têm me deixado perplexo. Veja se não é para perplexidade o que argumenta Jorge Maranhão em artigo publicado no sítio Congresso em foco. Diz o publicitário:_ “...que acima de tudo são personagens públicos. E que ganharam e ganham a vida tendo como base essa mesma publicidade”.
Ora, nada mais falso, nada mais falacioso. Artistas de fato, jogadores de futebol e outros personagens ganham a vida com a publicidade de seus talentos, não de suas vidas. Quem torna pública a vida privada das pessoas são os fabricantes de fofocas, os artesãos do disse me disse, os desprovidos de habilidades que vivem a custa do que outros fazem, os que alimentam a voracidade de um público idiotizado, que por falta de vida interior, fuça as debilidades alheias em busca de consolo para suas próprias frustrações.
Em outra matéria do mesmo sítio, o chato de galochas, Celso Lungaretti, aporta mais uma tolice para argumentar em nome da liberdade de expressão que, cá entre nós, é matéria nobre o bastante para merecer melhor advogado. O paraninfo de todos os pentelhos assim se expressa:_”E o direito do cidadão comum, de ser informado sobre o que realmente são e fazem aqueles que ganham rios de dinheiro por terem os holofotes da mídia voltados em sua direção, onde é que fica?”
Puta que o pariu, que direito é esse que eu desconheço? Quem me dá tal direito? Em quais códices, em que jurisprudência está escrito ou dito que eu tenho o direito de saber quem comeu quem ou qual o livro preferido de alguém?
Quem vive de fornecer essas informações são os cantores de um disco só, os jogadores de futebol que só jogam no DVD, os falsos artistas das novelas das 8, os apresentadores de programas popularescos de auditório. Enfim, as celebridades dos dias atuais.
Nunca fui dos que dizem que fariam novamente tudo o que fizeram. Se pudesse, eu reformaria minha vida a partir dos 12 anos. Há tanta coisa que me envergonho de ter feito, tantos fatos que jamais revelo, tantas dores que prefiro ocultar até mesmo do espelho sem luz de minha consciência. Por ser anônimo gozo desse direito. O direito de preservar minhas vilezas dos olhares alheios.
Não creio que alguém por ser famoso vá ter sentimentos diferentes dos meus, que não vá querer preservar, ou mesmo esconder, fatos de sua vida que lhe traga pejo. Claro, assim como outros que são anônimos, há os famosos que não se importam, ou até mesmo preferem purgar seus pecados na praça pública das edições bem encadernadas. Não tiro a razão de ninguém.
Por mim, abdico dos direitos de que fala Lungaretti. Mas sigo procurando saber para, quem sabe, ir para frente da televisão com opinião formada quando o caso das biografias não autorizadas for a julgamento.





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Lia


Eu vivia num cantinho do Rio numa rua que não tinha nome de rua. Chamava-se Vila Rialma. Ladeira abaixo, o Catumbi, ladeira acima Santa Teresa. De frente, uma parte ainda não habitada do Morro da Coroa, ao fundo, mais pra esquerda, o Morro do Fallet.
A casa era de um casal de argentinos, Quique e Patrícia que tinham dois filhos pequenos, Matias e Jasmim. Ao lado moravam o Maurício, o Mancha Negra e o Ciro Garcia. Maurício era meu chapa desde os tempos de Copacabana.
As duas moradas eram nos andares superiores de dois sobrados contíguos. Raramente usávamos as escadas para ir de uma casa para outra, pulávamos pelas varandas. Não lembro quem viva nos pisos de baixo, se é que eram habitados.
Em frente à nossa rua, havia um campinho de futebol, o que permitia ver a rua que corria paralela à nossa, e nessa rua estava o Gouveia.
Era uma birosca que por falta de outra designação chamávamos pelo nome de seu proprietário. Aí se vendia arroz, feijão, cebola, cigarro, cachaça, cerveja e tudo mais que compõe a cesta básica. Tinha também uma mesa de sinuca pequena.
Era no Gouveia que, nos sábados de manhã, nos reuníamos, o Quique, o Maurício e eu. Patrícia ia vez por outra levando as crianças e sempre aparecia algum outro amigo que pernoitara numa das casas ou que por aí passava.
O Gouveia, propriamente dito, tinha uma boa cara amarrada de dono de birosca, pouco sorria ou falava. Fiava às vezes. Nos sábados, ele também estava festivo e preparava para si, num imenso copo duplo, uma mistura de muitas bebidas destiladas que ia debicando devagar.
Patrícia se sentava ao lado de um caixote de cebolas e meio à sorrelfa, meio descarada as ia descascando e comendo-as cruas à modo de tira-gosto.
Não lembro sobre o que conversávamos, mas sim dos rostos sempre sorridentes dos amigos. Quique movia muito a cabeça, daí seu apelido: Canário. Maurício era imbatível no bom humor e nos palavrões que soltava como exclamações e interjeições, a torto e a direito.
Foi  no Gouveia que conheci Lia. Acho que ela dormira na casa de alguma amiga que viva aí por perto. Talvez a Beth, não sei. Sei que a vi, alta, com sua postura de bailarina, as costas muito eretas e pernas que não acabavam mais. Tão morena tropicana, tão mulata assanhada com seus cabelos muitos de muitos cachos e um sorriso doce e cativante cheio de brejeirice. Era de perder o juízo, a compostura. Eu fiquei encantado.
 Hoje fico imaginando a cara de babaca que eu devo ter posto diante daquela visão. Lia tinha 19 anos, usava umas calças brancas, justas, que torneavam suas pernas e sua bunda de novelo. Ficou pouco tempo entre nós e foi-se ladeira abaixo levando atrás de si meus olhos compridos de vinte e poucos anos.
Anos depois, estávamos, Lia e eu, na sua casa  tendo um desses papos que prometem mudar o curso da história. Discutíamos sobre a rivalidade entre Marlene e Emilinha Borba. Ambos preferíamos Marlene. 
Lia, que não é mulher de dar opinião que não justifique, disse, para desabonar Emilinha, que a Preferida da Marinha era muito “assim” e, dito isto, levantou os dois dedos indicadores na altura dos ombros alternando um e outro num movimento de sobe e desce. Aquilo era Emilinha sem tirar nem pôr.

Hoje, sempre que vejo Emilinha nos velhos filmes da Atlântida ou mesmo quando ouço seu nome, lembro de Lia e daquelas manhãs de sábado no Gouveia.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mais partidos


Não faço idéia de qual seria a melhor solução. Não comparto a opinião do Ministro Joaquim Barbosa, e de muitos outros, que defendem que a cláusula de barreira deveria ser adotada em nosso ordenamento jurídico eleitoral. Segundo andei lendo, a lei restritiva só existe na Alemanha e foi imposta pelos americanos durante a ocupação que sucedeu à segunda guerra. E só foi implementada para impedir o crescimento dos comunistas naquele país. Foi uma lei casuística que acabou por cristalizar-se.  
Creio que os fatos, e não a restrição legal, é que deve inibir a criação de partidos, mas talvez a proibição de alianças nas eleições proporcionais tornasse menos lucrativo o comércio das legendas de aluguel e dos balcões de negócios como os recém-criados PROS e Solidariedade, por exemplo, e talvez até servisse para tornar pouco interessante a manutenção de PR, PRB, PSC, PSL e outros bichos, por parte de seus proprietários.
Quanto à cláusula de barreira, até eu, que sou mais bobo, consigo imaginar 2 ou 3 maneiras de burlá-la se o interesse é apenas fazer negócios.
Há bem pouco tempo a legislação eleitoral foi modificada para evitar-se o troca-troca de legendas por parte dos parlamentares. Uma das possibilidades para que um parlamentar deixasse o partido para o qual fora eleito, seria para ingressar numa nova sigla. A medida, que parecia ser moralizadora, degringolou na criação indiscriminada de partidos que nada têm que os diferencie dos já existentes.
Além dos 32 partidos legalizados e aptos para disputar o pleito de 2014, outros estão em vias de legalização, certamente visando às eleições municipais de 2016 e prósperos negócios em 2018.
Essa nova leva de legendas  conta até mesmo com a ARENA, Aliança Renovadora Nacional. Pois é, querem ressuscitar o cadáver putrefato e insepulto. Porém, segundo sua presidente, Cibele Baginski, a nova sigla nada tem a ver com aquela que apoiou a ditadura. É tudo ‘novo e jovem”. Tudo “focado na democracia atual” seja lá o que isso queira dizer.
Mas essa novidade toda não se vê na página da ARENA no facebook. As postagens  que lá vemos, variam de citações tiradas de filmes de Hollywood a declarações dignas de um Bolsonaro ou de um Brilhante Ulstra.
Em uma foto postada por integrantes do partido, está uma faixa com os dizeres: “Um partido de direita com pessoas direitas”. A frase é ruim. Melhor seria: "Um partido de direita para pessoas direitas" ou "Um partido de direita feito por pessoas direitas. (Se quiserem usar  essa minha humilde sugestão, que paguem).
Cibele e seu partido querem ocupar um nicho eleitoral abandonado e que se expressa nas caixas de comentários dos sítios informativos e no facebook: o da direita sem vergonha de ser histérica, golpista, paranóica e saudosa dos milicos.
Outra agremiação que surge é o Dempro, Partido Democrata Progressista. Seu presidente, Ronaldo Nóbrega, diz que falta espaço nos outros partidos para eleitores que querem candidatar-se, mas entre suas propostas iniciais não há nada sobre como tornar possível uma candidatura tendo em vista o custo das campanhas atuais.  
O Dempro se posiciona como partido de centro, algo assim como “fazemos qualquer negócio” e propõe o voto facultativo, a diminuição da carga tributária e garantia de maior espaço para os jovens na política.
O PLB, Partido Liberal Brasileiro, também tem como meta ressuscitar cadáveres, nesse caso, o Partido Liberal (PL) que chegou a fazer alguma fumaça no fim dos anos 80. Guilherme Afif Domingos foi seu candidato à presidência em 89, chegando a estar entre os mais citados nas pesquisas de intenção de votos no começo da campanha eleitoral, que teve um número jamais igualado de candidatos.
O PLB já nasce com o discurso de não ser nem oposição nem situação e é, na verdade, apenas o fruto de uma briguinha na Assembléia Legislativa do Rio. Um de seus idealizadores é o deputado Domingos Brazão.
O ex-aliado de Sérgio Cabral queria eleger-se presidente da Assembléia Legislativa, o Governador tinha preferência pela continuidade de Paulo Melo, daí nasceu mais um partido.
Eu tenho a impressão que Brazão  resolveu ressuscitar o PL pela simples coincidência de chamar-se Domingos, assim como Guilherme Afif. Se seu nome fosse Jânio, teríamos de novo a UDN.




quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Repressão


Em São Paulo, o Governador Picolé de Chuchu voltou a autorizar o uso de balas de borracha pela polícia para tentar conter as manifestações em curso. O uso do artefato estava suspenso, creio, desde que uma repórter quase ficou cega depois de receber um disparo à queima roupa.
No Rio, a Polícia Civil de Sérgio Cabral, o governador que de tanto trabalhar enriqueceu mais rápido que o Bill Gates, promete autuar os manifestantes por formação de quadrilha. Como todos sabemos, quadrilha é especialidade da polícia carioca.
No Rio grande do Sul, o Governador Tarso Genro mandou sua polícia em missão de busca e apreensão à casa de manifestantes para obter provas de participação em atos de vandalismo. A Polícia Civil daquele estado confiscou um laptop, cadernos e um livro de teoria marxista. Agora já podem processar o agente vermelho do comunismo apátrida e ateu.
Nesse campeonato de boçalidade que conta com apoio das grandes redes de TV, jornais e da população reaça em geral, as polícias de vários estados tentam subir na tabela. Se no Rio Grande está proibido ler Marx, no Rio de Janeiro o que está proibido é o vinagre. Quanto ao azeite de oliva eu nada sei.
Também na Cidade Maravilhosa, um policial postou numa rede social da internet sua foto e de seu cassetete quebrado após um “confronto” com professores. O cana dizia, fazendo chacota, estar indo encontrar os professores.
 Outro puliça forjou, diante das câmeras de TV, um flagrante de posse de morteiros pra cima de um garoto. A TV Globo e seu bebê, a GloboNews, só mostraram as imagens do crime, pode ter certeza, com medo de levar um furo das concorrentes.
Na Capital da República, assim como em várias capitais estaduais, o uso de máscaras por parte de manifestantes está proibido. A “Lei Erasmo Dias” não sofre críticas por parte dos meios de comunicação, muito pelo contrário. As emissoras de TV, após cada sessão de porrada promovida pela polícia, repete as palavras vândalos, baderneiros e mascarados tantas vezes que até parece aquelas propagandas de supermercado anunciando a promoção do chã, patinho e lagarto.
Sobre a atuação truculenta da polícia, a única voz que se fez ouvir desde o Planalto foi a da ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário:_ “Continuamos com um modelo de polícia que herdamos da ditadura”.  Sem dúvida, um modelo de polícia e um vezo autoritário que muitas vezes é apoiado pela sociedade.
A contribuição da grande (?) imprensa para desqualificar quem é vítima da truculência policial, é imprescindível. Daí a terminologia recitada como mantra pelas emissoras de TV comercial: vândalo, baderneiro, mascarado. Chã, patinho e lagarto.



Mascarados


Era o começo do governo de Lula e o pacote e maldades foi aberto. A reforma da previdência, que o PT conseguira evitar durante o governo de FHC, estava sendo posta em prática por esse mesmo PT. O Ministro da Previdência Social era Ricardo Berzoini.
Havia a suspeita que aposentadorias de pessoas de mais de 80 anos estavam sendo fraudadas ou recebidas por parentes após a morte do segurado. O que fez o Ministro para coibir as supostas irregularidades? Ordenou um recadastramento, com a presença, nas agências da Previdência, dos beneficiários. E o que fez Berzoini para obrigar o comparecimento dos idosos? Cortou o pagamento do benefício.
 Na TV foram mostradas imagens de homens de mais de 60 anos carregando nos braços suas mães de quase 90 para que estas não perdessem os minguados proventos. Pessoas em cadeiras de rodas ficaram horas na fila esperando atendimento. Muitos chegavam de longe amparando-se como podiam, muitos, sós. Todos com mais de 80 anos. No fim da vida, a suprema humilhação. Eu jamais havia visto tanta crueldade, tanta insensibilidade por parte do poder público para com os velhos.
No dia seguinte, num estúdio de TV, Berzoini foi confrontado com as cenas de tortura e descaso e questionado se não se sentia na obrigação de pedir desculpas pelo ocorrido. O Ministro coçou um de seus queixos (ou os dois, não me lembro bem) e disse que não, afinal, segundo ele, os problemas mais graves só haviam ocorrido nas agências do Rio.
Mas você, minha amiga, que é jovem e talvez não tenha lembrança daquelas cenas terríveis, deve estar se perguntando:_Por que o ministro não ordenou visitas de fiscais da Previdência às residências dos velhos para fazer o recadastramento? Por que não usou de inteligência para detectar as fraudes? Ora, porque Berzoini é uma besta. Vê-se-lhe na cara, no olhar bovino, nas acacianas ponderações.
Bem, era aqui que eu queria chegar: na obtusidade do ex-ministro e ex-presidente do PT.
Assistindo outro dia na TV, a sessão da Câmara dos Deputados, pude ouvir de Sua Excelência um pequeno discurso. Comentava o deputado de 4 mandatos sobre as manifestações que estão acontecendo no país. 
Berzoini criticava os vândalos, os baderneiros, os mascarados. Dizia o ex-presidente do PT que ele e os de sua geração combateram a ditadura com o rosto descoberto. Queria dizer com isso que o uso das máscaras, por parte de alguns manifestantes, os desqualificava.
Berzoini fazia um discurso que me fez lembrar de Erasmo Dias, o louco coronel que foi Secretário de Segurança de São Paulo durante a ditadura e que chegou a proibir máscaras no carnaval. Imagino que o ex-ministro deva apoiar a proibição das máscaras em manifestações públicas por parte de diversos governos estaduais.
Não quero fazer juízo de valor sobre a atuação dos grupos que crêem que destruindo símbolos do capitalismo o estão combatendo, mas qualquer um sabe que se identificados, eles podem ser processados pelos danos causados ao patrimônio público ou privado. Por isso a necessidade das máscaras. Eles crêem que o fim que almejam, seja lá qual for, justifica a depredação, o quebra-quebra, assim como os companheiros dos anos 70 viam num assalto a banco, mesmo pondo em risco a vida de clientes e funcionários, uma ação legítima.
Quando Berzoini e os de sua geração combatiam a ditadura, também era necessário esconder-se sob a máscara da identidade falsa, do nome falso, pois estavam sujeitos à lei de segurança nacional. Nada mais óbvio do que ocultar-se. Nada mais legítimo que esconder o endereço, a identidade, o rosto sob uma barba, os cabelos sob uma peruca.
Esses moços mascarados vêem no governo atual algo a ser combatido. Vêem a política de forma extremamente negativa e crêem que nada se pode fazer pela via democrática do voto. E aqui reafirmo que não estou fazendo juízo de valor sobre os manifestantes nem corroborando sua visão de mundo. Apenas sei que há muitas maneiras de pensar e de combater.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Partidos para vender e alugar


A criação do partido de Marina Silva foi apenas adiada, mas quando for registrado oficialmente o Rede Sustentabilidade, é bem possível que sua idealizadora já não faça mais parte de seus quadros. Marina anda muito irrequieta. Tudo vai depender do desempenho eleitoral do PSB, se é que Marina chega até as eleições nesse partido. Com a nova Marina tudo é possível.
Enquanto Marina Silva tentava criar às pressas seu partido, vimos outras duas novas legendas obterem seu registro: o PROS e o Solidariedade. Com eles chegamos ao incrível número de 32 legendas aptas para disputar eleições e abocanhar as verbas do fundo partidário. Isso sem contar com o precioso tempo de rádio e TV de que disporão para fazer seu comércio.
Desses dois partidos já sabemos o que esperar. O passado de seus fundadores fala por si. Não há um sequer que não tenha transitado por várias legendas. Sabemos de antemão que em nada contribuirão para a democracia nem para a representatividade. Tal qual o partido de Marina, eles nascem para acomodar ambições pessoais, sejam elas eleitorais ou outras ainda menos nobres.
O PROS, bem antes da homologação de seu registro, apresentou o cartão de visitas numa publicação que fez distribuir em Brasília. Dizia o panfleto:_”Insatisfeito com seu partido? Quer sair dele sem perder o mandato? O PROS é a mais nova opção.”
Assim de simples, sem sutilezas que pudessem gerar dúvidas. Um convite às claras ao oportunismo e à burla ao ordenamento jurídico Mas não é só. O PROS não exige apresentação de ficha limpa para quem queira se filiar, nem currículo, nem nada. “É só assinar a ficha”, dizia ao telefone, seu primeiro tesoureiro, Niomar Calazans, aos interessados.
O PROS, cuja figura de proa é o ex-vereador de Planaltina (GO), Eurípedes Júnior, pagou aos coletadores de assinaturas, R$ 0,25 por firma válida. Eurípedes já passou pelo PSL e pelo PRP.
Outra figurinha carimbada do partido recém-formado é Givaldo Carimbão, relator do projeto de lei que instituiu a volta à idade média na política anti-drogas do país. Carimbão deixou o PSB na companhia dos irmãos Gomes (Cid e Ciro) para aderir á nova legenda que tem entre seus quadros a fina flor do reacionarismo religioso.
O PROS vai para o congresso para engrossar a base de sustentação do governo, mas lideranças do partido, ligadas às igrejas neo pentecostais já avisaram que serão independentes quando o assunto for de ordem religiosa ou moral. Claro.

Já o Solidariedade, que tem em Paulinho da Força seu líder e maior expressão, vai para a oposição e deve apoiar a candidatura de Aécio Neves à presidência. Assim como o PROS, o partido de Paulinho já nasce sob suspeita de fraude. Até a assinatura de uma juíza eleitoral está sob suspeição de ter sido falsificada. Ou seja, o Solidariedade começou com o pé direito na política partidária brasileira.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Deus boleiro


 Não, não é a fome que sofre 1 de cada 8 habitantes do planeta, nem as guerras, nem as secas, nem a devastação ambiental. Tampouco a pedofilia praticada por padres, pastores bispos de araque. Não, o que parece ser a prioridade de Deus são os jogos de futebol. Pelo menos assim pensam os atletas de Cristo.
Ao fim de cada partida ouvimos dos jogadores vencedores, que Deus os honrou com gols e vitórias, que Deus lhes foi fiel. Não importa se na equipe adversária haja número igual de crentes. O verdadeiro fanático crê que ele e Deus têm uma relação pessoal e que sua prece e dízimo valem mais que os de outros. Que seu clamor foi atendido, e daí o gol, o título de campeão, o contrato na Europa. E haja dedinhos apontando para o céu após cada tento.
Se há alguns anos atrás, tínhamos somente boleiros como atletas de Cristo, hoje temos surfistas de Cristo, lutadores de Cristo, skatistas de cristo e, certamente, jóqueis de Cristo. Para estes, deve existir um Deus que abençoa pules, e dá agulhadas e chicotadas em cavalos. E por que não Deus nas rinhas de galo?  Um Deus de cócoras afiando esporões? Se Deus se mete nas peladas da 2ª divisão do campeonato gaúcho, por que não nas rinhas de galo ou nas praças de touros?
Como a prática de aliciar crianças é comum entre os fanáticos, em breve teremos os jogadores de bolinha de gude de Cristo e soltadores de pipa de Cristo usando cerol abençoado. (Taí, nessa o Valdemiro ainda não pensou).
Claro, o que nos toca mais de perto são os boleiros. O jogo da bola é nosso esporte mais popular. Entre seus praticantes é que, crianças, encontramos nossos ídolos. 
De olho não só nos polpudos dízimos que desembolsam os jogadores fanatizados, mas principalmente no poder de aliciamento que detêm os craques, é que os donos de igrejas, templos e outros bazares os transformam em zumbis da fé. 
Os atletas de Cristo, sequer se dão ao trabalho de tirar a camisa do clube que amamos para fazer proselitismo religioso. Pelo contrário. Imagino que eles devam ser orientados para buscar adesões de novos fieis no calor da vitória, na alegria da conquista. Ainda suados e com as canelas em frangalhos, esses moços, fazem gratuitamente propaganda para o que há de mais lucrativo no mercado da empulhação.
Associando seu deus a jogos de futebol, os atletas de Cristo o transformam num ser fútil, banal, irresponsável de suas obrigações de criador, de dono do mundo. O tornam ridículo.



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A ultradireita vem aí


Minha mãe me contava casos do tempo da guerra. Me dizia, que em sua cidade, no sertão mineiro, existia uma representação da Ação Integralista Brasileira, de Plínio Salgado, a versão tupiniquim do nazifascismo. Seus militantes desfilavam de camisa preta e, braço em riste, berravam: _ Anauê!
Confesso que para mim era difícil acreditar que naqueles cafundós houvesse tal politização. Até mesmo a existência entre nós de um partido cujo modelo eram as ditaduras de Hitler e Mussolini, me parecia irreal.
Como num país mestiço, extremamente mestiço, podia vingar a ideologia da supremacia racial? Na Alemanha nazista, bastava 1/8 de sangue não germânico para que qualquer pessoa sofresse perseguições. Como adequar tal visão de mundo à realidade racial do Brasil? Sei lá. Ou melhor, vendo que pouca gente no país se dá conta de sua miscigenação, acho que posso fazer uma idéia.
Ademais, nossa xenofilia não é de agora. Qualquer coisa, por mais absurda e grotesca que seja, mas que venha da Europa ou de qualquer outro país rico, aqui é vista, por nossas classes abastadas, como modelo a ser seguido. São essas classes que dominam a informação e sua propagação.  Ditam gosto, moda e ideologia.
Assim que devemos temer por uma nova onda de direitismo no Brasil, pois a direita cresce na Europa sob as mesmas condições que ascendeu nos anos 30: crise econômica e financeira, descrença na democracia burguesa, falta de representatividade dos partidos tradicionais, et cetera.
Os exemplos da ascensão do ultra direitismo na Europa são muitos, incontáveis e nem é preciso que esteja no poder para fazer sentir sua força. Os partidos da direita tradicional e mesmo outras agremiações políticas que transitam pelo nebuloso espectro da centro-esquerda, compram com facilidade suas teses quando o que está em jogo é o voto.
Na França, o partido da Frente Nacional, comandado por Marine Le Pen, está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a eleição dos eurodeputados. Na tentativa de não perder terreno no campo do conservadorismo, o governo “socialista” de Hollande, vai expulsar, só este ano, mais de 20 mil estrangeiros ilegais do país da igualdade e da fraternidade. A estratégia já havia sido adotada por Sarkosy. A perseguição de minorias sempre agrada ao eleitorado conservador e sacia, por um tempo, a sede de violência dos ultradireitistas.  
Na Inglaterra, a ministra do interior, Theresa May, anunciou uma nova legislação para “tornar hostil o ambiente para imigrantes ilegais”. Entre as medidas anunciadas, está a impossibilidade de indocumentados recorrerem ao sistema de saúde e alugarem imóveis.
Na Itália, a xenofobia manifestou-se de maneira trágica na última semana quando barcos pesqueiros não socorreram as vítimas do naufrágio de uma embarcação de imigrantes. Segundo as vítimas sobreviventes, os marinheiros se limitavam a filmar o desespero dos náufragos. A resposta do governo italiano para o crime foi o enterro das vítimas fatais com honras de chefe de estado e a promessa de uma investigação. Outra medida, e esta sim será certamente implementada, é a maior vigilância nas águas territoriais italianas para evitar que imigrantes indesejáveis morram diante dos olhos sensíveis dos turistas e habitantes da Ilha de Lampedusa.
A mão de obra barata e farta dos imigrantes, que até bem pouco tempo alimentava os lucros das empresas européias, já não é mais necessária. A recessão paralisou o consumo e a produção. O desemprego cresce e agora esses trabalhadores são vistos como estorvo. São apontados como delinqüentes, prostitutas e, principalmente, usuários indesejáveis dos serviços públicos.
Não que os fatores objetivos da crise européia estejam presentes no Brasil, mas se vem de lá o ultradireitismo, pode estar certa que fará sucesso aqui.



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Marina, a farsa


Pois é, o partido-ternura de Marina Silva não saiu. Talvez tenha sido melhor assim. Principalmente para os que já iam se iludindo com a proposta, ou melhor, com a falta de propostas concretas e palavreado vazio que forma  a base ideológica do Rede Sustentabilidade.
Não precisou passar nem 48 horas depois do STE ter negado seu registro por falta do apoiamento necessário, para os seguidores e eleitores de Marina Silva terem sua dose nada homeopática de decepção.
O Rede Sustentabilidade sustentava sua falta de propostas e de programa de governo sobre o frágil alicerce da “horizontalidade”. Diziam os marinistas que, no Rede, tudo seria feito seguindo uma agenda proposta pelos próprios militantes e simpatizantes, através da rede de computadores, esse novo fetiche dos políticos e marqueteiros.
Que nada, Marina apareceu muito fagueira no PSB sem nenhuma consulta às bases do Rede. Para lá foi por vontade própria levando o nome do partido e, segundo alguns analistas, no seio de uma articulação da oposição de direita.
Em seu discurso, ao lado do socialista de araque, Eduardo Campos, Marina falou em aliança programática. Ora bolas, se o Rede sequer tem um programa! Aliás, nem precisa, afinal o que é um programa de governo, um estatuto partidário, nos dias interessantes que vivemos?
A ex-senadora também adotou os bordões “velha política” e “velha república” além de falar em partido clandestino referindo-se ao Rede Sustentabilidade. Ela quer que creiamos que aliando-se à Eduardo Campos, aos Bornhausen e à Heráclito Fortes, está construindo algo novo na política partidária nacional.
Marina Silva, a filha dos seringais, tornou-se uma típica personagem política brasileira: personalista, vaidosa, pragmática.
 Detentora de um cabedal de mais de 20 milhões de votos, conquistados na última eleição presidencial, Marina se crê invulnerável às críticas. Evangélica, se crê predestinada. Ela, que durante os piores momentos do Governo Lula (reforma da previdência, CPI dos Correios, intervenção no Haiti), manteve-se muito cômoda no Ministério do Meio Ambiente, sem nada ter produzido de concreto no comando da pasta, agora fala em “chavismo” como algo a ser combatido no Governo Dilma. Quando alguém começa a falar em chavismo, já sabemos aonde quer chegar e com quem quer aliar-se.
O que mais se questionou sobre a ida de Marina Silva para o PSB é o papel secundário que ela assumiria na chapa de Campos. Outras legendas como o PDT, o PPS e o PTB ofereceram o protagonismo à Marina.

Alfredo Sirkis, um aliado próximo à acreana, não poupou críticas quanto à escolha e à própria Marina. Disse o ex-verde: _ “Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos (...). Possui, no entanto, limitações, como todos nós. Às vezes falha como operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares”.  
No dia seguinte, Sirkis disse que as críticas que fizera eram assunto superado e que acompanharia Marina em sua aventura “socialista”. Muito coerente, muito coerente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A paixão pelo futebol


Como ainda conseguimos gostar de futebol? São tantos os desmandos de dirigentes, tantas as manobras de políticos aproveitadores, tantas as falcatruas e interesses empresariais que fica difícil acreditar na lisura das competições, na verdade dos resultados.
O caso do árbitro Edilson deu uma pequena amostra do submundo que atua no futebol. Mas é quase nada. Coisa de ladrões de galinha se comparado ao que faz a FIFA, a CBF e outras instituições geridas por engravatados pilantras internacionais. Sem contar os empresários e agentes.
As emissoras de TV, com seus interesses comerciais milionários, também colaboram para o descrédito do futebol. Se uma emissora detém os direitos de transmissão de alguma competição, esta será enaltecida e seus organizadores livres de qualquer opinião crítica dos profissionais da emissora.
Quer um exemplo? Os comentaristas da ESPN Brasil (?), sempre tão críticos com relação ao nosso calendário, nada disseram sobre a aberração da Copa do Brasil deste ano competir com o Campeonato Brasileiro em sua fase decisiva. Claro, eles transmitem a Copa e não o Campeonato. E é óbvio que clubes que não disputam o título nem temem o rebaixamento como o Botafogo, o Atlético Paranaense e o Internacional, vão ‘abandonar” o Campeonato Brasileiro e dedicar-se a Copa do Brasil se chegarem às semi-finais e final.
 As transmissões esportivas estão cada dia piores. Parece que para exercer a profissão de narrador esportivo o sujeito tem de provar ser possuidor de um QI abaixo de 30 e ser mais chato que almoço de domingo na casa da sogra. Os comentaristas ou são ex-atletas semi- alfabetizados ou chatos da escola paulista de palpiteiros. Há honradas exceções, mas são poucas.
Assim que para alimentar nossa paixão pelo futebol só temos nosso time de coração e os jogadores com seu talento. Isso, claro, enquanto a bola está rolando, pois depois do apito vêm as entrevistas e temos que escutar toda espécie de baboseira religiosa desses novos fanáticos. Todos evangélicos. Eles crêem que seu deus os abençoa com gols e vitórias e esquecem que entre os adversários há número igual de fanáticos que, muitas vezes, freqüentam as mesmas igrejas. Mas para quem acredita em cobra falante e virgem parideira, é fácil acreditar num deus boleiro.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

De calcinha, fritando um ovo


Ando sempre fazendo o que condeno que outros façam. Tenho essa falha de caráter que se junta à muitas outras para formar o buquê de minhas vergonhas. Não alego que seja tarde para mudar, nunca é. Acontece que sou preguiçoso e comodista, mais que nada, acomodado nas minhas fraquezas. Paciência.
Como já disse aqui, nada mais chato que um contador de sonhos. E há muitos. Seu defeito não é apenas narrar o sonho que teve, mas mentir sobre ele. O contador de sonhos cria enredos mais inverossímeis do que os da novela da Globo para seus sonhos. Sabemos que tais enredos não habitam o mundo onírico. Apenas escutamos, pacientemente, o contador de sonhos e nos entediamos em silêncio. Jamais lhe cremos.
 Acho que Jung é que era o especialista nesse negócio de sonhos. Eu nunca li Jung. O mais perto que cheguei da interpretação dessas manifestações do subconsciente, foi em 78. Eu morava no Méier e li um livro do Erich Fromm que abordava o tema. Pouco me lembro daquela leitura. Já faz tempo e o livro não foi tão impactante assim. Lembro sim, que morava no Méier. Do lado de lá da via do trem, do lado do Jardim do Méier, da igreja, do hospital e dos bombeiros, na Visconde de Tocantins.
Bem, como sugeri vou relatar um sonho e lhe dou toda a liberdade para, sem nenhuma cerimônia, abandonar aqui mesmo essa narração que já está adiantada sem nada ter dito.
Minha tardança vem do constrangimento que me causa contar o que sonhei, ou melhor, em contar com quem sonhei. Pois lá vai: eu sonhei com a Gleisi Hoffman.
Não foi o tipo de sonho que você está pensando, minha lúbrica amiga. Nem acho que a figura da pequena ministra se preste aos sonhos libidinosos. Não que seja desprovida de encantos, não. A baixinha até que é bonitinha com seu olhar de míope. Tampouco são seus ministeriais tailleur que impedem um sonho licencioso. Não é isso, já despi, em pensamentos, muitas mulheres de tailleur. Ministras inclusive. Ministras da Suprema Corte inclusive.
O que faz de Gleisi inacessível ao sensual é seu jeito de filha de pastor luterano, seu cabelo de rainha do laquê imune às ventanias e, principalmente, sua maneira de falar; impositiva, inflexível, chata. 
Pois é, Gleisi tem jeito de mulher chata. Mesmo num sonho ela não deixa de parecer chata. Não consigo sequer imaginá-la indo de calcinha fritar um ovo restaurador de energias ou saltando suada da cama a buscar uma cerveja para o refrigério. Acho que Gleise jamais fritaria um ovo para mim depois do amor. Gleisi não freqüentaria aquele apartamento conjugado e eu não a veria sair da cama de calcinha para fritar um ovo.
Não posso ter um sonho erótico com uma mulher que não consigo imaginar, de calcinha, numa tarde quente, fritando um ovo num apartamento conjugado.








domingo, 6 de outubro de 2013

Marina entrou na dança


Depois de deixar o PT, disputar eleições pelo PV e tentar fundar o Rede Sustentabilidade, agora vemos Marina Silva desembarcar, muito fagueira, no PSB. Será, provavelmente, candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos.
Bem, até aqui nada de mais, afinal trocar de partido a cada virada da maré é comum entre nossos políticos. Ingressar no PSB também não é novidade. O Partido Socialista Brasileiro há muito tempo virou uma espécie de casa de passagem de trânsfugas, oportunistas, salafrários e afins. Quer um exemplo? _ Os Bornhausen de Santa Catarina estão no partido. Pois é, depois de seu pai, Jorge, ter apoiado a ditadura e freqüentado seus porões na condição de visita ilustre, Paulinho Bornhausen se filiou ao Partido Socialista e já faz parte de sua executiva estadual.
Na posse do filho dileto da família de banqueiros catarinenses, esteve presente o próprio Eduardo Campos que aproveitou sua visita ao sul para palestrar. Sim, Eduardo palestrou. Não o fez nos sindicatos, nas associações de moradores nem nas universidades. Não, Eduardo palestrou na Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina e depois partiu para o Rio Grande. Lá expôs seu ideal socialista para representantes do setor rural e visitou a Expointer, a Disneylândia do latifúndio.
Outro ilustre neo-socialista é Heráclito Fortes. Heráclito, que já andou pela ARENA, PP (o antigo), PMDB, PDT, PFL e DEM, também converteu-se ao socialismo de Eduardo Campos. É pela legenda socialista que, provavelmente, disputará uma cadeira na Câmara Federal em 2014.
O PSB de Campos é hoje o mais bem acabado exemplo do bundalelê que é a política partidária brasileira.
Ao receber Marina Silva em seu partido-albergue, Eduardo Campos discursou.  Citou-a como uma filha do povo que estava dando uma lição de não sei o quê ao país. Campos, como quase todos os socialistas desse país, se mostra muito encantado e surpreso quando encontra alguém saído das classes populares. Não é costume dos socialistas daqui tal convívio. Na maioria dos casos nossos socialistas preferem as discussões sobre a revolução social em ambientes refrigerados e sob os eflúvios de um bom uísque. Ficam realmente espantados que alguém, que poderia ser um parente de seus serviçais, saiba conjugar os verbos e comer usando talheres.
Campos, um desses socialistas nascidos em solares senhoriais, está muito feliz de poder exibir sua nova aquisição: uma filha do povo.
Marina, por sua vez, tem mantido distância segura de temas proletários e demandas populares. Seu discurso pode ser ouvido e entendido em qualquer apartamento do Leblon, em qualquer restaurante dos Jardins. Marina, a filha dos seringais, vai aos poucos se transformando num adorno exótico para ser exibido nas salas dos inconfessáveis interesses políticos.



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

As paixões


Nada tenho contra a paixão, pelo contrário. Sou daqueles que pensam como Nelson Rodrigues e repito a frase do mestre: Sem paixão não se pode nem tomar um chicabom.
Claro, nesse ponto, para melhor calçar o que quero dizer, deveria acrescentar: _Mas paixão tem limites. Não, não vou escrever tal coisa. Não acredito que as paixões precisem ter limites. Com freios, com anteparos, a paixão fica algo assim como uma grande simpatia. Nada mais. Se for paixão tem de ser desenfreada.
Até aqui não pude mais que pensar e sugerir a paixão da carne, aquela doida. Mas há outras, não tão belas, não tão avassaladoras, mas com algo em comum: todas nos tiram a razão.
A paixão política, por exemplo, é o tipo acabado de paixão capaz de fazer o sujeito perder o controle, a razão, o bom senso. É um tipo de paixão que nem sequer se dá ao trabalho de passar um batom vermelho, de vestir aquela calcinha preta. A paixão política é chucra, é brusca, é, muitas vezes, tosca. Veja se não é o que temos visto nos últimos meses no Brasil.
Durante o julgamento do mensalão, os ministros da Suprema Corte transformaram-se no foco dessa paixão. Mais que os réus, foram citados. Mais que os condenados foram execrados.
Dependendo do lado do balcão onde se encontrasse o apaixonado  crítico de ocasião, Suas Excelências eram tratadas como vis ou sublimes, agentes da mais pura justiça ou paus mandados da oposição golpista.
Por fim, concluiu-se a parte principal do julgamento. Veio, conforme determina nosso ordenamento jurídico, uma segunda fase. Julgou-se a pertinência ou não dos embargos infringentes.
Em pelo menos um caso, houve troca súbita de opiniões sobre um de nossos ministros. Foi o caso do ministro Celso de Melo. Se antes era visto como herói pelos que queriam a punição dos mensaleiros e vilão pelos que defendiam a camarilha de José Dirceu, ao votar pela admissibilidade dos embargos infringentes, fez com que as opiniões a seu respeito se invertessem.
Agora temos a negação do registro do partido Rede Sustentabilidade, de Marina Silva pelo TSE e não há argumento jurídico ou lógico que faça as forças que debatem o tema arredarem pé de sua apaixonada postura.
Marina e seus seguidores acusam o Planalto de interferência no processo e colocam sob suspeita a ação dos cartórios eleitorais que deram como  inválidas mais de 90 mil assinaturas. Será isso possível? Claro que sim. Embora me pareça falto de lógica que em todos os cartórios eleitorais do país houvesse agentes do governo para criar embaraços para o Rede. Não haveria neles ninguém que denunciasse uma ação orquestrada, um ato fraudulento? É difícil.  Mas, que é possível, é.
Os que vêem fraude e maracutaia em todos os atos do governo esquecem-se que também é possível que entre as felpudas raposas que se mudaram de mala e cuia para o Rede, há quem possa facilmente fraudar assinaturas, corromper o processo. Também no partido de Marina, o passado condena a muitos de seus membros. Quer um exemplo? Em Belo Horizonte, o partido ameaça rachar mesmo antes de sua legalização (se é que haverá). Num manifesto, um dirigente do partido ataca outro usando termos como “truculência”, “falta de transparência”, “desonestidade intelectual”, “conduta antidemocrática”, “vale- tudo”, et cetera. Principalmente et cetera.




quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Perigoso marxista


A ditadura, além de sua face brutal, corrupta e boçal, também teve seus momentos de ópera bufa. É conhecido o episódio do sujeito que foi preso por ter sido encontrada numa batida policial em sua casa, uma obra de Eça de Queirós. Tratava-se do livro “A capital” que o agente da repressão confundiu com “O capital” de Karl Marx.
Em Juiz de Fora, uma família inteira foi presa por possuir uma bíblia em russo e houve até o caso de policiais irem a um teatro prender o autor de uma peça de cunho subversivo. Eles andavam atrás de Ésquilo ou Sófocles. Como não encontraram o elemento subversivo, quebraram as caras de alguns membros do elenco e foram embora.
Livros sempre foram objetos de profunda desconfiança de ditadores e seus agentes. Na cabeça de quem nunca leu nada além da revista Veja e os titulares dos jornais de crimes, a simples leitura de um livro de Marx transforma o sujeito em perigoso elemento subversivo, em comunista ateu capaz das maiores atrocidades como querer pôr em cheque os valores da família e da propriedade privada. Jamais lhes ocorre que o leitor pode ser crítico, pode discordar do que vem entre uma capa e outra. Os analfas funcionais vêem poderes mágicos nos livros e os temem. Criam índex, os queimam em autos de fé.
Outra operação de busca e apreensão, ocorrida em Porto Alegre também recolheu, entre outros bens, um livro de teoria marxista. A notícia que li não dá o título da obra, mas fala que a polícia gaúcha também levou um notebook, documentos e cadernos da casa de um estudante ligado a um partido de esquerda.
Sim, levaram um notebook, pois a notícia a que me refiro não é dos tempos funestos da ditadura e sim dos dias de hoje. 
Pois é, nos dias de hoje a polícia civil de um estado da federação governado por um político do PT manda sua polícia apreender objetos na casa de um estudante que teria participado dos protestos de Porto Alegre e estaria sob suspeita de praticar, incentivar ou promover vandalismo. E a polícia de Tarso Genro apreende um livro de teoria marxista como prova do crime.
Ao invés de explicar o mico protagonizado por seus comandados, o secretário de segurança do Rio Grande do Sul prefere mostrar seu profissionalismo esgrimindo o velho palavreado dos agentes da repressão. Fala do dever do estado e da polícia de investigar os acontecimentos que culminaram com a quebra das vidraças do Palácio do Tribunal de Justiça.
Ora, esse desvelo pela coisa pública, por parte do secretário, deveria se estender, por exemplo, às torcidas organizadas de futebol que a cada tanto promovem quebradeiras muito maiores, enfrentam a polícia e agridem violentamente quem lhes aparece pela frente e ficam impunes. Mesmo quando há detidos, não é aberto nenhum inquérito.
 Esse afã de fazer cumprir as leis poderia também ser aplicado na elucidação de crimes comuns como homicídios, estupros e assaltos a ônibus. Como se sabe, apenas 2% (dois por cento) dos inquéritos de homicídios levam ao indiciamento de suspeitos e punição dos autores.
Assim como na época da ditadura, o que preocupa as autoridades de segurança é a segurança dos grupos de poder que são ameaçados por alguma contestação. Seu intuito não é diminuir a criminalidade e sim extinguir as contestações.




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O partido de Marina


Quem teve a curiosidade de buscar os pronunciamentos de Marina Silva depois da fundação do Rede Sustentabilidade, deve ter tido, como eu, enorme decepção. As palavras de Marina sobre o partido são de um vazio impossível de preencher. Um discurso no melhor estilo “a nível de”.  Marina já não é a mesma faz tempo. Marina agora é articulada, seja lá o que isso queira dizer.
A tudo que lhe foi questionado durante o curto momento da euforia da fundação do seu partido, ela respondeu com ares e ditos de esfinge. Sequer quanto à posição ideológica do partido, suas palavras foram claras. Disse ela que “o Rede Sustentabilidade não será de direita nem de esquerda, mas à frente”. Ou então: “ Não somos nem oposição nem situação. Somos um paradoxo”. Me fez lembrar Kassab e seu PSD.
Quase tudo sobre o partido de Marina resvala pelo ridículo. Desde os nomes de felpudas raposas que querem posar de última bolacha do pacote da modernidade até o discurso que incorpora o termo “horizontalidade” que é usado até  quando o assunto é o racha que já ameaça o partido antes mesmo de ter seu registro no TSE.  Tem até um cachorro que freqüenta as reuniões e assinou,com a marca de sua pata, a lista de firmas necessárias para a formalização do partido. O animal pertence a um dos dirigentes do partido que deve ser egresso das empresas de informática dos anos 90. Naqueles tempos, moderno era levar o cachorro pro trabalho e andar de skate no escritório.
O racha, ou pelo menos o primeiro manifesto que confirma a briga interna, nada horizontal, no Rede, em Minas, é fruto justamente das raposas felpudas de nossa política que apostam sempre em novas siglas e discursos vazios para a continuação de suas carreiras. Dessas raposas o Rede tem várias. Nesse caso, o ex-deputado José Fernando Aparecido de Oliveira ( filho e herdeiro político de José Aparecido, ex-ministro e ex-governador do DF) que divide com o professor Cássio Martinho o comando do Rede em Minas. Foi o professor que assinou o manifesto e abriu uma ala já intitulada “Elo Rede”. José Fernando rebateu falando de horizontalidade.
É natural que o racha tenha como palco a capital mineira, afinal foi aí que Marina derrotou Dilma e Serra nas eleições de 2010. Lá está o melhor filão do Rede, o maior número de eleitores e a maior fatia de poder que o partido pode conseguir nas eleições gerais do ano que vem. Comandar o partido em Minas, significa influir mais diretamente nos seus rumos e acomodar mais aliados e protegidos nas futuras alianças que, pode estar certa, se farão.
Mas, como se sabe esse é o menor dos problemas do partido no seu afã de lançar a candidatura de Marina em 2014. O que está pegando são as tais assinaturas rejeitadas nos cartórios eleitorais. Mas o otimismo e a certeza de estar escrevendo a nova história da política partidária brasileira move seus dirigentes militantes e simpatizantes.
O mesmo otimismo, a mesma euforia se viu quando o Partido Verde foi fundado. Parecia o cúmulo da modernidade, seus fundadores eram vistos como os embaixadores do futuro com suas idéias tão europeiazinhas, tão primeiromundinhas. Hoje o PV faz aliança até com o DEM e entre seus quadros conta com Sarney Filho, aquela gracinha.
Ninguém sabe os motivos da saída de Marina do Partido Verde, sigla pela qual teve mais de 20 milhões de votos no último pleito presidencial. Tampouco se sabe o motivo do manifesto raivoso e acusador do Elo Rede, em Minas. Até as acusações nesse partido são vagas. O esfingismo de Marina parece ter contaminado a horizontalidade.