O cara é
apresentador de um programa esportivo e babaca profissional. Sempre que o
escuto tenho a impressão que o português é uma língua morta da qual extraímos
uma ou outra locução para embelezar o estilo, para colorir um período. Uma
espécie de latim de pé de serra. Mas ele, não confiando na erudição de seus
ouvintes, tão logo pronuncia uma frase inteira no idioma de Machado e Rosa,
logo a verte para o inglês. Claro que não é o inglês de Shekspeare nem mesmo o
de Bukowski. É esse inglês do universo corporativo, dos palestrantes
motivacionais, da tecnologia e dos livros de auto-ajuda. O inglês rastaqüera
dos mudernos da classe média.
Esse novo idioma
sequer tem a graça do inglês de cais do porto com o qual putas e malandros se
viram para atrair os gringos desembarcados. Não tem a inventividade do
embromation, nem a verve do Joel Santana. É o idioma dos colonizados natos, dos tronchos da palavra, dos analfabetos por opção e credo.
Se fosse apenas
nosso babaca profissional que se comunicasse assim, não haveria problema, era
só mudar de canal. Mas não. De nada adianta. Esse novo idioma está em toda
parte. Na TV por assinatura até o nome dos programas são em inglês e não me
refiro aos enlatados americanos somente. Não, já há programas brasileiros com o
título em inglês. Tem um de culinária cuja chamada nos convida a fazer
sobremesas fáceis e rápidas e no seu título consegui compreender a palavra
inglesa que significa sobremesa. Digo que consegui compreender porque os
locutores se esmeram tanto em pronunciar do jeito que lhes parece ser o sotaque
americano, que mesmo lendo a legenda (em inglês, é claro) fica difícil fazer a
correspondência do que vai escrito com o que é falado.
Faz alguns anos,
Aldo Rebelo, antes de se tornar ministro e defensor dos elefantes brancos
amazônicos, propôs uma lei para normatizar o uso do idioma na comunicação
social. A idéia amparava-se na Lei de defesa do consumidor visto que está
ficando impossível saber dos benefícios e utilidade de vários produtos
anunciados. Qualquer par de tênis, automóvel ou telefone celular, tem seu mote
propagandístico dito e escrito em inglês. Nos anúncios de imóveis já não encontramos o quarto, sala cozinha e banheiro que buscávamos nos classificados do Jornal do Brasil.
Por aquela época,
Rebelo foi convidado de vários programas de TV para falar de seu projeto de
lei, mas ninguém o levou a sério. Virou chacota e não mais se ouviu falar da
iniciativa.
Ao lado dos gênios da propaganda, as emissoras de
TV e seus apresentadores, tal qual nosso babaca profissional, são os maiores
difusores e entusiastas do hibridismo lingüístico que assola o país. Para eles
é sinal de prestígio falar assim, denota conhecimento da gringa, mostra que o
sujeito é viajado, ou seja, que foi a Disneylandia fazer turismo cultural.