Muita gente anda preocupada com o ódio político que se
alastra pelo país. O que acontecia apenas nas redes sociais e nas caixas de
comentários do sítios informativos da Internet foi para as ruas, para o corpo a
corpo.
O ódio e a irracionalidade que já separaram amigos, parentes
e casais pelo facebook e pelo twiter tende a separar o país em duas metades sem
que ninguém possa ao menos alegar que não está em nenhuma das metades. Parece
que só existem dois grupos: os petralhas, bolivarianos, comunistas e os
coxinhas, fascistas, leitores da Veja. (Assim nomeados por seus contrários)
A polarização inventada por marqueteiros e pelos interesses
escusos tem levado pessoas aos extremos da insensatez. Petistas negacionistas
do mensalão e analfabetos políticos que se manifestam nas ruas junto a
golpistas e psicopatas, tomaram para si o protagonismo político.
O ódio que os petistas vêem dirigidos ao seu partido na
verdade é o ódio da classe dominante e seus acólitos da classe média pelos
pobres, negros, índios e favelados. Esse ódio sempre se manifestou na escola
pública de má qualidade, no salário de fome, no latifúndio, na “entrada de
serviço” para uns e no elevador “social” para outros. Esse ódio sempre esteve
presente nos comerciais de TV, nas novelas, nas universidades de uso exclusivo,
nos saguões dos aeroportos, no foyer do teatro. Com o advento da Internet e das
redes sociais ele virou verbo, com as manifestações orquestradas pelos meios de
comunicação e difundidas pelas redes sociais virou ação.
Se muito desse ódio é dirigido ao PT, isso se deve ao fato do
partido ter tido a ousadia de eleger um presidente nordestino, ex-operário e
sem diploma universitário e seu governo ter implantado algumas políticas
sociais que em nada diferem das adotadas por países europeus. Talvez as cotas nas universidades para
negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública tenha sido a gota d’água
e os escândalos de corrupção o pretexto ideal para que milhares fossem às ruas
pedir impeachment e golpe militar.
Mas não é tanto o ódio que me deixa perplexo e sim a
boçalidade que parece ter tomado conta do país.
Dois fatos são exemplares. O primeiro deu-se na manifestação
do dia 15. Entre as muitas faixas e cartazes com dizeres dos mais grotescos, uma grande
faixa se destacou. Nela se lia: “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo
Freire.” É quase incrível que um dos maiores educadores do mundo seja tratado
dessa maneira em seu país. A ditadura já o havia proibido e exilado, agora sua
memória é vilipendiada pela boçalidade reinante. Quem poderia ser contra Paulo
Freire? Ora, os mesmos que não querem ver negros freqüentando faculdades. Os
mesmos que se calam (quando não aplaudem) diante da chacina da juventude negra
e favelada. Os que querem a redução da maioridade penal e a pena de morte. Os
fãs do Bolsonaro e do coronel Telhada.
O outro exemplo da estupidez sem limites vem, é claro, do facebook.
Uma postagem que vi há pouco, trazia as fotos de Lobão e Chico Buarque. Uma
frase as encimava: “Mais vale um Lobão com a bandeira do Brasil protestando na
Paulista que um Chico Buarque sentado em Paris com dinheiro da lei Rouanet
elogiando o governo”.
Comparar Chico Buarque e Lobão em qualquer área já é ridículo
por si só, mas quem propagandeou isso desconhece o que é credibilidade, ignora
fatos, contextos e bom senso. É simplesmente burro ou age de má fé. Como não
sou de duvidar da boa fé de ninguém fico com a hipótese da burrice crônica e da
boçalidade patológica.