sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Refrescando a memória


Por motivos que não vêem ao caso, pude acompanhar toda a CPI dos Correios. Assisti a todas as sessões, todos os depoimentos, todos os relatos, todas as confissões.
Lá se vão quase 9 anos e muita gente que hoje opina nas redes sociais e nos sítios informativos defendendo os políticos presos do P.T, sequer tinha idade para se inteirar da CPI que redundou na AP 470. Vai aqui um breve relato de fatos incontestes e não controversos da CPI dos Correios que serve também para refrescar a memória dos esquecidos.
Lembro bem de ver pela TV Câmara, Silvinho Pereira entrar no plenário da comissão mista para dar seu primeiro depoimento. Como todo baixinho, Silvinho chegou andando na ponta dos pés e cheirando nuvem. Era a pose do homem de bem,  a arrogância a escorrer pela gravata tamanho adulto, inapropriada para seu diminuto porte.
No segundo depoimento Silvinho era outro. Cabisbaixo, suas primeiras palavras pediam clemência. Citou que estava sem dormir e à base de remédios, os nervos arrebentados. Claro, entre uma e outra sessão de inquirição, foi descoberta a existência de uma Land Rover (ou similar) em seu nome. O automóvel havia sido um presentinho de gente que tinha negócios com o governo.
Neófito nessas questões de mimos empresariais, e nervosinho, Silvinho confessou o recebimento do regalo impróprio e antes mesmo de terminar a CPI, foi julgado e condenado. A pena foi branda: trabalho comunitário. Depois disso, Silvinho sumiu do mapa.
Outra confissão foi a de Delúbio Soares. Dizia o tesoureiro que tudo não passava de caixa dois de campanha. Aliás, Delúbio preferia usar um eufemismo para explicar o vai e vem de dinheiros suspeitos: recursos não contabilizados. Claro, todo mundo se lembrou das “sobras de campanha” de Collor e da operação Uruguai. O esquema de Marcus Valério ganhou o apelido de operação Minas Gerais por uns minutos até que a juíza, deputada e chata profissional, Denise Frossard, protestou alegando sua condição de mineira apesar do sotaque acariocado e de ser representante do povo fluminense.
Nem de longe Delúbio se parecia com o chiliquento Silvinho. Calmo e cínico, o professor Delúbio  falou em entrevista após uma das sessões de depoimentos, que a CPI logo seria esquecida e viraria piada de salão. Delúbio se equivocou. Ao comprar a bronca pelos recursos não contabilizados (crime meramente eleitoral), Delúbio, homem de partido, tentou livrar a cara de outros envolvidos de alto coturno. Não deu certo.
A única vez que Delúbio baixou a crista, foi para  explicar a existência de uma fazenda comprada, coincidentemente, quando o esquema de Marcus Valério bombava.
Assim como vimos mais tarde na CPI do Cachoeira, essa gente não faz negócios como todo o mundo. Também Marcondes Pirilo e Agnelo Queiroz tiveram que dar muitas explicações sobre  compra e venda de imóveis. Nenhum deles conta uma estória simples. Algo assim como:_Fui na imobiliária e o corretor me apresentou uns imóveis e eu escolhi esse. Não, sempre há terceiros envolvidos, parentes, empréstimos e negócios fechados no fio do bigode.
Esses dois réus confessos, Silvinho e Delúbio, foram julgados e condenados. Silvinho prestou, supostamente, serviços num hospital público e Delúbio está na Papuda. No caso de Delúbio, como não podia deixar de ser, as estórias truncadas continuam, e ele em vez de vender sua fazenda para pagar a multa que faz parte de sua pena, viu fluir para sua conta mais de 600 mil reais do dia para noite. Doações. Doações.



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