terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O grande baile





            A festa na casa grande corria animada há cinco séculos. Na Ilha Fiscal houve a troca dos leões de chácara e a chegada de novos convidados. As casacas já estavam prontas há muito tempo, só esperando a ocasião de estrear. Comendas e medalhas foram providenciadas para adorna-las. Os barões abraçavam os coronéis.
            Houve momentos em que alguns pensaram que o festim acabaria, mas os festeiros nunca se cansam e o buffet, sempre sortido, oferecia novas iguarias Na Nova República parecia que o baile granfino se transformaria num grande carnaval e o que se viu foi a volta do minueto e os mesmos dançarinos.
            Mas enfim chegara o dia. Gente do povo tomou a batuta do velho maestro, a cozinha veio para a sala e decretou-se que o lundu seria de pé no chão. Houve um silêncio. Os antigos convivas se sentiram incômodos naquele ambiente, mas como ninguém tratou de expulsá-los foram ficando por ali e aos poucos trataram de puxar conversa com os que chegavam à festa. Elogiaram a feijoada, que agora era servida como prato principal no banquete, provaram da branquinha e deram pro santo. Pronto, já eram todos amigos. _"Até que não são tão maus assim"_ pensaram os recém-chegados
            Com a mão no ombro e conversa ao pé do ouvido, os novos donos da festa foram sendo convencidos que bom mesmo era o caviar e aquele whisky nacional da escócia. E os violinos. Ah! os violinos. A cuíca deixou de roncar quando a grande orquestra voltou a animar o salão.
            Os novos barões, os flamantes doutores, a nova casta festiva até que leva jeito e já andou ensaiando uns passos à moda antiga; Um tropeço aqui outro acolá, nada de mais. Muitos já ostentam mansões e aparecem nas colunas sociais. Outros faturam alto nas palestras e consultorias. O mundo os cita e convida.
            Claro que nem sempre compartilhar o salão é coisa simples. Os donos hereditários da festança  puxam tapetes. Já não se mostram dispostos a dividir os acepipes com os que chegaram tarde. E esses, que já iam se acostumando à boa culinária e aos doze anos, não sabem como retornar à senzala. O feijão de outros tempos agora lhes sabe insosso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário