domingo, 9 de outubro de 2016

PV: do Olimpo à lama





            Foi em 90 ou 91. Não, foi em 90 mesmo. Final de 90. Eu assistia um programa de TV e o convidado era o Gabeira. O assunto, é claro, era política e os resultados das eleições que depositaram no Planalto o infame Collor de Merda.
            Gabeira, que fora candidato pelo Partido Verde à presidência, falava de sua legenda , sobre os novos tempos, sobre o moderno e o arcaico. Dizia que o PV cresceria, pois era um partido voltado para o futuro, para as novas formas de luta e preocupações dos cidadãos, enquanto outros partidos que já não representavam nada estavam fadados ao desaparecimento. Como exemplo citou o PFL que tivera fraco desempenho naquelas eleições com a candidatura de Aureliano Chaves.
            Mais por vontade que aquilo fosse verdade do que por reflexão, concordei com Gabeira. O PFL parecia mesmo que já tinha dado o que tinha de dar e a temática ambientalista estava em alta no mundo todo. Seria o momento dos verdes crescerem. Sem minha simpatia, mas cresceria. Eu acreditava e continuo acreditando que as lutas fragmentadas (dos ambientalista, das mulheres, dos homossexuais e outras) não atingem diretamente o inimigo comum que é o capitalismo.
            Claro que Gabeira e eu estávamos equivocados. O PFL não só continuou vivo e atuante como chegou ao poder em aliança com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, de roupinha nova, possui uma bancada de vinte e sete deputados federais e quatro senadores. Mas e os verdes?
            Bem, os verdes que se apresentavam como a última bolacha do pacote caminharam a passos largos para se alinharem com o pefelê. No Rio, participaram do governo César Maia sem o menor constrangimento e em outros estados também compuseram governo ao lado de pefelistas e outras forças reacionárias. Seu candidato à presidência na última eleição, Eduardo Jorge, disse que é isso mesmo, que eles se alinham e participam de qualquer governo que os convidem. Mas não é apenas esse pragmatismo de fim de feira que depõem contra o partido. Em todas as últimas votações na Câmara, a bancada do PV votou com a direita mais botinuda, conservadora e entreguista.
            Agora foi a vez de Evandro Gussi (PV-SP) dar sua contribuição ao atraso, à discriminação e ao ódio. O verde paulista é um dos signatários do projeto de autoria do deputado João Campos (PRB-GO) que quer suspender o direito de travestis e transsexuais que trabalham no serviço público de usarem seu nome social nos crachás e documentos oficiais. Do Olimpo pós moderno à lama fundamentalista de João Campos em menos de três décadas.
            Quanto a Gabeira, quem diria, despiu a sunga que tanto sucesso fez naqueles anos de redemocratização e hoje aparece ao lado de Kim Kataguiri e Fernando Holiday numa foto que atenta contra o pudor.




         

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