sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Marido modinha





            Não vejo nenhuma graça em ficar velho. Nem graça nem vantagem. Além de tudo que vem com a decrepitude do corpo, há o enfaro da falta de novidades, essa sensação de já ter visto o filme. Poderia dizer que a vida depois de uma certa idade é uma espécie de sessão da tarde.
            Esse Brasil que caminha para trás, eu já vi. O festival de besteiras que assola o país, eu já vi. Os idiotas assumindo postos de mando, eu já vi. A classe média dando chiliques por ver o pobre, o negro, o nordestino ganhando espaço nas discussões e um pouco de cidadania, eu já vi. Até o fim do mundo eu já vi uma dezena de vezes.
            E tem as modinhas. Também já vi uma porção delas, e ainda que elas se renovam, algumas voltam. Tem um cara em São Paulo ganhando uma nota preta fazendo leitura de aura. Pois é, eu também achava que isso já tinha ficado no passado. Quem sabe, se eu viver mais uma década, ainda vá ver o renascimento do feng shui, do I ching e da terapia de vidas passadas.
            Lembro de uma dessas modinhas que, por ser demasiado ridícula,  não hei de ver novamente. Foi coisa dos anos 90 e felizmente naqueles tempos não havia redes sociais para dar vazão à bobagem. Tratava-se de gravidez. Uma mulher ficava grávida. Vinham os enjoos e ela ganhava uns 10, 12 quilos de sobrepeso. Os pés inchavam, os peitos inchavam, a cara inchava. A barriga enorme dificultava os movimentos mais simples,  o humor alterava. Tudo isso sem contar os palpites que tinha (e tem) de escutar sobre parto e criação dos filhos. Pois bem, sabe o que fazia o marido enquanto isso? Ele encontrava os amigos e dizia alegremente: referindo-se ao estado nada interessante da mulher:_ Nós estamos grávidos. Podia haver uma variante se o dito paspalhão fosse o típico marido modinha dos anos  90:: _ Minha companheira e eu estamos grávidos.
            Nos EE.UU, lugar de todos os exageros e imposturas, chegaram a fabricar uma barriga falsa que o sujeito "vestia" para "sentir" o que era a gravidez. Se me lembro bem, a "barriga" vinha com uns peitões bem ao gosto americano. Claro que para se livrar da barriga era só desafivelar e jogar em cima de alguma cadeira. Aquilo não haveria de lhe passar por nenhum orifício.




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