Sei que os mais jovens vão descrer do
vou dizer, mas posso garantir: _Houve um tempo em que a revista Veja trazia
matérias jornalísticas. Lembro de uma em especial. Foi no tempo da
redemocratização e tratava do grupo de esquerda de linha trostkista que se chamava
Liberdade e luta (Libelu). O título da matéria que, se não me engano, foi capa
do periódico, era: “O discreto charme da esquerda adolescente”.
Oriunda do movimento estudantil, a
Libelu marcou época na reconstrução da UNE e da UBES. Vários de seus quadros
estão hoje no PT. Outros, como Demétrio Magnoli, Mirian Leitão e Reinaldo
Azevedo, militam nos meios de desinformação. Como se vê, onde a Libelu plantou
suas rosas juvenis, nasceu chuchu, jiló e abobrinha.
Hoje, pouco ou nada resta daqueles
sonhos da esquerda adolescente. O que mais se aproxima é o movimento Black
Bloc, muito mais movido pela desilusão do que pela esperança.
E tem a direita juvenil. Claro, não
se pode falar de seu discreto charme, pois ela não tem. Nem discreto nem espalhafatoso.
Seu ideário recende a naftalina, seus líderes, ainda desconhecidos, admiram
Bolsonaro, Caiado e os policiais que massacram favelados.
Na direita adolescente encontramos de tudo,
desde papa-hóstias saídos da facção carismática da igreja católica até ateus
nerds e aprendizes de psicopatas. Há também os seguidores de Malafaia, os fãs
de Rachel Sherazade, neonazistas de cabeça raspada e linchadores movidos a
esteroides. Sem esquecer, é claro, dos sertanejos universitários e dos
evangélicos de todas as seitas. Entre os politizados, há os que pregam o golpe
militar e os que querem refundar a Arena.
Mas se há o que os separa, há o que
os une. O racismo, expresso nas diatribes contra o sistema de cotas nas universidades, é um
desses elos. Os recentes casos de racismo em estádios de futebol, estão ligados,
pode estar certa, à ascensão dessa nova e juvenil direita. E não só de sua ala neonazista.
Outro ponto que une as várias facetas
da direita imberbe é o anticomunismo, a luta contra o inimigo vermelho. A
meninada que trilha pelos caminhos sombrios de Plínio Salgado e Diogo Mainardi,
assim como a grande maioria da meninada em geral, está mais ocupada com os
joguinhos eletrônicos, o corpo sarado e com as séries de TV, portanto não lê.
Qualquer texto com mais de 200 palavras é ignorado ou incompreendido pelos neo
direitistas. Ainda que os bancos estejam faturando como nunca, que os
latifundiários concentrem mais e mais terras e o parque industrial do país
funcione a pleno vapor, a direitinha pensa que o país está a caminho do
comunismo. Não há dados, informações ou fatos que os convença do contrário.
A homofobia, antes só explicitada por
cabeças raspadas e fundamentalistas pentecostais, agora faz parte da
caracterização da direita imberbe. A igualdade de direitos dos homossexuais é
chamada de ditadura gay pelos defensores da ditadura militar.
Também as políticas sociais do
governo, especialmente o Bolsa Família, deixam indignados a todos que compõem a
direita coca cola. E ver gente de origem humilde comprando carros ou viajando
de avião os tira do sério. Para os discípulos de Lobão e Olavo de Carvalho (de
quem não conhecem nenhum escrito), a nova classe média é a culpada pelo trânsito
caótico das grandes cidades e pelas filas nos aeroportos.
E ontem, lá estavam eles ao lado de
outros malucos de mais idade na marcha da família com Deus pela liberdade. Eram
poucos, é verdade, afinal nos dias interessantes que vivemos e em se tratando
de jovens, a direita adolescente vive preferencialmente atrás do computador
vociferando através das redes sociais contra Che Guevara, a guerrilheira Dilma
e o sindicalista Lula. Para eles a internet é a máquina do tempo e a rua, o território hostil dos demônios comunistas defensores dos direitos humanos.
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