segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A universidade pública e o povo


A hostilidade dos médicos brasileiros para com seus colegas cubanos mostrou, entre outras coisas, o conceito que se tem no país sobre as universidades públicas.
Do argumento pífio da qualificação “duvidosa” dos médicos de Cuba, facilmente desmentida pela avaliação que faz a OMS da medicina daquele país, os ressentidos médicos brasileiros passaram a ser defensores dos profissionais cubanos argumentando que recebiam salários ínfimos ficando o governo cubano com a maior parte da remuneração paga pelo governo brasileiro. Falou-se até de trabalho escravo.
Claro, os médicos brasileiros, em sua grande maioria, jamais vão entender que têm uma dívida para com a sociedade que os formou. Nem médicos nem outras categorias profissionais formados nas universidades públicas. Obviamente que não são todos os detentores de diplomas universitários que fazem de sua habilitação profissional uma mercadoria. Há quem contribua muito com o país e com a população. Mas justamente os que representam essas profissões, através dos conselhos, sindicatos e outras entidades corporativas, são os que mais demonstram desprezo às pessoas e à sociedade.
Um cidadão cubano sabe o quanto custou sua formação. Sabe que deve prestar serviços para a sociedade que financiou seus estudos. Mesmo que esses serviços sejam fora de seu país se o governo, que é quem gere as universidades, assim determinar. O brasileiro não. O estudante universitário brasileiro pensa que tudo é fruto de seu esforço pessoal e assim sendo ele tem o direito de fazer o que bem entende depois de formado.
Diferentemente dos estadunidenses que bancam sua formação universitária, dentro do espírito do capitalismo, sendo, portanto, donos de seu cabedal de conhecimentos, os brasileiros crêem que têm o direito de freqüentar as universidades pagas por todos e depois levar os conhecimentos adquiridos a qualquer parte ou vendê-los por preços inacessíveis aos que contribuíram com sua qualificação.
Será justo que os impostos de todos financiem a realização individual de alguns sem nenhuma contrapartida social?
Será justo que todos paguem para que pessoas situadas no topo de pirâmide social estudem de graça?
Um levantamento feito na USP pela Fundação Getúlio Vargas apontou que mais de 50% dos calouros de 2014 pertencem ao grupo dos 20% mais ricos da população. Entre os outros 50% tampouco vamos encontrar pobres. Talvez uma ínfima minoria. 
Será justo que os ricos e remediados ocupem as vagas das universidades públicas e que os pobres tenham que pagar pelos seus estudos?

Eu acho que não. Penso que universidade pública e gratúita deve ser para quem é oriundo da escola pública e gratúita. Se esse não é o critério justo, que se adote outro, mas algum critério deve haver. 

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