Ao abrir seu sarcófago na manhã de segunda-feira, Kátia Abreu
concedeu entrevista e asseverou: “Não há latifúndios no Brasil.” Botei outro
Gardenal na vitamina de banana e respirei fundo antes de ir buscar o
significado da palavra no dicionário.
Por um momento pensei que estivera chamando urubu de meu louro
por anos a fio. Mas não. O significado do vocábulo é aquele mesmo que eu
havia aprendido na juventude. O “Aulete” é claro: “Latifúndio – sm –
propriedade rural de grande extensão, constituída de terras não cultivada e/ou
não exploradas com técnicas de baixa produtividade”. O dicionário Web é
minimalista: “Grande propriedade rural”. Outros dicionários da internet e meu
velho dicionário de papel da Editora LEP o acompanham no laconismo.
Está lá, não há
dúvida. Latifúndio, para a maioria dos dicionários, é apenas uma grande, vasta,
enorme, extensa propriedade rural. De duas uma: ou Kátia Abreu promoveu na
calada da noite a reforma agrária ou segue sendo a besta ruralista defensora do
escravismo e do extermínio de índios de sempre. Fico com a segunda hipótese.
E como é uma besta não se dá ao trabalho de dar uma olhadinha
no censo agrário que aponta haver cerca de 70 mil propriedades rurais no país
que estariam dentro do conceito de latifúndio. Claro que sensos, estudos e
pesquisas não fazem o gênero de Kátia Abreu. Quando precisa de alguma opinião
técnica ela compra uma como já fez para defender suas teses antropológicas.
Essa primeira entrevista concedida por Kátia Abreu como
ministra não pode surpreender ninguém. Há tempos que Madame Pamonha anda escrevendo
barbaridades nos jornais e proferindo os mais esdrúxulos discursos desde a
tribuna do senado. Já escreveu que índio não quer nem precisa de terra. Já
disse que não há trabalho escravo no Brasil. Já disse de tudo meses antes de
ter seu nome escolhido para comandar o Ministério da Agricultura. Quem escolheu
sabia o que estava escolhendo.
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