segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Perfil





            Já sou velho. Não digo gratidão em vez de obrigado, acho bobo. Não envio vibes nem good nada. Não suporto ouvir namastê e outras orientalices. Não como com pauzinhos nem a pau. Acho esse negócio de cerveja artesanal muito metido a besta. Quando leio empoderamento e resiliência quase tenho um troço. Não acho que tenha a obrigação de ser feliz nem de me reinventar. Não uso vinagre balsâmico nem como broto de porra nenhuma. Não idolatro cachorros. Não freqüento a barraca dos orgânicos nem o restaurante natural. Fumo e bebo cerveja barata. Homem barbado andando de skate me dá asco. Não tenho tatuagens. Não faço yoga. Gosto de futebol e mulher sem calcinha. Jogo guimba na rua, mijo na rua, cuspo na rua. Gosto da rua. Não separo o lixo, ou melhor, separo do lixo o que preciso. Ouço músicas antigas, falo gírias antigas. Tenho paixões antigas. Gosto de coca-cola, empadinha de galinha e pimenta.  Não vivo sem feijão nem samba. Leio poesia. Não leio jornais. Escuto o Odair José e o Roberto Carlos e acho o Renato Russo o fim da picada. Tenho manias, fetiches e implicâncias. Nunca tenho dinheiro. Cultivo rancores, manjericão e erva cidreira. Me emociono com Janis Joplin e Clara Nunes. Choro ouvindo Nana Caymmi e Isaurinha Garcia. Simpatizo com os gays, admiro as lésbicas e amo as travestis. Nunca li Proust nem Haroldo de Campos. Li quase tudo do Bucowski e do Isaac Bashevis Singer. Meu poeta favorito é João Cabral. Não tenho diplomas. Nunca usei gravata. Não sei dirigir. Sou ateu, mas gosto do candomblé. Prefiro cinema brasileiro, mas acho Terra em transe um saco. Entre Rita Cadilac e Gisele Bunchen fico com a chacrete. Considero a bicicleta, a máquina de lavar e a sardinha em lata as três maiores invenções da humanidade. 




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