terça-feira, 12 de maio de 2020

Pobre de direita, negro de direita






          Eu era jovem e pobre. Muito diferente de hoje: agora eu sou velho e pobre. Naqueles dias de juventude entrei em contato com a literatura de esquerda e encontrei nela muitas respostas para as perguntas que então me fazia.
          Eram os tempos da ditadura e a maioria das pessoas que conhecia também transitavam pela canhota. A impressão que eu tinha era de que todo mundo ou era de esquerda ou estava alienado.
          Mas suponhamos que em vez de ter encontrado Marx. Lenin ou Trotsky eu tivesse me deparado com os filósofos liberais ou com os empirista que os antecederam. Também em Locke, Hume e Adam Smith se encontram respostas. Certamente eu teria me entusiasmado com a ideia das liberdades individuais, da igualdade de oportunidades e coisas que tais. É possível que as propostas econômicas dos liberais entrassem em mim por contrabando junto com tantas boas argumentações sobre a liberdade de expressão e pensamento de que vivíamos tão carentes naqueles tempos.
          Isso não se deu, mas bem que poderia ter-se dado.
          Hoje, isso parece ser impossível. Pelo menos para muita gente que deixa sua opinião nas redes sociais. Pensar que um jovem pobre possa ser um liberal. ainda que um social-liberal, é algo incompreensível para muitos. O termo "pobre de direita" só é usado quando precedido do deboche. O deboche é maior quando o pobre em questão é negro. Neste caso, ao escárnio somam-se os epítetos "capitão do mato". analfabeto político e outros da mesma categoria.
          Para aqueles comentadores virtuas (entre eles muita gente que admiro e estimo) somente os brancos e "bem nascidos" podem ter opções. Para o pobre e para o negro só há um caminho a seguir: o da esquerda, Ainda que a esquerda seja comandada por brancos ricos ou remediados que só teoricamente conhecem a realidade de pobres e negros. Parece que ninguém da esquerda militante virtual cogita a ideia de que uma pessoa pobre e negra possa ter lido um pensador liberal e se entusiasmado com seu discurso.Por que isso acontece? A reposta me parece simples: preconceito. Preconceito racial e de classe. Preconceito introjetado por séculos de privilégios.Preconceito quanto à capacidade intelectual de pobres e negros. Preconceito que, muitas vezes, nem é percebido por quem o pratica.

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