quarta-feira, 6 de março de 2013

Partido sob medida



                Como se cria um novo partido político no Brasil? Bem, é simples. Primeiro trata-se de cooptar parlamentares eleitos por outras legendas para que o partido já nasça com uma bancada mesmo antes de disputar uma única eleição. O número de parlamentares da bancada é que determina a parcela do fundo partidário a que o novo partido terá direito. Também por esse número se afere o tempo que a nova legenda poderá usar no horário da propaganda política gratuita no rádio e na TV.
                Assim fez Kassab quando fundou o PSD, assim faz agora Marina Silva quando inventa a Rede Sustentabilidade.
                No partido de Marina já ingressaram vários detentores de mandato parlamentar sem que seus eleitores tivessem a chance de se manifestar a respeito. Entre outros estão Alfredo Sirkis e Walter Feldman. Além do mandato parlamentar, os dois têm em comum o fato de terem sido secretários de estado; Sirkis secretariou César Maia (DEM) no Rio e Feldman atuou nas prefeituras de Mário Covas, José Serra (PSDB) e... Kassab (ex DEM) em São Paulo. Ou seja, estiveram envolvidos com o que há de mais retrógrado e fisiológico na política brasileira; o moribundo DEM. Mesmo com tal passado, são recebidos na Rede Sustentabilidade com fogos de artifício, banda de música e coro infantil. O partido que quer se mostrar como horizontal e participativo, ao invés de trazer novos nomes e forjar lideranças, aposta em felpudas e velhas raposas.
                 Mas não é só na prática de arregimentar parlamentares, sangrando outras siglas, que o partido de Marina se assemelha ao de Kassab. O ex-prefeito paulistano ao lançar o PSD disse que o partido não era nem de direita nem de esquerda nem de centro. Marina trafega no mesmo caminho e diz que a Rede Sustentabilidade “está à frente, nem esquerda nem direita.”
                Outra de suas declarações diz respeito à posição que seu partido terá frente ao Governo Dilma. Marina apela para um jogo de palavras, vazio e murista. “Não sou oposição nem situação, mas teremos sempre uma posição.”
                Mesmo querendo ser a última bolacha do pacote político, Marina Silva não sai um centímetro do que manda o figurino do que é fazer política no Brasil. Após o lançamento oficial da Rede Sustentabilidade, a ex-senadora disse que “não descarta a possibilidade de se candidatar à presidência em 2014.” Ora, até as pedras sabem que a fundação do tal partido tem por finalidade precípua viabilizar a candidatura de Marina. Tanto é assim, que as 500 mil assinaturas exigidas por lei, para que o partido possa receber registro no TSE, são colhidas a toque de caixa. O prazo é setembro.
               A ex-senadora, que nunca explicou bem quais foram as divergências que a fizeram deixar o PT, tampouco apontou as causas de sua meteórica passagem pelo PV. Marina é uma esfinge. Sem embargo, pode-se concluir que Marina Silva sonha com vôos mais altos e as duas siglas, com seus caciques e inexplicáveis políticas de alianças, podavam-lhe as asas.
               Mas por que Marina não assume logo sua candidatura? Seria muito natural, afinal ela é uma cidadã no gozo de seus direitos políticos e possui um cabedal de mais de 20 milhões de votos, conquistados no último pleito presidencial. Não, no atual estágio da política brasileira há que dissimular. Faz-me lembrar a estória dos dois políticos mineiros que se encontram no aeroporto de Brasília.
               _Como vai o nobre deputado? Diz o primeiro, com seu melhor sorriso.
               _Bem, chegando agora de Minas, e o nobre colega, para aonde vai? Interroga o segundo, com cativante acento.
               _Estou indo para Belo Horizonte.
               _Então boa viagem, nos vemos no plenário.
               Ao ver o colega se dirigindo para o embarque, o deputado que desembarcara confidencia a um acompanhante:
               _Ele disse que ta indo pra Belzonte pra eu pensar que ele ta indo pro Rio, mas ele vai é pra Belzonte mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário