Como se cria um novo partido político no Brasil? Bem, é
simples. Primeiro trata-se de cooptar parlamentares eleitos por outras legendas
para que o partido já nasça com uma bancada mesmo antes de disputar uma única
eleição. O número de parlamentares da bancada é que determina a parcela do
fundo partidário a que o novo partido terá direito. Também por esse número se
afere o tempo que a nova legenda poderá usar no horário da propaganda política
gratuita no rádio e na TV.
Assim fez Kassab quando fundou o PSD, assim faz agora Marina
Silva quando inventa a Rede Sustentabilidade.
No partido de Marina já ingressaram vários detentores de
mandato parlamentar sem que seus eleitores tivessem a chance de se manifestar a
respeito. Entre outros estão Alfredo Sirkis e Walter Feldman. Além do mandato
parlamentar, os dois têm em comum o fato de terem sido secretários de estado;
Sirkis secretariou César Maia (DEM) no Rio e Feldman atuou nas prefeituras de
Mário Covas, José Serra (PSDB) e... Kassab (ex DEM) em São Paulo. Ou seja, estiveram
envolvidos com o que há de mais retrógrado e fisiológico na política brasileira;
o moribundo DEM. Mesmo com tal passado, são recebidos na Rede Sustentabilidade
com fogos de artifício, banda de música e coro infantil. O partido que quer se
mostrar como horizontal e participativo, ao invés de trazer novos nomes e forjar
lideranças, aposta em felpudas e velhas raposas.
Mas não é só na prática de arregimentar parlamentares,
sangrando outras siglas, que o partido de Marina se assemelha ao de Kassab. O
ex-prefeito paulistano ao lançar o PSD disse que o partido não era nem de
direita nem de esquerda nem de centro. Marina trafega no mesmo caminho e diz que
a Rede Sustentabilidade “está à frente, nem esquerda nem direita.”
Outra de suas declarações diz respeito à posição que seu partido
terá frente ao Governo Dilma. Marina apela para um jogo de palavras, vazio e
murista. “Não sou oposição nem situação, mas teremos sempre uma posição.”
Mesmo querendo ser a última bolacha do pacote político,
Marina Silva não sai um centímetro do que manda o figurino do que é fazer
política no Brasil. Após o lançamento oficial da Rede Sustentabilidade, a ex-senadora
disse que “não descarta a possibilidade de se candidatar à presidência em 2014.”
Ora, até as pedras sabem que a fundação do tal partido tem por finalidade
precípua viabilizar a candidatura de Marina. Tanto é assim, que as 500 mil
assinaturas exigidas por lei, para que o partido possa receber registro no TSE,
são colhidas a toque de caixa. O prazo é setembro.
A ex-senadora, que nunca explicou bem quais foram as
divergências que a fizeram deixar o PT, tampouco apontou as causas de sua
meteórica passagem pelo PV. Marina é uma esfinge. Sem embargo, pode-se concluir
que Marina Silva sonha com vôos mais altos e as duas siglas, com seus caciques
e inexplicáveis políticas de alianças, podavam-lhe as asas.
Mas por que Marina não assume logo sua candidatura? Seria
muito natural, afinal ela é uma cidadã no gozo de seus direitos políticos e
possui um cabedal de mais de 20 milhões de votos, conquistados no último pleito
presidencial. Não, no atual estágio da política brasileira há que dissimular.
Faz-me lembrar a estória dos dois políticos mineiros que se encontram no aeroporto
de Brasília.
_Como vai o nobre deputado? Diz o primeiro, com seu melhor
sorriso.
_Bem, chegando agora de Minas, e o nobre colega, para aonde
vai? Interroga o segundo, com cativante acento.
_Estou indo para Belo Horizonte.
_Então boa viagem, nos vemos no plenário.
Ao ver o colega se dirigindo para o embarque, o deputado que
desembarcara confidencia a um acompanhante:
_Ele disse que ta indo pra Belzonte pra eu pensar que ele ta
indo pro Rio, mas ele vai é pra Belzonte mesmo.
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