terça-feira, 18 de junho de 2013

Repressão


                Durante o estado novo, o DIPE prendia e arrebentava. Há uma foto de Patrícia Galvão, a Pagu, com o rosto deformado depois de uma sessão de porrada na polícia política. Pagú era moça rica e militante esquerdista, mas o regime já estava naquela de reprimir qualquer contestação e havia democratizado a tortura e o espancamento de opositores.
                Já não eram só os líderes sindicais, comunistas e anarquistas que sofriam a brutalidade da polícia, também os “bem nascidos” iam parar nos paus de arara. 
                Como a memória histórica é curta, a classe média saiu às ruas em 64 para apoiar o golpe civil-militar que derrubou João Goulart. Eram as marchas da família com Deus pela liberdade.
                Também nesse caso, as primeiras vítimas do novo regime de força foram os líderes camponeses e sindicais, os comunistas, os socialistas e os democratas legalistas. Com o passar do tempo, a classe média engajada nos movimentos pela derrubada do regime começou a sofrer perseguições, prisões e torturas. Para culminar veio o AI 5 para pôr na ordem do dia as prisões arbitrárias e a tortura sistemática. 
                Líderes estudantis, artistas e profissionais liberais, pertencentes às nossas classes dominantes sofreram toda espécie de sevícias e maus tratos e muitos morreram nas sessões de tortura nas instalações do DOPS e de outros órgãos de repressão.
                Anos mais tarde eu caminhava pela Rio Branco rumo à Candelária para participar do gigantesco ato público pelas eleições diretas. O regime caía de podre, mas insistia no continuísmo. Nessa caminhada lembro-me de ter visto várias senhoras, muito bem vestidas, que também iam se manifestar pela redemocratização do país. Eu estava seguro que muitas delas haviam participado, 20 anos antes, nas marchas de apoio ao golpe de 64. Também tive a certeza que não as movia o sentimento da legalidade e sim o desencanto com o regime que prometera reprimir somente comunistas e operários, mas acabara metendo nos cárceres, matando e fazendo desaparecer seus filhos, parentes e amigos. O regime as traíra.
                Agora passa-se o mesmo. 
                Nas atuais manifestações contra o aumento das passagens de ônibus, a polícia tem mostrado uma pequena parte de seu arsenal repressivo. Estudantes são agredidos depois de presos, uma jornalista levou um tiro no rosto, outro jornalista foi preso e espancado por portar uma garrafa de vinagre. De um momento para o outro a classe média, que seguia o discurso das redes de TV e dos jornalões, desqualificando o movimento como coisa de vândalos e marginais, mudou o rumo da prosa. As imagens de jovens brancos e jornalistas sendo agredidos pela polícia, fez ver a essa gente que ali estavam os seus.
                Pessoas que dias atrás apoiavam nas redes sociais a ação repressiva da polícia nos morros e favelas e faziam chacota dos direitos humanos, agora protestam contra a brutalidade policial.
                Essa gente quer deixar claro que polícia foi feita pra espancar e matar pobres, negros e favelados e não estudantes e jornalistas.



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