O grupo de humor Porta dos fundos,
postou recetemente no You tube uma de suas sátiras. Não é a melhor nem a mais engraçada dos
talentosos humoristas. É um esquete que
mostra uma reunião. Quem a preside é uma mulher (obviamente uma
personificação da Presidenta Dilma). Na reunião, uma reunião de políticos, a
mulher pede aos presentes que roubem menos. Não que deixem de roubar ou que não
o façam para sempre, apenas que roubem menos por algum tempo e que no futuro
serão recompensados com mais roubalheiras. Ao fim da reunião um dos presentes pergunta: _Quem vai falar pro
Lula?
Bem, como disse o episódio não é dos
mais engraçados e, convenhamos, tem um tom grosseiro ao vincular a Presidenta à
roubalheira perpetrada pelos partidos que a apóiam. Mas é uma maneira de ver as
coisas. A Presidenta, ativa e inteligente como é, bem que poderia dar um basta nas
práticas de seus aliados. Não creio que nem ela nem Lula sejam inocentes ao ponto de
não saberem o que fazem esses aliados de aluguel com os ministérios e empresas
públicas que lhes são dados em troca do apoio no Congresso.
Eu sei, você sabe, a Presidenta sabe.
Mas o que mais me chamou à atenção
não foi a postura dos comediantes. Um dos membros do Porta dos fundos, Antônio
Tabet, desde antes da eleição de Dilma já escrevia em seu sítio satírico,
Kibeloco, cobras e lagartos contra ela. É uma posição política, o sujeito é
anti P.T. Nunca escondeu. O que me deixou atônito foi o que li no blog do
Renato Rovai, editor da revista Forum, sobre o episódio do Porta dos fundos.
Para o articulista, que é alinhado com o governo (também uma postura política), a peça humorística seria
de encomenda. Encomenda de Aécio Neves. No artigo, Rovai cita casos de agências
de publicidade que fazem uso de blogs e afins para difundir seus produtos de
maneira escamoteada. O ataque a Lula e Dilma no esquete humorístico, seria algo
assim. Propaganda paga pela oposição de direita de
olho nas eleições de outubro.
Ora, não passa pela cabeça do Sr.
Rovai que essa gente possa ser espontaneamente contra o governo? Contra Lula?
Contra Dilma? O Sr. Rovai não sabe que mais de 43 milhões de eleitores votaram
espontaneamente contra Dilma na eleição passada? Por que agora toda crítica ao
governo tem de ser vista como matéria paga ou golpe das elites?
Quando essas críticas partem de
setores que não podem ser acusados de pertencer às elites
golpistas, seus autores são chamados de inocentes úteis, de esquerda que a
direita adora e por aí vai.
Do outro lado do balcão dá-se o
mesmo. Qualquer um que apóie o governo ou algumas de suas ações é logo tachado
de vendido. Se apóia é pelas verbas publicitárias, diz o senso comum dos
paranóicos. Uma simples propaganda da Caixa ou da Petrobrás encimando um sítio
informativo, é logo vista como prova inconteste de que o responsável pela
publicação só está atrás da verba publicitária e só por isso bajula.
Omitem, por má fé ou por miopia, que
as verbas publicitárias do governo irrigam toda espécie de publicação, mesmo
aquelas que, abertamente, fazem oposição a ele. Basta abrir qualquer jornal,
sítio informativo, blog ou ligar a TV ou
o rádio para se constatar isso.
Esses formadores de opinião, o que
menos têm feito é ajudar a formar opinião. Ou por outra, o que pretendem é que só
exista uma opinião: a deles. Quem pense diferente que agüente a pecha de
vendido, interesseiro ou burro.
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