terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Fumantes, cachorros e crianças



Outro dia apareceu na minha página do Facebook uma postagem que dizia que praia não é cinzeiro. Claro, a postagem fazia parte da campanha persecutória contra os fumantes. Ser fumante hoje em dia não está fácil. O poder público, entidades médicas e chatos em geral deram de escolher os tabagistas como seu bode expiatório, seu Judas favorito. Querem fazer crer que eliminando os fumantes o mundo se salvará.
Ora, uma guimba atirada na praia não é nada, não significa nada em termos de poluição e causa muito menos impacto ambiental que os automóveis dos anti-tabagistas, que seus computadores, seus telefones celulares, sua bílis.
Numa outra postagem que li uma senhora fazia campanha para termos em nossa cidade uma praia exclusiva para cachorros. Pois é, uma praia para cachorros. Não uma praia para fumantes e sim para cachorros. Alegava a senhora que os cachorros também são moradores da cidade e merecem seu espaço de lazer. Talvez devesse também argumentar que cachorros não fumam e se cagam não há problema, o coco é biodegradável. Quem não gosta de cachorros ou sente medo quando os vê soltos por aí, sem boçal e sem coleira que se dane.
Não faz muito tempo houve quem exigisse que na praça central da cidade houvesse um espaço para cães. Os brinquedos das crianças estavam em petição de miséria, mas nossos cidadãos de bem não se pronunciavam sobre isso. Queriam porque queriam dividir a praça entre os pequenos e os cachorros.
Em outra dessas postagens dos defensores do banho de mar canino havia a foto de um cachorro tendo entre os dentes uma placa que proíbe os animais nas praias. Encimando a foto, a frase “a revolução começou”. Os dizeres, é claro, estavam em inglês. Esse também quer a beach dog e fará a primavera canina para consegui-la.
Não tenho dúvida de que minha vida de fumante vale muito menos que a de qualquer pit bull de playboy ou poodle de madame nos dias de hoje. E não só a minha.
Enquanto comemoramos a vigência da Lei Maria da Penha, outra lei, tão civilizatória e tão necessária quanto, sofre toda espécie de pressão para que não seja sequer votada no parlamento. Trata-se da lei que pune os abusos físicos e psicológicos impostos às crianças.
A lei já foi grosseiramente apelidada de “lei da palmada” e por muitas vezes a bancada evangélica se retirou da comissão onde era discutida para não dar quorum para votação de emendas e proposições. Até mesmo a marcação de outras reuniões foi impedida pelos defensores da família patriarcal e violenta, a família bíblica.
Semana passada, Sua Santidade, o Papa Francisco, pronunciou-se em favor dos castigos físicos para as crianças. A fala do Papa e o exemplo que citou para ilustrar sua tese são aberrações, mas nas redes sociais e nas caixas de comentários dos sítios informativos pudemos ler que todos concordam com o Papa. Principalmente as mulheres que não desejam ser maltratadas por seus maridos, mas querem seguir maltratando crianças que são ainda mais indefesas que as próprias mulheres.

Por outro lado, uma lei que pune maus tratos aos animais entrou em vigor. Também é lei civilizatória e necessária. A lei foi comemorada e amplamente divulgada pelos defensores dos animais e justiceiros em geral. Não virou motivo de chacota nem serviu para que masoquistas contassem no Facebook suas histórias de surras amorosas e espancamentos educativos.

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