Uma vez, perguntaram a uma grande atriz americana que era
negra, se ela não se sentia menosprezada ao ter sempre de interpretar
empregadas domésticas nos filmes. A atriz (cujo nome esqueci totalmente e não
vou procurar no Google) respondeu que era bem melhor interpretar empregadas
domésticas do que ser uma. Quem fez a pergunta certamente estava cheio de boas
intenções, certamente estava defendendo que se dessem papéis importantes para atrizes
negras, mas nem de longe conhecia a vida das mulheres negras naqueles tempos.
Para diminuir um pouco a imprecisão do que vou relatando,
digo que isso se passou ainda na época da segregação racial nos EE.UU e os
empregos para mulheres negras não passavam dos serviços domésticos. Agregue-se
que a remuneração era baixíssima e a competição acirrada. A arte era uma opção.
Hoje, também há quem se preocupe com a condição de vida das
mulheres (especialmente das mulheres negras). Há sempre alguém escrevendo sobre
a exploração do corpo feminino. Na publicidade, nos desfiles das escolas, nas
chamadas das TVs, em toda parte mulheres gostosas exibem seus corpos para
vender algo. No carnaval o assunto ganha mais espaço.
Juntam-se a esses preocupados com a exploração dos corpos femininos,
os moralistas cuja preocupação é com o corpo em si, notadamente o corpo nu ou
seminu. Estes últimos afirmam que as mulatas nas escolas de samba e na
publicidade mostrando suas formas exuberantes promovem o turismo sexual e
degradam a imagem da mulher brasileira. Nunca ouvi essa gente dizendo que os
biquinis de Ipanema promovem o turismo sexual nem que o top less, largamente
praticado na Europa, degrada a imagem de ninguém.
Quanto às mulatas das escolas e da publicidade sensual
gostaria de ouvir sua opinião sobre a exploração de seus corpos assim como a
opinião das meninas de Ipanema sobre seus diminutos e deliciosos biquínis.
De umas creio que ouviríamos que é melhor vender o corpo na
publicidade do que numa caixa de supermercado ou numa central de telemarketing.
De outras acho que posso escutar o zumbido de uma resposta desaforada bem ao
estilo “o quê que você tem a ver com isso?”. De ambas creio que ouviríamos que
cada um manifesta sua sexualidade como bem entende (enquanto o Eduardo Cunha
não se mete) e que o exibicionismo é uma dessas manifestações.
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