quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Perguntem às moças



Uma vez, perguntaram a uma grande atriz americana que era negra, se ela não se sentia menosprezada ao ter sempre de interpretar empregadas domésticas nos filmes. A atriz (cujo nome esqueci totalmente e não vou procurar no Google) respondeu que era bem melhor interpretar empregadas domésticas do que ser uma. Quem fez a pergunta certamente estava cheio de boas intenções, certamente estava defendendo que se dessem papéis importantes para atrizes negras, mas nem de longe conhecia a vida das mulheres negras naqueles tempos.
Para diminuir um pouco a imprecisão do que vou relatando, digo que isso se passou ainda na época da segregação racial nos EE.UU e os empregos para mulheres negras não passavam dos serviços domésticos. Agregue-se que a remuneração era baixíssima e a competição acirrada. A arte era uma opção.
Hoje, também há quem se preocupe com a condição de vida das mulheres (especialmente das mulheres negras). Há sempre alguém escrevendo sobre a exploração do corpo feminino. Na publicidade, nos desfiles das escolas, nas chamadas das TVs, em toda parte mulheres gostosas exibem seus corpos para vender algo. No carnaval o assunto ganha mais espaço.
Juntam-se a esses preocupados com a exploração dos corpos femininos, os moralistas cuja preocupação é com o corpo em si, notadamente o corpo nu ou seminu. Estes últimos afirmam que as mulatas nas escolas de samba e na publicidade mostrando suas formas exuberantes promovem o turismo sexual e degradam a imagem da mulher brasileira. Nunca ouvi essa gente dizendo que os biquinis de Ipanema promovem o turismo sexual nem que o top less, largamente praticado na Europa, degrada a imagem de ninguém.
Quanto às mulatas das escolas e da publicidade sensual gostaria de ouvir sua opinião sobre a exploração de seus corpos assim como a opinião das meninas de Ipanema sobre seus diminutos e deliciosos biquínis.  
De umas creio que ouviríamos que é melhor vender o corpo na publicidade do que numa caixa de supermercado ou numa central de telemarketing. De outras acho que posso escutar o zumbido de uma resposta desaforada bem ao estilo “o quê que você tem a ver com isso?”. De ambas creio que ouviríamos que cada um manifesta sua sexualidade como bem entende (enquanto o Eduardo Cunha não se mete) e que o exibicionismo é uma dessas manifestações.

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