quinta-feira, 29 de maio de 2014

Marulhar



Não, eu não passei anos olhando o mar
Sequer dias passei olhando o mar
Algumas horas? Não, uns minutos talvez
eu tenha passado olhando o mar
Pois sempre que escuto o marulhar
meus olhos buscam o barco no mar
O homem do mar
A morada do homem na ilha

no meio do mar.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O juiz que atira bananas



O Ministério Público Federal solicitou junto à justiça a retirada imediata da internet de vídeos de cultos evangélicos que achincalham e ofendem as religiões afro-brasileiras. O juiz Eugênio Rosa de Araújo, da 17ª vara federal do Rio de Janeiro, indeferiu o pedido alegando que não há risco de demora, pois não está em jogo o direito de exercício de tais práticas nem há perecimento do direito. Assim o Google poderá apresentar defesa em tempo conveniente sem que os vídeos infamantes sejam retirados.
Me parece que o magistrado não entendeu o motivo do pedido. Não se trata de perecimento das práticas nem do direito de exercê-las. Ninguém está alegando que a existência de tais vídeos coloca em risco os cultos afro-brasileiros. O caso é de ofensa grave, de intolerância religiosa e difamação de seus praticantes. O efeito disso é visível nos comentários dos fanáticos pentecostais feitos nas redes sociais e nos sítios informativos da internet.
Mas o togado não ficou na interpretação equivocada do pedido do MPF. Eugênio (o gênio) disse em seu parecer que os cultos afro-brasileiros não são religiões. Para esse filósofo contemporâneo, tais cultos carecem de traços necessários para assim serem considerados. É ele quem aponta tais carências: “a inexistência de texto base (bíblia, corão, etc), ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado”.
Eugênio descrê na tradição oral e parece desconhecer a existência de culturas ágrafas. Ou talvez pense que sem escrita para a produção de “texto base” não possa haver adoração de deuses nem ritos religiosos. Ele também exige hierarquia, quer patentes para que haja religião. Seu parecer é uma banana atirada aos seguidores de religiões milenares, à nossa herança cultural, ao nosso povo mestiço.

Em resumo: Eugênio é uma besta.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Aécio espera a chepa, Campos abraça árvore e Dilma cata feijão



A campanha pela presidência começou e começou feia. Paulinho da Força, sem fazer força, soltou coices e relinchos no 1º de maio ladeado pelos candidatos da oposição. Pediu cadeia para Dilma a quem apoiou decididamente na última eleição, mas que não cedeu às suas chantagens. A cara de pau indestrutível do sindicalista e seu eqüino desempenho naquele palanque inaugural é sinal de que a oposição de direita não quer deixar lacunas em agressividade e jogo sujo. Parece que vai ser esse o tom da campanha.
Essa instituição que é a ex-mulher, também pode dar seu auxílio luxuoso na corrida eleitoral, pelo menos é o que insinua Luis Soares no sítio informativo Pragmatismo Político, referindo-se a ex de Aécio Neves, Andréia Falcão.
Aecin, que não comentou uma suposta gravação feita pela polícia na qual ele e Andréia discutem e são mencionadas malas de dinheiro e diamantes indo para Aspen na bagagem do senador, faz o que se espera de um candidato em campanha: toma cafezinho na padaria e come pastel cercado por puxa-sacos. Na foto que circula nos meios de comunicação, Paulinho da Força (sempre ele) está de papagaio de pirata enquanto o político mineiro sorri para a desconhecida iguaria. No próximo recesso é bem provável que Aécio troque o Colorado por Campina Grande ou Mossoró. Vai comer buchada de bode pra aprender a rir de pastel.
Com a candidatura tucana tão sujeita às páginas policiais, e que sequer desfruta de muita simpatia no próprio partido, a imprensa, que forma com a oposição de direita no país, parece que vai jogar suas fichas na chapa Eduardo Campos-Marina Silva. A cobertura do lançamento extra-oficial da candidatura dos dois feita pelas empresas de comunicação dos Marinho, era só ternurinha.
O caso do Porto de Suape parece não assustar nem o candidato nem seus apoiadores e na falta de algo melhor para tentar derrotar Dilma, o pernambucano parece ser o preferido.  Além do mais, Campos arrasta Marina (ou será o contrário?) que é a queridinha verde da vez. O discurso sibilino de Marina é garantia para agradar a classe média sem importunar o latifúndio e o grande capital. Quando a moça fala ninguém entende nem se incomoda. É disso que Campos precisa: comer pelas beiradas fazendo oposição a quem apoiava meses atrás, mas com um discurso que não se confunda com o de Aécio, opositor de primeira hora. Há que marcar posição para ter uma vaguinha num já provável 2º turno. A chapa, bem equilibrada no que diz respeito ao prestígio político do candidato e da vice, vai ter de bater em dois se quiser ter chances.
Dilma, que pesquisas atrás parecia imbatível e prometia levar o prêmio no 3 de outubro, agora bota seus marqueteiros para trabalhar e no 14º Encontro Nacional do PT levou Lula, o maior cabo eleitoral do Brasil, à tira colo. O ex-presidente tenta pôr fim ao reclamo de alguns correligionários por uma candidatura sua para substituir a da presidenta, em queda nas intenções de voto segundo os datafolha da vida.
Se Aécio já se prepara para beijar criancinhas e caminhar por feiras livres com pinta de quem ta achando tudo cara e vai esperar a chepa, e Campos, ao lado de Marina, ensaia abraçar um jequitibá, Dilma, por sua vez deverá lutar pela manutenção de seu eleitorado que provém das camadas populares. Dilma, diferentemente de Lula, não se comunica bem com o povo pobre. Bem que ela tenta, mas seu negócio é escrachar colaboradores relapsos e políticos chantagistas que formam sua base no congresso. Nisso ela é boa.

 Então o que fazer para tornar Dilma uma figura popular? Se for deixar por conta dos gênios da propaganda que dirigem as campanhas, poderemos ver a presidenta no horário político catando feijão na cozinha do Alvorada, enquanto desfia o rosário das conquistas petistas no campo social e explica o caso da Petrobrás e sua refinaria milionária na terra de marlboro.