quinta-feira, 21 de julho de 2016

terça-feira, 19 de julho de 2016

Jogo da vida





Não conheço as regras
não sei se há algum adversário
nem quando começou o embate
mas sei que a derrota é iminente.




quinta-feira, 14 de julho de 2016

Esplendor





Pobre lua que já vai morrendo
na claridade
sem pôr mechas de prata em teus cabelos
Desaventurado vento que tanto viajou
procurou e se perdeu
e nunca brincou com tua saia
Coitadinhas das flores que murcham
sem conhecer
o toque dos teus dedos
E numa página qualquer
dorme esquecida a palavra esplendor
sem saber que foi criada
só para falar de ti.







segunda-feira, 4 de julho de 2016

Os meus





Gosto de gente que fuma
Dos que bebem sozinhos
Simpatizo com os solitários
Me fascinam os calados e taciturnos
Aprecio os rancorosos e os tristes
Me agradam os desiludidos e os pessimistas
E tenho uma queda por mulheres desbocadas
por maquiagem borrada
e outras marcas da noite






A tirana





A morte, essa besta
ossuda e malcheirosa
quer mostrar-se justa
mas é uma tirana. Tirana e louca
Finge que extingue
sem preconceito ou exclusão.
No entanto são muitas as valas comuns
poucos os mausoléus.



sábado, 2 de julho de 2016

Gentinha





            Eu quase começo dizendo que fiquei indignado, mas não vou dizer isso.. Melhor não. Há, nesses dias interessantes que vivemos, tantos fatos que merecem a minha e a sua indignação que seria demasiado usar o termo para o que vou relatar. Assim que vou começar dizendo que fiquei puto. Apenas puto.
            O fato que me deixou em estado de putidão se deu num programa de televisão. Um programa esportivo. Era o Linha de Passe da ESPN Brasil (?) da última segunda-feira. O assunto era a derrota da Argentina para o Chile na final da Copa América e as declarações dadas por Messi depois do jogo. Disse o jogador que abandonaria a seleção de seu país.Os comentaristas que compunham a mesa foram unânimes em lamentações. Falou-se dos textos que foram escritos por outros jornalistas sobre o possível abandono. Falou-se da poesia desses textos. José Trajano citou a coluna de não sei quem que comparava Messi a um palhaço triste. O palhaço que a todos diverte, mas é triste. Um palhaço que mira o chão e não o céu.
            Me desculpem os mais sensíveis, mas essa imagem do palhaço triste é imagem desgastada pelo uso  excessivo e pela pieguice. É muleta. E além do mais, no caso de Messi, mal empregada. Não vejo no jogador argentino nada que se pareça a um palhaço triste. Vejo nele o adolescente mimado, o eterno adolescente mimado que não suporta a derrota, a frustração. Vejo em Messi o típico ídolo de pés de barro dos dias de hoje que os meios de comunicação tentam (e conseguem) impingir. aos incautos para vender coisas  a eles associadas.Vejo em Messi o adolescente que desde a infância foi tratado como uma sumidade, como um ser acima do bem e do mal. O adolescente que não pode e não sabe perder.
            Mas José Trajano não ficou só na pieguice do palhaço triste. O experiente jornalista disse que os brasileiros que estavam contentes com o fracasso da seleção argentina e de seu maior jogador eram "gentinha". Disse gentinha e em seu rosto apareceu o esgar que sempre acompanha o uso do termo elitista e senhorial. Quase foi aplaudido por seus colegas de bancada.
            Ora, qualquer um que goste de futebol sabe que a rivalidade é um dos ingredientes mais saborosos do esporte da bola e que os argentinos são nossos rivais. Uma derrota argentina deve ser comemorada sim por todos nós. O fracasso de seu maior jogador e ídolo de pés de barro deve sim ser motivo de nossa chacota, de nosso deboche de nosso riso. Para os debatedores do programa isso estava fora de cogitação por tratar-se de Messi, o maior do mundo.Os que se alegravam com seu fracasso eram frustrados, invejosos, gentinha
            Juca Kfouri falou da tristeza que seria não ver Messi na Copa do Mundo da Rússia ou na Copa América do Brasil. Bem, eu já vi Messi em três copas do mundo e não me lembro de nada de excepcional que ele tenha feito e nessa Copa América que terminou domingo, o que vi foi Messi impondo um record de quatro horas sem marcar um único e escasso gol na seleção chilena. E outro mais: pela terceira final consecutiva Messi não marca gols. Nenhum gol.
            Claro que não foi nada disso que descrevi até agora que me deixou puto. O epíteto de gentinha até que me cai bem, afinal é isso que sou: gentinha, gente miúda que nossas elites e nossa classe média metida a besta despreza, gente com o pé na cozinha. O que me deixou puto foi o que veio a seguir com a intervenção de Mauro Cézar Pereira.
            Para refutar qualquer reproche que porventura pudesse ser feito à Messi por abandonar a seleção argentina depois de mais um fracasso, o jornalista citou Pelé. Não citou o Rei para dizer que aquele sim era um ídolo de verdade. Que Pelé, sim, era o maior do mundo. Que Pelé depois de brilhar na Suécia com apenas dezessete anos e sair do Chile com a frustração de não ter podido jogar toda a copa que seria sua definitiva consagração, comandou a campanha do tri no México no auge de seus 29 anos. Não disse que Pelé nunca nos defraudou como sempre faz Messi com os argentinos. Não, Mauro Cézar Pereira usou o nome do maior de todos para dizer em tom reprobatório que Pelé não quis jogar a copa de 74. Que poderia tê-lo feito e não o fez. O fato de Pelé ter deixado a seleção depois de três títulos mundiais conquistados e de Messi não ter conquistado nada não entrou no arrazoado de Mauro Cézar. Para ele, Messi teria tanto direito quanto Pelé de abandonar a seleção de seu país. Isso foi o que me deixou puto: a comparação descabida, o pouco caso com a história do maior jogador de futebol que o mundo já viu, a execração daquele que deveria servir de exemplo de conquistas e determinação para desculpar e enaltecer um jogador rival e pouco útil à sua seleção como Messi. Fiquei puto como brasileiro e como torcedor. Fiquei puto com ser humano. Fiquei puto com a falta de agradecimento a tudo que Pelé fez por nossa seleção e, por que não dizer, por nosso país.
            Estava certo Pelé quando deixou a seleção, pois se nem com tudo que conquistou seus compatriotas lhe dão o valor que merece, imagine se em um mundial ele fracassasse. Nisso devemos elogiar os argentinos:, eles não abandonam seus ídolos, Mesmo que o ídolo seja um cocainômano glutão e obeso tendo delírios em um sanatório.