sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Confissões





            Sexta-feira, 13. Ainda não anoiteceu, mas já me imagino num terreno baldio tendo por única companhia uma rodrigueana cabra vadia. O terreno baldio é o lugar sagrado das confissões e a cabra, o único ser vivente que merece escutá-las
            Vamos às confissões.
            Eu uso pochete. Sim. Discretamente, sob a camisa, fazendo prolongamento da barriga e não sobre ela. É uma pochete Mormaii, que achei no lixo. Sim, eu pego coisas no lixo. Resolvi antecipar umas manias de velhos: pochetes, lixo utilizável, blog, coleção de garrafas vazias... Sei que não viverei por muito tempo e quero usufruir dessas franquias de ser um velho maluco.  Mês que vem inauguro os resmungos e em 2018, vou começar a me fingir de surdo.
            Mas a pochete tem me trazido outras coisas velhuscas. Por exemplo: eu morro de medo de perder a pochete. É nela que carrego meu Minister e o isqueiro Bic, elástico para prender o cabelo em caso de ventania, uma merreca e um alicate de corte. (Não me pergunte o motivo de carregar o alicate de corte. É coisa de velho). E além do mais a pochete foi encontrada em estado de nova. Certamente um presente rejeitado por um velho que não se vê como tal. Me daria muita lástima perdê-la.
            Há outras coisas que gostaria de levar na pochete: uma lanterna pequenina, um ímã e algum remédio. (Aspirina serve). Também poderia levar um pouco de maconha terapêutica num bolsinho metido a secreto que há na parte de trás. E ainda caberia a caixa de óculos de leitura, mas como todo neófito nas lides da velharia, eu sempre esqueço os óculos e fico tentando ver a data de validade dos produtos do supermercado afastando as embalagens tanto quanto o braço alcança.
            Como todo velho recente e inaugural, meu medo, confesso, não é a guerra nuclear, não é a epidemia de ebóla nem sequer o Dória na presidência, meu medo é perder a pochete.
            Por hoje, basta de confissões. Dorme cabrinha, dorme.