Nem vou falar do pau, apenas da coisa em si.
Contam que Dom Pedro II foi precursor entre nós. Graças a ele
conhecemos algo da intimidade da família real. Logo surgiram estúdios e os mais
aquinhoados compravam seu próprio equipamento.
E era assim, uns fotografavam os outros para deixar documento,
para recordar uns tempos depois. As paisagens também eram fotografadas. E os
animais. E o pôr do sol. Assim era até pouco tempo atrás.
Agora não. Nesses dias interessantes que vivemos o sujeito
fotografa a si mesmo. É ele e a paisagem, ele e o pôr do sol, ele e ele mesmo.
Uma punheta.
Para os fotógrafos atuais as pirâmides do Egito, as cataratas
do Iguaçu ou os canais de Veneza não são nada sem sua presença na foto de
viagem.
Antes da era digital já havia dispositivos nas máquinas
fotográficas que permitiam que alguém fotografasse a si mesmo. O recurso era
usado para que o fotógrafo se incluísse entre amigos e parentes na foto da data
festiva, para o registro do encontro,
mas a ninguém lhe ocorria ficar pulando sozinho pra frente da câmera. Havia um
acanhamento do narcisismo, um pudor do exibicionismo. Havia senso do ridículo.
Vivemos os dias dos selfies e não há feiúra que acanhe. Estão
todos nas fotos que outro não tiraria. E não é preciso pedir a ninguém que as
mostre; para isso existe o instagram, o facebook, o diabo. Estão lá, aos milhares,
as fotos que ninguém tiraria, que ninguém pediu pra ver, que ninguém quer ver.
E tem o pau, mas como eu disse não vou falar dele. Já seria
demais.
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