sábado, 16 de abril de 2016

Violenta, intolerante e burra





            Li esta semana,  numa crônica intitulada "E se houver golpe?", do professor José Ribamar Bessa Freire, a citação de um livro do historiador uruguaio René Dreifuss sobre o golpe de 64 e seus antecedentes. Bessa Freire também menciona pesquisas que alunos de Biblioteconomia da UNIRIO fizeram sobre o tema seguindo a trilha do historiador.
            Naqueles anos de guerra fria, constatou a pesquisa, foram editados em apenas três anos e com dinheiro vindo de empresas multinacionais via IPES e IBAD, mais de cem títulos de  livros anticomunistas que tiveram distribuição gratuita em bancas de jornal. Tratava-se de atemorizar a população com o perigo vermelho que estaria presente no Brasil de Jango. A imprensa escrita, a televisão e o rádio contribuíam para fomentar a histeria. Havia também, é claro, um grande número de políticos, jornalistas, escritores e editoras a soldo do grande capital para espalhar boataria sobre o perigo comunista. Quando o golpe foi pras ruas já encontrou terreno fértil e grande aceitação popular.
            Hoje, os livros são desnecessários. Temos a internet. Ademais, num tempo em que um texto de três parágrafos é chamado de textão, quem os leria? Nesses dias interessantes que vivemos uma infinidade de sítios, páginas, blogs e  outros que tais fazem o serviço da desinformação e manipulação dos pascácios. Não precisa muito esforço, qualquer coisa serve: uma fotomontagem de Dilma ao lado de Hitler, uma gravação em que Chico Buarque "confessa" comprar músicas ou qualquer afirmação como a de que Lula teria decepado o próprio dedo para receber pensão do INSS, ganham grande repercussão e milhares de compartilhamentos de crédulos relinchantes. Nas TVs, canastrões travestidos de jornalistas fazem a cabeça de multidões e nos púlpitos das igrejas neopentecostais, aos gritinhos e pulinhos, pastores e bispos de araque se somam ao elenco de enganadores. O público alvo dessas bobagens é tão pueril que vale até mesmo requentar o anticomunismo dos anos 60. Nas manifestações pro impeachment vimos cartazes e faixas com os mesmos dizeres das mostradas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade de 1964.
            Constatamos, não sem grande constrangimento, que ademais de violenta e intolerante a vida política no Brasil vai se tornando cada dia mais burra.
         

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