sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Magda





            Magda era doida. Acho que era isso o que me atraia nela. Sempre gostei de mulher doida. Não lembro como nos conhecemos, mas houve um momento em que estávamos gostando um do outro. Ela gostava à sua maneira doida de gostar. Eu me apaixonava fácil. Nos entendíamos. Às vezes.
            Naqueles dias, eu tinha uma namorada e tentava conciliar o namoro com meu caso com Magda. Ela era casada, mas tinha menos problemas que eu para manter as coisas equilibradas. Assim são os doidos.
            Não havia um encontro com Magda que fosse normal. Um dia ela me levou até a porta do apartamento onde morava com o marido e as duas filhas para arrumar um dinheiro para irmos pro hotel. O prédio ficava na Rua da Relação e isso me causava graça. Demorou mais de meia hora lá dentro e eu ali no corredor tentando planejar uma rota de fuga caso fosse necessário e sem saber o que esperar: se um marido furibundo vindo tirar satisfação com um amante tão folgado ou uma noite de amor.  Noutra ocasião a levei pro melhor hotel vagabundo que conhecia e ela, depois de entrar no quarto e se despir a meias, cismou que não queria transar. Não houve jeito. Desisti. Fomos embora rumo a Santa Teresa e no meio duma escadaria deserta ela resolveu que queria e já estávamos nisso quando ouvimos vozes antes de vermos uns caras descendo os degraus em nossa direção. Onde estava, fiquei. Consegui manter a concentração no que estava fazendo enquanto os caras passavam por nós. Os caras foram discretos. Só deram uma olhadinha e seguiram seu caminho.
            Mesmo sendo casada e tendo duas filhas pequenas, Magda estava sempre na noite e sempre só. Algumas vezes a vi acompanhada de seu amigo Guaraná, uma figurinha difícil, de poucas palavras e olhar gateado. Eu não o suportava. Acho que por ciúmes. Nunca soube se ele era gay ou bi e isso me inquietava.
            Magda tinha uma voz doce e misturava seu sotaque do norte de Minas com o palavreado carioca. Tinha seu charme. Não era bonita, acho até que éramos parecidos. Magrinha, de poucas curvas e andar de menino não era tampouco uma mulher que alguém chamaria de gostosa. Acho que era mesmo seu jeito de doida mansa o que me cativava.
            Nosso caso durou mais de um ano. Mais que o namoro que eu tinha quando a conheci, mais que outros namoros. Por um tempo levei uma foto sua na carteira e um dia terminamos. Foi uma briga feia. Levei mais de vinte pontos no antebraço direito. A costura feita por algum residente do Souza Aguiar numa madrugada de sexta pra sábado deixou uma cicatriz repuxada que dói quando faço esforço. Nessas horas me lembro de Magda. Com carinho.




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