A democracia burguesa que vivemos, não garante nada. Nem
igualdade, nem liberdade e muito menos fraternidade. Sequer direitos mínimos
como residência, emprego, alimentação, saúde ou educação. Ainda que tudo isso
esteja escrito, em letra de imprensa e linguagem empolada, na nossa lei maior. Mas,
essa democracia é o que temos. O que de melhor já tivemos no Brasil.
Claro, nossa democracia, como tantas outras, está sujeita
aos humores políticos e econômicos. Uma aliança do governo com determinado
partido, em troca de apoio no congresso, pode, de uma hora para outra, mexer com
nossas vidas e valores. Nem estou falando dos boatos que apontam a líder
ruralista Kátia Abreu, como possível Ministra da Agricultura na próxima reforma
ministerial da Presidenta Dilma. Não. Estou apenas me referindo às mesas
diretoras das casas legislativas, que serão eleitas no próximo mês.
O conservadorismo dos dois prováveis eleitos para presidir
aquelas casas de leis, afastará da pauta de discussão, qualquer tentativa
independente de aprimorar o país e suas relações com os cidadãos. Talvez venha
a caber novamente ao Supremo, a missão de legislar em torno das demandas da
sociedade, enquanto nossos representantes eleitos discutem o butim do petróleo
ou o direito de acoitar réus condenados pela Corte Suprema.
Essa democracia que vivemos com certa alegria, tem entre
seus protagonistas (sim, nossa democracia tem protagonistas que não o povo)
vivazes inimigos. Um deles, o próprio poder legislativo, ou melhor, aqueles que
o compõem. O corporativismo, o nepotismo, a troca de favores, a corrupção e os
mais escandalosos conluios, fazem parte do cotidiano do Congresso Nacional. A
cada 4 anos entregamos um cavalo de Tróia na casamata da democracia.
Os partidões, tanto na situação como na oposição, tudo fazem
para silenciar os independentes, querem pautar a vida do povo brasileiro
segundo seus interesses partidários e pessoais. Desde a redemocratização do
país, têm conseguido.
Outra inimiga da democracia brasileira é a imprensa. Como
não precisam ser votados e vivem de seus ricos anunciantes, nosso jornalismo
sequer tenta disfarçar seu perfil autoritário e antidemocrático.
As medidas mais populares, e conseqüentemente mais
democráticas, do governo, ou sofrem severas críticas ou recebem o rótulo de
populistas por parte dessa imprensa. É o caso do Bolsa Família.
Já assisti na TV pública, várias entrevistas com economistas
falando dos efeitos benéficos do Bolsa Família na economia do país. Milhões de
brasileiros que hoje podem comprar um simples pacote de bolachas por semana, ajudam
na expansão não só da indústria de biscoitos como na indústria de embalagens e
no sistema de transporte de cargas, criando um círculo virtuoso. Só para citar um pobre exemplo. Sobre o
assunto, as únicas reportagens que vi na Globo e congêneres, falavam dos
desvios do Programa Bolsa Família e de gente que recebia o benefício sem ter direito a ele.
Na questão das cotas nas universidades, deu-se o mesmo.
Jamais ouvi nas TVs comerciais, a citação dos números que colocam os cotistas
no mesmo patamar dos outros alunos e até superiores, quando de freqüência e
permanência no curso se trata. Ao invés disso, o risinho sardônico de Merval
Pereira e a cara de prisão de ventre de Diogo Mainardi.
Do outro lado do balcão, a imprensa mais atrelada ao governo,
e não só às suas verbas publicitárias, também combate a democracia. Nesse
quesito “Carta maior” chega ao paroxismo. Seus colunistas, já derrotados na
tentativa de provar a inocência de notórios quadrilheiros, insistem na tese de
que nada foi provado sobre o mensalão. Não dizem que os réus eram inocentes,
apenas afirmam que nada foi provado. Discurso aprendido com os advogados do
companheiro Maluf.
Onde esses senhores pensam que estávamos durante a CPI dos
correios? E durante o julgamento da AP 470? Que somos incapazes de entender a
leitura dos autos repletos de confissões?
Mas há piores inimigos da democracia em nosso país: a classe
média que infesta as redes sociais. Aqui já não há a tentativa de embuste dos
meios de comunicação. É a grosseria pura e simples. Gente que não sabe alinhavar
duas frases dá-se o direito de esculachar a população que não vota como ela,
que não tem seus valores pequeno-burgueses, nem partilha de sua xenofilia. Não
querem a profilaxia do Congresso e sim seu fechamento. Não pedem melhorias na
educação básica, exigem o rebaixamento da idade penal e a pena de morte.
Nossa classe média é saudosa da ditadura que muitos nem
conheceram. Dizem que naquela época não havia roubalheira com dinheiro público
e que o bandido respeitava a polícia. Faz-me rir.
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