sábado, 13 de julho de 2013

O casamento do padre


                Acho que Freud explica. Afinal esse vício de assistir padres e pastores de TV só pode ser alguma estranha patologia. Imagino que seja algo próximo ao masoquismo. Ou algum trauma de infância oculto nos confins do subconsciente. Sei lá. O fato é que por mais que tente, não deixo o mau hábito. Hoje, por exemplo, no intervalo do futebol acabei parando na TV católica, a TV católica dos carismáticos. Na barra da tela dizia tratar-se da santa missa, mas sinceramente creio que a informação estava errada.
                Se bem me lembro dos tempos que em Belo Horizonte eu acompanhava alguma namorada católica  praticante às missas, aquilo não era a eucaristia. Nada que aparecia na tela me era familiar. Talvez, naqueles tempos de namoradas devotas e ditadura as coisas fossem diferentes e as pregações eram dispensadas, ficando o culto restrito às formalidades do catolicismo. Lembro que no fim da cerimônia devia-se abraçar quem estava ao lado. Era meio constrangedor para meus 16 anos. Ma sabe como é, ajoelhou tem de rezar.
                Na missa que passava na TV, o padre fazia uma pregação como nos filmes americanos. (Americano não entende nada de catolicismo). E do que falava o cura? Ora, falava de casamentos, de vida matrimonial.
                Um padre, supostamente celibatário, falando de casamento é algo assim como eu dando consultas sobre como acumular fortuna ou aconselhando sobre investimentos. Pelo menos eu me acanho e não abro a boca quando o assunto é dinheiro, mas o padre televisivo, não. 
                Vestindo seu vestidão sacerdotal ornado com uma gola que eu jamais havia visto em nenhum pescoço eclesiástico e que lembrava claramente a gola dos palhaços, o homem da católica carismática aconselhava os casais. Segundo entendi, ele é famoso entre seu rebanho por essa prática.
                E falava as besteiras típicas de quem nunca viveu maritalmente com alguém. Um dos conselhos do padre se referia às amizades que um dos cônjuges deixa entrar no lar. Aconselhava amizades apenas com quem tem Cristo no coração. Mas não ficava só nisso.

                Como todo contador de lorotas, viciado pelas estorinhas de seu livrinho mágico, o padre deu exemplos. Se eu não tivesse a certeza que o que contou foi uma dessas invencionices que os adeptos do cristianismo tanto admiram na bíblia, poderia dizer que faltou um mínimo de ética ao aconselhador. Citava tantos pormenores da vida de uma suposta consulente que qualquer pessoa ligada a ela saberia de quem se trata principalmente o marido que, segundo o relato do padre, estava prestes a ser abandonado. Mas não é o caso de contestar a lisura do padre no que se refere à discrição de um confessor, era apenas mais uma mentirinha como a da virgem parideira ou da anciã que embuchou.

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