quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mandela e o século 21

Assim são os séculos, eles não nos abandonam num 31 de dezembro ao som de foguetório e música estridente. Tampouco começam no 1º de janeiro acompanhados de ressaca e uma pesada sensação de esquecimento. Os séculos seguem anos a fio, dentro de um calendário alheio. Por isso só agora vai terminando o século 20. Não de todo nem para sempre, mas vai terminando.
A morte de Mandela foi um desses sinais que o século das revoluções vai dando lugar aos dias interessantes que nos esperam e com os quais já convivemos. 
Mandela foi um típico líder do século passado (e passando). Uma estirpe de homens de que os novos tempos são avaros. Mandela ombreia-se a Fidel Castro, Ho Chi Minh, Tito, Lumumba, Samora Machel, Agostinho Neto, Jomo Kenyatta, Nasser, Atatürk, Arafat e alguns poucos outros.
Mas esse Mandela, que leva consigo os últimos vestígios da centúria passada, vai sendo substituído por um novo Mandela, mais acorde com os dias atuais. Antes mesmo que seu corpo fosse levado à tumba, surgiu um novo Mandela; global, unânime, incontestado. Um Mandela holywoodiano muito diferente do guerrilheiro que jamais abriu mão da luta armada para libertar seu povo. Um Mandela capa de revista Time, totalmente distinto do líder que falou contra o embargo à Cuba e contra  a guerra do Iraque e que foi aliado estratégico de Kadaf.

O Mandela que a direita e sua máquina midiática tentam inventar é a antítese do estadista que sempre foi apoiado pelos comunistas sul-africanos. Do Mandela de punho em riste. Esse Mandela incômodo vai sendo transformado pela indústria do espetáculo jornalístico num Mandela a La Ghandi, num Mandela estilo Morgan Freeman. Um Mandela com sorriso bondoso de vovô.  

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