Que os políticos mentem, é fato
notório. Não só no Brasil, como pensam alguns brasileiros. Os políticos mentem
em todos os quadrantes, em todas as línguas, com todos os sotaques. Há os que
mentem sempre e outros que se adaptam ao mundo das mentiras. Mentem para chegar
à verdade, mentem para perpetuar-se no poder. Mentem.
Quando acossados por uma
investigação, vão além; mentem, choram e falam dos filhos. Isso todos sabemos e
portanto já estávamos preparados para um festival de falsidades que viria no
curso da CPI do Cachoeira.
O que, pelo menos eu, não
esperava é que nessa comissão de inquérito todos mentissem. Não apenas seu réu
único, Carlinhos Cachoeira, mas também os que investigam, os que atacam, os que
defendem, os que comandam e os que obedecem.
Mesmo antes de ser convocada a
CPI, Demóstenes subiu à tribuna do Senado e mentiu negando Cachoeira mais que
Pedro a Cristo. No Conselho de ética segue mentindo e certamente mentirá quando
depuser na comissão. É sua estratégia de defesa, comprovadamente eficaz em
outros casos da mesma ordem. Não lhe cabe outra, qualquer verdade que pronuncie
o levará às barras dos tribunais. Do jeito que está levando, virá a cassação e
nada mais. Daqui alguns anos, poderá, como Collor e Alceni Guerra, bater no
peito e mostrar atestado de inocência. Muitos dos que hoje o acusam, estarão em
situação semelhante a que ele se encontra hoje. Assim como outros, que ele
acusou no passado recente, são agora seus juizes
Já no primeiro dia da CPI,
quando se debatia sobre os requerimentos a serem votados, a mentira mais
deslavada tomou conta da comissão. Os convocados para depor foram pinçados com
o claro intuito de sacrificar o menor número possível de figurões, de
poupar-lhes o vexame público de desmentir o que disseram quando foram gravados
em animadas conversas pelo telefone e, depois dos vazamentos, ouvidos por
milhões de brasileiros no horário nobre da TV.
Aqui também está outra mentira. De acordo com o interesse de cada meio de comunicação os vazamentos foram filtrados antes de
serem mostrados aos telespectadores e leitores. Na Globo pouco se falou de
Policarpo e suas mais de 200 ligações para Cachoeira. Em editorial, o jornal
dos Marinho afirmou que Civita não é Murdock como “Carta Capital” publicou em
notícia de capa. A revista de Mino Carta é quase que a única publicação a
defender a convocação de Policarpo Júnior para depor na CPI. Comparando o dono
da Editora Abril com o magnata dos tablóides ingleses, tenta mostrar que tipo
de jornalismo está sendo feito entre nós.
Em outra publicação do
ítalo-jornalista, a Carta Maior, está num texto sobre a última reunião da CPI, que
a polêmica sobre a convocação de Policarpo Júnior para depor está aberta, “com
a oposição querendo blindar a grande mídia e o governo insistindo que a CPI
investigue todos os envolvidos”. A afirmação é de Najla Passos que assina a
matéria.
Ainda que vejamos o relator da
comissão de inquérito, que é do PT, rejeitar qualquer tentativa de convocar-se
Cavendish ou quebrar o sigilo bancário e fiscal da Delta fora do centro-oeste,
a jornalista afirma que o governo quer investigar todos os envolvidos. Esta
talvez seja a grande novidade dessa CPI, a imprensa está mentindo mais que os
políticos. Quase não há espaço para que os profissionais da farsa atuem.
Em outro episódio, quando foi
feito um “puxadinho” para que os parlamentares pudessem ter acesso a documentos
que estão sob segredo de justiça, Eliane Catanhede, em comentário para a Globo News,
falou que estavam escondendo as informações, como se o segredo de justiça fosse
determinado pela comissão, como se aquele fato fosse algo anormal numa
investigação. Embora Catanhede nem de longe possa ser levada a sério como
jornalista, me recuso a crer que ela possa ser tão burra. O segredo de justiça
é instrumento legal que existe em qualquer lugar onde vigore o estado de
direito. Sua finalidade não é esconder os fatos da população, mas evitar que as
investigações sejam prejudicadas. Claro que todos aqueles que cometem crimes de colarinho branco, usam desse e outros artifícios para
esconderem-se do julgamento público. A cheirosa jornalista não desconhece os
ritos processuais, está apenas a serviço dos interesses da grande imprensa para
quem presta serviço.
As "famiglias" da informação
tratam de blindar Policarpo Júnior falando em cerceamento à liberdade de
imprensa, enquanto quem o acusa e quer vê-lo depondo, é Fernando Collor de
Merda, o filho de Geppeto. O engraçado é que “Carta maior” comentando as
intervenções de Collor na CPI e sua tentativa de aprovar um requerimento para
que Policarpo deponha, cita-o como se tratasse de alguém que preste. Sem aspas
nem restrições. Mas tem pior.
Na última sexta-feira um
cinegrafista do SBT virou sua lente para o celular do Deputado Vaccarezza do PT que
trocava mensagens de texto com o governador Sérgio Cabral Filho, amigo íntimo de
Cavendish. No texto, diz Vaccarezza:_ “A relação com o PMDB vai azedar na CPI.
Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic). Flagrado, Vaccarezza
não desmentiu, disse apenas que era uma troca de mensagens entre amigos. Nem
precisava dizer. A assessoria do Governador não havia comentado o episódio até
o momento em que escrevo. Melhor assim, pois vindo do Palácio Guanabara,
qualquer comentário serviria apenas para aumentar o rol das mentiras. É de
praxe. Por sua vez, Vaccarezza soltou nota negando que haja blindagem de quem
quer que seja e que Cabral está acima de qualquer suspeita pois não foi citado
nas conversas de Cachoeira.
Dessa vez “Carta maior” preferiu
a omissão e em sua página o assunto não existe. Nem a filmagem do SBT nem a
nota do Deputado O sítio informativo assim entra de vez no clima da CPI para a
qual não existem as imagens de Sérgio Cabral Filho em Paris ao lado de
Cavendish comemorando o aniversário da mulher, não existem os contratos
milionários do Governo do Estado do Rio com a Delta, não existem as gravações
dos telefonemas de Cachoeira para Perillo e deste para o contraventor, não
existem as mais de 200 citações do nome do Governador de Goiás nas conversas
mantidas entre Carlinhos Cachoeira e seus asseclas, não existe nada suspeito
nos contratos das empresas de Cachoeira com o Governo do Distrito Federal. Como
nada disso existe, a convocação dos governadores para depor não se faz necessária.
Segundo informa “Carta maior”, a convocação foi “sobrestada” e será tema para a
próxima reunião administrativa. O eufemismo chega a ser cômico.
A diferença entre a imprensa de
direita e a outra, que se diz de esquerda, é que a primeira sacrifica logo
alguns bois pras piranhas para evitar perdas maiores entre seus sócios,
enquanto “Carta maior” e outros sítios informativos alinhados com o governo
tentam salvar as aparências e não dizem claramente que políticos de todos os
partidões comeram na mão de Cachoeira.
É quase certo que uma investigação
que tivesse como alvo a Delta e não só o contraventor goiano, acabaria chegando
em algum ministério, e não só dos que foram loteados, mas, possivelmente,
alguma pasta administrada pelo PT. É o que espera a imprensa golpista e a
oposição sem discurso. Mas se aquela ainda nutre esperança de fazer o enorme
escândalo roçar a figura da Presidenta Dilma, a oposição de direita já se
divide de acordo com interesses inconfessáveis. Na última quinta-feira, isso
ficou claro quando os deputados Francisquini e Carlos Sampaio apoiaram as decisões
do presidente da CPI, Senador Vital do Rego, que insiste em não quebrar o
sigilo fiscal da Delta em todo país e deixar para depois uma possível convocação
de governadores, os senadores Álvaro Dias e Cássio Cunha Lima votaram contra. A
discórdia entre os tucanos surpreendeu até gente da base aliada.
A divisão da oposição não tem
como base nenhuma questão ética. Trata-se apenas de senso de oportunidade; uns
achando que é melhor ir devagar e com cautela enquanto outros ainda tentem se
cacifar melhor para o acordão que, pelo andar da carruagem, parece inevitável.
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