Eu preciso de uma cidade
com todas as suas luzes e violências. Preciso
de uma cidade com seu caos de sombras
Sua impossibilidade de silêncios
Preciso de uma cidade
e as improbabilidades de amor
Uma cidade com arestas e asperezas
Preciso de uma cidade sem lua
Com estrelas penduradas nos postes
e poças d’agua coloridas
Preciso de uma cidade
que não se sustente
que me sustenha no chão duro de pedra e carvão
Preciso de uma cidade
Uma
qualquer cidade onde chova encalorada
Calorosa e ríspida
Preciso de uma cidade para viver aos gritos
Para viver aos saltos, aos trancos
Uma cidade que me asile. Uma cidade exílio
Preciso de uma cidade, de seu odor doce de fumaça
de frutas podres de suores.
De velhos jornais voando amarelados
Preciso de uma cidade insone, sonâmbula
Cocainômana
Cacofônica e estridente. Preciso
De uma cidade em chamas
De uma cidade em greve em prantos
em petição de miséria
Preciso de uma cidade que arranhe céus
E crave as unhas no inferno. Preciso
De uns cemitérios
Preciso de uma cidade que colha os amanheceres
e os despeje sobre as cabeças dos que anoitecem
Preciso de uma cidade para morrer.
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