sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A lei de Gerson







O Gerson fumava. Naquela época não era nenhum bicho de sete cabeças que um jogador fumasse. O Canhota fumava roliúde. Todo mundo sabia. Conta a lenda que  havia treinadores que esperavam o Gerson ir ao banheiro fumar um cigarro no intervalo dos jogos, para só depois dar as instruções para o time.
Uns dois anos depois da Copa do México, onde brilhou, Gerson continuava com seu prestígio intacto e foi convidado para estrelar um comercial de TV. Era o comercial dos cigarros Vila Rica. A peça publicitária fazia crer que Gerson havia trocado o roliúde de sempre pelo novo Vila Rica, mais barato, mas com igual sabor, segundo a propaganda. A vantagem estava no preço. O Canhota perguntava ao telespectador: _”Pra que eu vou pagar mais caro se meu Vila me dá o que eu quero?” E concluía conclamando que outros fumantes o acompanhassem na troca vantajosa: _”Você gosta de levar vantagem em tudo, certo?”
Tempos depois alguém concluiu que aquele comercial apelava para uma característica de nosso povo: o oportunismo. Começaram a chamar essa mostra de mau-caratísmo, que está longe de ser um produto genuinamente brasileiro, de lei de Gerson. Foi parar na conta do craque um texto que ele jamais escreveu, uma concepção de vida que ele nunca teve.
Poderia apostar que assim como quem escreveu o texto da propaganda do Vila foi um publicitário, foi outro que inventou a tal lei. É que publicitário não consegue ver algo sem por legenda, sem conceber um mote.
 Hoje, quem nunca viu Gerson jogar ou nem mesmo sabe de quem se trata, repete diante de qualquer mostra de oportunismo ou de algo ruim que lhe dizem ser típico de brasileiro: _ Lei de Gerson. Ao complexo de vira-latas juntou-se o mote fácil, a frase feita e pra pronto consumo.  Irresistível.
Tantos anos se passaram desde aquele comercial e nada de deixarem o craque dos lançamentos geniais em paz. Por que não procuraram saber o nome do publicitário que escreveu o texto do comercial para darem seu nome à “lei”?
Tenho certeza de que a maioria dos que usam o termo não conhece sua procedência. Por isso vale lembrar: era só um comercial de cigarros e o Gerson apenas era o “garoto propaganda” que dizia o texto e não seu autor. Nada mais. 




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