Ao tomar posse como Ministro da
Pesca, Marcelo Crivela brincou dizendo que não sabia nem botar uma minhoca no
anzol. Malandro como o gato, antecipou-se aos seus possíveis críticos que
poderiam perguntar que conhecimentos teria o bispo para ocupar tal posto. A
cautela do sobrinho de Edir Macedo foi até exagerada pois ninguém espera nada desse ministério nem de seu
titular. Mas, como se sabe, cautela, água benta e canja de galinha não fazem
mal a ninguém.
O ministério, agora doado ao PRB,
foi uma criação do governo Lula para acolher José Fritsch do P.T catarinense. Não
sei se o ex-prefeito de Chapecó fez jus à indicação por ser do estado de Ideli
Salvatti, fiel escudeira e pau pra toda obra do P.T, ou por pertencer a alguma
das inúmeras facções petistas que ficara sem cargo de relevância após o
loteamento ministerial. Mas o fato é que depois de inaugurado o ministério não
se ouviu falar mais do Ministro.
Fritsch, pelo que sei, teve um bom desempenho
como prefeito de Chapecó. Homem do oeste de Santa Catarina, ele conseguiu
resolver um dos graves problemas que a região enfrentava: a poluição provocada
pelos dejetos de suínos. Sim, pois se falta mar e peixes naquelas bandas, a
suinocultura tem grande importância econômica por lá, sendo das maiores do país.
Fritsch mostrou que entendia do assunto mas como ficaria estranho criar um
Ministério da Feijoada ou uma Secretaria do Leitão à Pururuca, o jeito foi criar
o Ministério da Pesca e lá, abriga-lo.
Passado algum tempo Lula, num
ato público, falou de seu ministro, talvez para que não fosse de todo esquecido
e embora nosso ex-presidente seja bom de conversa e de palanque, nesse dia, ao
referir-se ao ministro, lhe saiu um elogio à moda de Antônio Carlos Magalhães.
Você manja, não? O falecido proprietário da Bahia não era homem de elogiar.
Preferia mandar e quem manda não precisa estar de delicadezas com ninguém.
Claro que às vezes é necessário uns salamaleques para azeitar uma aliança
política ou conseguir algum apoio no bas-fond do congresso. Assim que um dia, ACM, meio a contra gosto, teve de fazer um cumprimento ao então governador de
São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Disse o bahiano:_”Engraçado esse Fleury.
Parece velho mas é moço. Parece burro mas é inteligente”. Mais elogioso do que
isso, não lhe saía.
Lula, por sua vez, para lembrar
Fritsch recorreu a uma de suas analogias futebolísticas:_ “Ele não é o melhor
jogador do time mas a torcida gosta dele” Mesmo para Lula, que é franco no
elogio e na crítica, não dava para ir muito alem. O desempenho do Ministro o
proibia.
Não creio que a Presidenta Dilma
espere de seu novo ministro algo mais que um auxílio na costura política. Um
chuleado aqui, um cerzido ali, já estaria de bom tamanho. Mas é uma lástima que
para tal fim faça-se uso de um ministério que deveria ser de suma importância
para a nação. Na verdade nem precisaria ser ministério. Uma secretaria da pesca
ligada ao Ministério da Agricultura seria o suficiente para estimular a
atividade pesqueira.
Ao contrário do que dizia o
discurso ufanista vindo da época da ditadura, nosso mar não é tão piscoso, mas
uma política de incentivo à pesca poderia contribuir em muito para a
alimentação dos brasileiros. No que consistiria essa política? Bem, o Fritsch,
o Crivela e eu não temos a menor idéia mas é claro que teria de ser algo que
englobasse desde a construção naval até a criação de espaços nos quais o
pescador pudesse comercializar o produto de seu trabalho, fugindo do
intermediário. A aquisição do pescado pelas prefeituras para ser inserido na
merenda escolar também poderia ser considerada nas cidades litorâneas. Em
lugares, como minha cidade, em que a pesca diminuiu drasticamente de uns anos
para cá, o incentivo e a qualificação profissional de pescadores para gerirem
fazendas de peixes, não é má idéia.
Infelizmente toda política pública que
pretende beneficiar diretamente o cidadão, tem de passar pelo poder local e,
verdade seja dita, nossos prefeitos, em sua grande maioria, roubam. Quando não
roubam, privilegiam seus correligionários e perseguem os opositores. Em muitos
casos atuam nas duas especialidades. Com a economia que se faria extinguindo-se
um ministério como o da pesca, com seus assessores, secretárias gostosas,
motoristas, contínuos e puxa-sacos em geral, se poderia criar muitas delegacias
regionais, comandadas por pessoal técnico, que responderiam a uma secretaria
nacional também gerida por quem entendesse do riscado e não eu ou o Crivela.
Isso vale para a pesca e para outras atividades nas quais o Governo Federal
injeta verbas, que hoje são escoadas para os bolsos ávidos de prefeitos e
outros políticos.
Por enquanto teremos que nos
conformar com o total imobilismo na área da pesca assim como em outras, cujos
ministérios, foram terceirizados em nome da coalizão e do apoio no congresso.
Do Ministro Crivela, ouviremos falar mais do que ouvíamos falar de Fritsch. O
sobrinho de Edir Macedo tem planos ambiciosos para sua carreira política e não
deve desperdiçar o posto e a caneta. Se lhe falta conhecimento técnico sobre a
área que agora comanda, ele de certo saberá suprir essa lacuna com sua
experiência de pescador de almas que adquiriu ao longo de seu ministério na
Igreja Universal. Quando algum desavisado quiser falar sobre minhocas e anzóis,
bastará citar Pedro e os outros apóstolos que, estes sim, eram do ramo.
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