Com o anúncio do novo piso salarial nacional para os professores, o que poderia ser o começo de uma relação mais estável entre os docentes e o governo, tende a se transformar em mais um motivo de atrito. Governos estaduais não aceitam a imposição e alegam diferenças regionais e cofres vazios. Mesmo o governo petista do Rio Grande do Sul, já remeteu à assembléia legislativa local, projeto de aumento salarial inferior ao proposto pelo Governe Federal.
Quanto aos professores, sua
disposição para o diálogo é, no mínimo, duvidosa. Nas assembléias que decidem o
posicionamento da categoria frente às propostas do governo, geralmente é uma
minoria radicalizada, que há muito tempo não pisa em sala de aula, quem comanda
as discussões e infalivelmente propõe a greve. Esses sindicalistas
profissionais, pouco pensam nos colegas e em quem deveria ser o centro dos
interesses da classe: os alunos da rede pública de ensino. Sua principal
ocupação é fazer oposição ao governo, seja municipal, estadual ou federal,
dependendo de quem está à frente do sindicato.
A baixa remuneração dos
professores é fato notório e não creio que ninguém no país vá argumentar em
contrário, mas distorção de tão grande vulto não pode ser corrigida do dia para
a noite e o novo piso é um passo na direção certa. Não nos esqueçamos que há
escassos 20 anos, o salário mínimo mal alcançava os 50 dólares e que antes da
constituição de 88 havia aposentadorias que eram pagas em moedinhas, inclusive
para ex-docentes. Nem o salário básico nem as aposentadorias atingiram um
patamar que possa ser considerado digno, mas houve avanços significativos. Não
se pode negar. O mesmo se poderia esperar no caso dos salários dos professores
se estes se mostrassem propensos a apoiar a proposta do Governo Federal e
ajudassem a anular os movimentos em contrário dos governadores. Mas parece que
não se pode contar com tal apoio. Ao contrário.
Embora a categoria ainda não
esteja se posicionando quanto ao novo piso salarial, pelo menos pelos meios de
comunicação, há no ar um prenúncio de greve, que deve ser deflagrada tão logo
os governadores, que se mostraram insatisfeitos com a imposição federal,
proponham aumentos inferiores para os professores dos estados que governam.
Ora, a deflagração de uma greve
no âmbito da iniciativa privada tem como objetivo forçar a negociação com os
patrões, que vendo sua produção paralisada, suas datas de compromissos se
aproximando e temendo não poder cumprir contratos assinados, tenderiam a
aceitar as reivindicações de seus empregados ou pelo menos parte delas. No caso
do funcionalismo público é bem diferente, na há produção parada e o patrão, o
governo estadual ou municipal, pouco interesse têm na resolução do conflito. Os
filhos dos políticos não freqüentam a escola pública. Os próprios eleitores se
esquecem das greves havidas quando vão às urnas e o desgaste da paralisação só
é sentida pelos próprios grevistas que acabam aceitando propostas ridículas ou
que muitas vezes são do interesse do governo-empregador.
Me custa crer que a única
maneira dos docentes demonstrarem seu descontentamento pelos baixos salários
seja a greve se de antemão sabem que a educação pública é a última das
preocupações da maioria dos políticos. Escolas fechadas e estudantes pobres sem
aula são, para eles, até um motivo de tranqüilidade, no presente e no futuro. Para
os verdadeiros professores deveria ser, pelo contrário, fonte de preocupação. A
escola fechada é o ninho onde se abriga o político oportunista, o voto de
cabresto, o sindicalismo profissional.
As manifestações em prol de uma
educação decente com profissionais aptos e bem remunerados, deveriam ter como
cenário a escola de portas abertas 24 horas. O tema interessa a toda a
sociedade que, em última análise, é quem paga salários e é o cliente do ensino
público. Como então envolvê-la na discussão e ter seu apoio nas reivindicações
por melhoria salarial? A resposta me parece óbvia. Ocupar as escolas. Romper a relação burocrática. Negar ao poder
qualquer informação ou documento que lhe permita ter acesso às verbas repassadas
pelo Governo Federal. Desenvolver currículos voltados para as necessidades
reais dos alunos, esquecendo os ditames pedagógicos dos burocratas da educação.
Levar para dentro da escola o conhecimento acumulado na sociedade em pé de
igualdade com o conhecimento acadêmico Usar o espaço escolar para a
conscientização dos pais-eleitores. Demonstrar, através do diálogo com os
principais interessados, a necessidade de se cobrar das autoridades, pelo voto, um plano de educação que permita um ano letivo sem percalços. Romper com
a tradição de se tratar os pais de alunos pobres como idiotas, e ouvi-los, pois
muitas vezes é o professor quem leva para a sociedade, com seu discurso
sibilino, a visão das classes dominantes e de seus dirigentes políticos. A
escola aberta 24 horas seria a ponte de ligação entre os educadores e a
comunidade nos momentos de negociação com o governo.
A escola fechada é algo que a sociedade
não mais suporta. Não ter onde deixar os filhos em segurança enquanto se busca
o pão, não entra na cabeça de ninguém. Mas quando esse argumento é usado se
escuta as frases feitas em porta de sindicato. _Que escola não é depósito de
criança. _Que a família tem de participar no processo. _Que o governo isto e
aquilo. É como se o professor não tivesse parte da responsabilidade pelo estado
precário da educação. Fazendo seu papel de eterna vítima, os docentes se omitem
da resolução do problema educacional brasileiro.
Qualquer um, que tenha filhos ou
netos na escola pública, sabe que uma melhor remuneração dos professores é algo
indispensável, nem que seja para atrair gente mais qualificada para o ensino
pois hoje o que se vê são professores sem a menor capacidade de ensinar nossas
crianças. Se aí estão é porque a vida só lhes deixou 2 opções:_ Telemarketing ou sala de aula. Como o
concurso público lhes dá estabilidade no emprego e outras garantias, optam por
serem docentes sem que possuam talento ou vocação.
Depois da greve de 62 dias no
ensino público de Santa Catarina no ano passado, em vez de reporem as aulas perdidas, houve professores que
disseram abertamente em sala de aula que ninguém seria reprovado e fizessem
trabalhinhos valendo nota. Ao fim do ano, vendo que o Governador Raimundo
Colombo voltava atrás no que havia pactuado com os docentes, estes ficaram
indignados e já falam em greve para fazer valer o acordado na última greve. Ora
bolas, será que os mestres não sabem com quem estão lidando? Que não sabem que
o Governador Colombo é um típico político carreirista, oportunista e defensor
dos interesses de sua classe? Que Sua Excelência está pouco se lixando para o
ensino público e para os professores? Com sua reeleição em jogo apenas em 2014,
o momento não poderia ser mais propício para o Governador endurecer em suas
posições.
Por todo país se vê a mesma
coisa:_Governantes que não se importam com a educação e professores que não se
importam com os alunos. Claro que há exceções. No interior do Piauí, no município
de Cocal dos Alves, os alunos de uma escola pública são os campeões brasileiros
da olimpíada de matemática. Em 5 edições da competição eles ganharam 125 medalhas.
Mais que 11 estados da federação. Lá não há políticos mais responsáveis nem
salários melhores que no resto do país, tampouco os piauienses são mais dotados
intelectualmente que outros brasileiros. Também não há milagre.. Apenas escola
aberta e vontade de ensinar.
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