Eu não posso contar nossa estória, tenho pudores. Um caso de
amor tem de ter um final, mesmo que seja triste, e eu não quero falar daquele
dia. Só posso dizer que começamos numa cinemateca, assistindo um filme do Domingos
de Oliveira. Não, não era Edu coração de ouro. Esse foi depois, já namorávamos
então. Eu já carregava seu retrato dentro de um livro, de todos os livros que
li naqueles dias. Não foram muitos, nem dias nem livros.
Depois que terminou, percorri a Santa Clara não sei quantas
vezes. Só aquele trecho entre Barata Ribeiro e Av. Copacabana. Em frente a seu
prédio eu arrefecia o passo, já era tarde, já era passado e eu não sabia ainda.
Só mais um pouco de seu sorriso, de sua voz. Seu encanto aos dezessete anos.
Escrevi não sei quantos poemas desesperados, bebi a má
bebida na esquina de sua rua. Às vezes saia do bar e ia até a praia, buscando
sua janela no décimo andar. Voltava pela outra calçada temendo que a multidão
fosse reparar no meu ridículo amor desfeito. Muitas vezes a vi. Um dia passei
por ela com uma mulata de tirar o fôlego e quando pensei que sua lembrança
podia apagar-se, rasguei seu retrato.
Estive com ela umas quantas vezes depois daquele dia, sempre
fazendo triste figura. A dor da primeira paixão sempre faz triste figura. Não
sei como conseguia, acho que ainda não tinha pudores. Ela fora a única
testemunha daquilo. Só ela sabia. Eu não sabia ainda, eu não queria saber de nada
que não fosse dela.
A tristeza que senti, quando afinal percebi que ela não era
mais minha, quase apagou as lembranças dos dias felizes, dos dias mais felizes
que eu conhecera. Não sabia então que se podia ser tão feliz, tão triste.
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