segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que leva Yoani Sánchez do Brasil



                Toda vez que alguém fala das conquistas da Revolução Cubana nas áreas da educação, da saúde ou da ciência, vem sempre algum idiota com a frase feita, na ponta da língua:_ Por que então, não vai morar lá? Antes que alguém venha com esse papo, deixo claro que nutro grande simpatia pela Revolução Cubana e que não vou morar lá por vários motivos.
                Primeiro porque não tenho o dinheiro da passagem. Segundo porque estou velho e meu nível de educação formal é muito inferior ao do cubano médio, eu seria um fardo para o povo de lá. Terceiro porque amo meu país, não saberia viver sem samba, sem os jogos do Galo, sem as referências que me fazem ser brasileiro. Por último, eu poderia dizer que não quero melhorar Cuba e sim o Brasil. Cuba é problema dos cubanos. Ou, pelo menos, deveria ser.
                Pois bem, dos idiotas que fazem do anticomunismo seu único discurso político e odeiam a altivez cubana, eu já sei há muito tempo, o que me surpreendeu foi ouvir esse mesmo tipo de discurso na boca de quem defende a Revolução Cubana e suas conquistas sociais. Refiro-me ao Senador Randolfe Rodrigues do Psol.
                O Senador pelo Amapá é dos mais atuantes parlamentares do país. Inteligente, combativo e probo, Randolfe Rodrigues, já no seu primeiro mandato, se notabilizou por travar o bom combate contra a corrupção endêmica do Brasil e pela defesa de um sistema de governo mais justo. Até agora, seu único deslize foi o discurso que proferiu desde a tribuna do Senado no último dia 22. 
                Disse o Senador que Yaoni Sánchez deveria viajar para Miami onde se encontram seus amigos. Ora, não creio que seja por aí. Talvez, como eu, Yoani ame seu país, sua música, seus costumes. Talvez seja em Cuba que queira viver e não em Miami. Para lá irá, visitar sua irmã e, certamente, será reverenciada pelo que há de pior naquela sociedade tal qual se passou no parlamento brasileiro. Depois voltará para sua ilha. Se ela deseja a implantação do capitalismo em Cuba, como li em textos de terceiros, é lá que deve estar para combater por suas idéias e não em Miami, junto a bandidos e terroristas a soldo da CIA, como sugere o Senador.
                Aqui, em vez de hostilizá-la, deveríamos ter lhe mostrado certas peculiaridades do capitalismo que não funciona, ou melhor, que só funciona para alguns. Deveríamos tê-la tirado dos bons hotéis onde se hospeda e dos salões nobres do parlamento por onde trafega, para um passeio pela madrugada de Salvador, pelas favelas do Rio, ou pela periferia de Brasília. De certo Yoani veria o que nunca viu em seu país.
                Veria crianças fumando crack e dormindo nas ruas, veria o analfabetismo, saberia o que é truculência policial num grau que nem imagina. Conheceria as chacinas praticadas por grupos de extermínio e milícias. Deveríamos ter mostrado à moça, as filas nos hospitais públicos e a luta que mães enfrentam para matricular um filho no ensino fundamental, nas maiores cidades do país.  
                Aos 37 anos, a ativista cubana desconhece tudo isso. Quando ela nasceu a Revolução já era vitoriosa. Na sua ilha não existem crianças dormindo pelas ruas e consumindo crack, a educação e a saúde de qualidade são oferecidas a todos gratuitamente. Não existem analfabetos em Cuba. Não existe um só hospital ou universidade particulares em Cuba. Foi lá que Yaoni Sánchez estudou e se formou em filologia. Graças ao sistema que privilegiou suas qualidades e não o bolso de seus pais, ela pode fazer o que está restrito a poucos, pouquíssimos brasileiros: cursar uma faculdade..
                Do Brasil, Yaoni Sánchez vai levar a mais deturpada das impressões. A paparicação da direita mais reacionária e boçal e os apupos da esquerda mais intolerante e imbecil.
               Quanto ao Senador Randolfe Rodrigues, continua merecendo, de minha parte, todo o crédito. Só não precisava ter embarcado nessa canoa furada da hostilidade gratuita. Senador, trate bem o turista.


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