quarta-feira, 3 de abril de 2013

Homens e gatos



                Uma mulher e um gato é algo bonito de se ver. A diva recostada num canapé acariciando o bichano que ronrona. Os dedos dela penetrando a pelagem densa, quase carnal. Poucas coisas são tão sensuais; as unhas vermelhas que somem e reaparecem no branco angorá. A musa parecendo perdida em sutis pensamentos que só o gato é capaz de decifrar.
                O homem, ingênuo, vendo tal cena pode ser atacado de incontinente priapismo. Ela, sábia, prática, senhora de seus movimentos, só se levanta do canapé tendo o bicho nos braços. No chão, o obsceno animal tentaria prolongar as carícias, com o infeliz costume de levantar o rabo enquanto roçasse as pernas da dona. Ela sabe que não há erotismo nem sedução que resista à visão de um cu de gato. Por isso ao levantar-se da otomana, ela o tem nos braços. A mulher sabe como domar o instinto do bicho e atiçar o dos homens. A mulher e o gato são um conluio, uma cumplicidade.
                Já homens e gatos... não orna. A figura do macho com um felino no regaço é tão grotesca quanto uma mulher de bigodes. Tão inverossímil quanto um gato de botas. No entanto, existem homens que os criam, que os tratam.
                Geralmente esses homens cultivam hortinhas orgânicas em seus apartamentos, freqüentam templos budistas e vão às manifestações políticas vestidos de branco, simbolizando a paz. Mais de um, eu vi chorando diante de uma “instalação” do Siron Franco.
                Esses homens fazem comidinhas com ingredientes facilmente encontrados em qualquer grocery, em todas as rotisseries ou nas lojas especializadas em produtos do Butão.
                Muitos deles pertencem a ONGs ou fazem parte da diretoria da Associação Pelo Tombamento da Goiabeira Branca da Praça Leopoldo Sigfried, a APTGBPLS. É nos seus apartamentos, que têm o inconfundível odor de xixi de gato misturado com Bon Air, que as reuniões da Associação são realizadas.
                Esses criadores de gatos têm sempre alguma bebida muito estrangeira guardada em armários antigos, e se temos a necessidade (só a mais premente necessidade) de visitá-los, eles nos oferecem um cálice, um dedal da tal bebida. Num pires, vem algo duro, amargo e também proveniente de terras estrangeiras, que faz o papel de tira gosto e que nos deixa na boca por uma semana, o paladar, intuo, de coco de gato.



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