Uma mulher e um gato é algo bonito de se ver. A diva
recostada num canapé acariciando o bichano que ronrona. Os dedos dela
penetrando a pelagem densa, quase carnal. Poucas coisas são tão sensuais; as
unhas vermelhas que somem e reaparecem no branco angorá. A musa parecendo
perdida em sutis pensamentos que só o gato é capaz de decifrar.
O homem, ingênuo, vendo tal cena pode ser atacado de
incontinente priapismo. Ela, sábia, prática, senhora de seus movimentos, só se
levanta do canapé tendo o bicho nos braços. No chão, o obsceno animal tentaria
prolongar as carícias, com o infeliz costume de levantar o rabo enquanto roçasse
as pernas da dona. Ela sabe que não há erotismo nem sedução que resista à visão
de um cu de gato. Por isso ao levantar-se da otomana, ela o tem nos braços. A
mulher sabe como domar o instinto do bicho e atiçar o dos homens. A mulher e o
gato são um conluio, uma cumplicidade.
Já homens e gatos... não orna. A figura do macho com um
felino no regaço é tão grotesca quanto uma mulher de bigodes. Tão inverossímil
quanto um gato de botas. No entanto, existem homens que os criam, que os
tratam.
Geralmente esses homens cultivam hortinhas orgânicas em seus
apartamentos, freqüentam templos budistas e vão às manifestações políticas
vestidos de branco, simbolizando a paz. Mais de um, eu vi chorando diante de
uma “instalação” do Siron Franco.
Esses homens fazem comidinhas com ingredientes facilmente
encontrados em qualquer grocery, em todas as rotisseries ou nas lojas
especializadas em produtos do Butão.
Muitos deles pertencem a ONGs ou fazem parte da diretoria da
Associação Pelo Tombamento da Goiabeira Branca da Praça Leopoldo Sigfried, a APTGBPLS.
É nos seus apartamentos, que têm o inconfundível odor de xixi de gato misturado
com Bon Air, que as reuniões da Associação são realizadas.
Esses criadores de gatos têm sempre alguma bebida muito estrangeira
guardada em armários antigos, e se temos a necessidade (só a mais premente
necessidade) de visitá-los, eles nos oferecem um cálice, um dedal da tal
bebida. Num pires, vem algo duro, amargo e também proveniente de terras
estrangeiras, que faz o papel de tira gosto e que nos deixa na boca por uma
semana, o paladar, intuo, de coco de gato.
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