Outro dia, eu perguntava aos meus botões:_ Até quando o
Supremo estará infenso ao poder dos evangélicos que seguem seu avanço rumo ao
poder civil no Brasil? Após rápida conferência, a abotoadura respondeu:_ A
independência da Corte está por um fio.
O pessimismo dos meus botões tem fundamento no sistema de
escolha dos ministros daquela colenda Corte. Como sabemos é a Presidência da
República quem indica e o Senado quem referenda,
após sabatina, o nome proposto. Não houve na história recente, nenhuma rejeição
aos nomes indicados pelo executivo para integrar o STF por parte da Câmara
Alta.
Com o crescimento da bancada evangélica a cada eleição,
aumentando seu poder de chantagem sobre o executivo e sua presença no próprio
Senado, é de se esperar que uma futura indicação para Ministro do Supremo possa
passar pelo crivo daqueles que defendem a forma de pensar medieval.
Foi justamente contra as decisões do Supremo em questões
como a união civil de pessoas do mesmo sexo, a interrupção da gravidez de
anencéfalos e a garantia de manifestação dos que defendem a legalização do uso
de drogas, que se insurgiram recentemente os parlamentares evangélicos.
Parece óbvio que faz parte da estratégia desse grupo de
parlamentares, uma interferência mais direta no judiciário. Isso já se nota nos
tribunais de primeira instância. São vários os casos em que magistrados têm
dado parecer favorável aos religiosos quando o tema em pauta é a laicidade do
estado ou o direito de minorias.
No legislativo, especialmente na Câmara dos Deputados, onde
exercem seu poder de chantagear com mais desfaçatez, os evangélicos estão no
ataque. Projetos de lei oriundos dessa bancada, prometem levar o país à
teocracia. O executivo, sempre visando as próximas eleições, vai cedendo aos
fundamentalistas em questões que antes eram bandeiras do partido no poder.
A última vitória das hostes do santo ofício foi a aprovação,
nas comissões da Câmara, de projeto de lei que dá direito às instituições
religiosas de impetrarem, junto ao STF, Ações Diretas de Inconstitucionalidade.
Caso seja aprovado no plenário, o que é quase certo, o estrupício irá para o
Senado.
Qualquer lei aprovada por assembleias legislativas, câmaras
municipais ou pelo Congresso Nacional, poderá ser alvo da sanha de bispos de
araque e seus acólitos. Qualquer Valdomiro, Malafaia ou Feliciano poderá
contestar a constitucionalidade do trabalho legislativo. Junte-se a isso o fato das igrejas
pentecostais terem uma incrível capilaridade. Antes mesmo da chegada do Banco
do Brasil, elas montam suas coletorias nos cantos mais remotos do país. O
Supremo poderá ter em mãos centenas dessas ações propostas sem fundamento que
não seja o bíblico.
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