quarta-feira, 17 de abril de 2013

O último bastião



                Outro dia, eu perguntava aos meus botões:_ Até quando o Supremo estará infenso ao poder dos evangélicos que seguem seu avanço rumo ao poder civil no Brasil? Após rápida conferência, a abotoadura respondeu:_ A independência da Corte está por um fio.  
                O pessimismo dos meus botões tem fundamento no sistema de escolha dos ministros daquela colenda Corte. Como sabemos é a Presidência da República quem indica e o Senado  quem referenda, após sabatina, o nome proposto. Não houve na história recente, nenhuma rejeição aos nomes indicados pelo executivo para integrar o STF por parte da Câmara Alta.
                Com o crescimento da bancada evangélica a cada eleição, aumentando seu poder de chantagem sobre o executivo e sua presença no próprio Senado, é de se esperar que uma futura indicação para Ministro do Supremo possa passar pelo crivo daqueles que defendem a forma de pensar medieval.
                 Foi justamente contra as decisões do Supremo em questões como a união civil de pessoas do mesmo sexo, a interrupção da gravidez de anencéfalos e a garantia de manifestação dos que defendem a legalização do uso de drogas, que se insurgiram recentemente os parlamentares evangélicos.
                 Parece óbvio que faz parte da estratégia desse grupo de parlamentares, uma interferência mais direta no judiciário. Isso já se nota nos tribunais de primeira instância. São vários os casos em que magistrados têm dado parecer favorável aos religiosos quando o tema em pauta é a laicidade do estado ou o direito de minorias.
                 No legislativo, especialmente na Câmara dos Deputados, onde exercem seu poder de chantagear com mais desfaçatez, os evangélicos estão no ataque. Projetos de lei oriundos dessa bancada, prometem levar o país à teocracia. O executivo, sempre visando as próximas eleições, vai cedendo aos fundamentalistas em questões que antes eram bandeiras do partido no poder.
                 A última vitória das hostes do santo ofício foi a aprovação, nas comissões da Câmara, de projeto de lei que dá direito às instituições religiosas de impetrarem, junto ao STF, Ações Diretas de Inconstitucionalidade. Caso seja aprovado no plenário, o que é quase certo, o estrupício irá para o Senado.
Qualquer lei aprovada por assembleias legislativas, câmaras municipais ou pelo Congresso Nacional, poderá ser alvo da sanha de bispos de araque e seus acólitos. Qualquer Valdomiro, Malafaia ou Feliciano poderá contestar a constitucionalidade do trabalho legislativo. Junte-se a isso o fato das igrejas pentecostais terem uma incrível capilaridade. Antes mesmo da chegada do Banco do Brasil, elas montam suas coletorias nos cantos mais remotos do país. O Supremo poderá ter em mãos centenas dessas ações propostas sem fundamento que não seja o bíblico.


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