Se não fosse o drama do desaparecimento de Amarildo,
poderíamos estar rindo do que vem sendo noticiado nos telejornais. Claro, não
seria um riso de alegria ou de galhofa, e sim o riso nervoso de quem se sente
impotente diante dos atos infames que, a todo momento, são perpetrados contra o povo e sua indignação.
O Comandante da Polícia Militar do Rio anulou todas as
punições administrativas, inclusive as de prisão, que foram aplicadas a
policiais de 2011 para cá. Alega o comandante que isso se deu pelo
comportamento altamente profissional demonstrado pelos comandados durante a
Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude e nos protestos e
manifestações que vem ocorrendo na capital do estado. Ora, se o sujeito estava
preso, em que teria ele contribuído para o tal “profissionalismo” Parece, e é,
um escárnio. Além do mais, chamar de profissionalismo as cenas que assistimos
na TV e na internet é um escárnio e uma clara manifestação de apoio à violência
policial.
Anular punições é também um recado para quem pensa que pode
incriminar policiais. E não é só a Polícia Militar que trabalha pela impunidade
de seus membros.
O delegado que investiga o caso do desaparecimento de
Amarildo já anda providenciando o que parece ser uma farsa. Mandou intimar um
policial que teria dito (não se sabe pra quem) que um tio seu, que é motorista
de um caminhão de lixo que serve a comunidade da Rocinha, fora obrigado por traficantes a
levar um corpo para um depósito de lixo no Caju ou para Seropédica (as
reportagens que dão conta do fato, divergem).
A versão policial para o desaparecimento de Amarildo é que
este havia saído a pé da UPP após prestar esclarecimentos. As câmaras de
segurança que poderiam confirmar a versão do Comandante da Unidade de Polícia
“Pacificadora”, estavam desligadas aquela noite.
Como diria o gerente de banco:_Eh, veja bem... as câmaras não
estavam fora de operação, não estavam quebradas, avariadas ou algo parecido.
Estavam desligadas, assim como o GPS das viaturas da “pacificadora”.
O Doutor Delegado talvez devesse partir dessa estranha coincidência
para começar as investigações, mas ele prefere acreditar que Amarildo, após
prestar os tais esclarecimentos, saíra andando, fora seqüestrado e morto por
traficantes e depois desovado num lixão por um caminhão de coleta cujo
motorista é tio de um policial e tem a boca nervosa.
Você, minha amiga, menos leiga do que eu nessas coisas de
investigar, pode estar pensando que exagero quando falo em farsa, afinal se
arrumarem um corpo para ser dado como o de Amarildo e jogarem a culpa em traficantes,
tudo seria facilmente desmascarado por um simples exame de DNA. Pode ser, pode
ser. Mas não se esqueça que esse exame seria feito por legistas que trabalham
para o estado. O mesmo estado que levou Amarildo e que anistiou policiais
punidos desde 2011.
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