quarta-feira, 21 de agosto de 2013

1001 utilidades


                A propaganda do Bom Bril é que dizia que ele tinha mil e uma utilidades. Houve gente que fez listas de como utilizava o produto, mas nem de longe chegou-se perto desse número. Claro, era só uma maneira de dizer. Mas, cá entre nós, o que tem mesmo mil e uma utilidades é a maisena. O amido de milho. Você, minha amiga, que encara o fogão e o forno com prazer e sabedoria, sabe do que estou falando.
                Mas não foram movidos pelo paladar nem pela tradição culinária que pesquisadores deram  uma nova utilidade para o amido de milho. Vi num desses programas de ecologia da TV que ele agora será utilizado para fabricar um substituto para o isopor. Pois é, a maisena será usada em embalagens substituindo o produto que vem de um refugo da indústria do petróleo.
                Alegam os defensores da utilização do amido de milho para esse fim pouco nobre, que o isopor é causador de poluição, não se degrada com facilidade e seu grau de reutilização é muito baixo.
                As recicladoras pagam uma ninharia pelo isopor e para ganhar um mínimo, os catadores devem deslocar enormes fardos. Por ser muito volumoso, embora leve, e ter seu preço como produto reciclável muito baixo, não há interesse dos catadores em recolhê-lo. É muito mais negócio catar o papelão ou as latinhas de alumínio. O isopor, via de regra, vai parar nos aterros sanitários.
                Então por que não responsabilizar a indústria pela coleta e destinação correta do isopor? Ora, porque não se quer onerar a indústria. É mais prático usar o solo para plantar embalagem e encarecer o milho que é largamente consumido no país tanto in natura como na forma de fubá e de maisena. Sem contar que o milho é também usado como ração animal tanto na suinocultura como na avicultura.
                No programa que assisti, o jornalista exultava com a novidade e aqui, ai de mim, vou sofrer mais uma vez pela escassez de vocabulário. Sim, pois se digo que o jornalista exultava com o amido de milho virando embalagem, o que dizer de outro entrevistado que no mesmo programa falava do fim dos combustíveis fósseis e da grande vantagem que tem o país por poder produzir cana para mover automóveis. Combustível sustentável, segundo ele.
                Mas desde quando é sustentável usar a terra para produzir combustíveis e embalagens em vez de alimentos? A fome, endêmica em muitos cantos do mundo, não parece fazer parte das preocupações dos preservacionistas e afins. O importante é preservar o planeta para quem possa pagar por ele.



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