A propaganda do Bom Bril é que dizia que ele tinha mil e uma
utilidades. Houve gente que fez listas de como utilizava o produto, mas nem de
longe chegou-se perto desse número. Claro, era só uma maneira de dizer. Mas, cá
entre nós, o que tem mesmo mil e uma utilidades é a maisena. O amido de milho.
Você, minha amiga, que encara o fogão e o forno com prazer e sabedoria, sabe do
que estou falando.
Mas não foram movidos pelo paladar nem pela tradição
culinária que pesquisadores deram uma
nova utilidade para o amido de milho. Vi num desses programas de ecologia da TV
que ele agora será utilizado para fabricar um substituto para o isopor. Pois é,
a maisena será usada em embalagens substituindo o produto que vem de um refugo
da indústria do petróleo.
Alegam os defensores da utilização do amido de milho para
esse fim pouco nobre, que o isopor é causador de poluição, não se degrada com
facilidade e seu grau de reutilização é muito baixo.
As recicladoras pagam uma ninharia pelo isopor e para ganhar
um mínimo, os catadores devem deslocar enormes fardos. Por ser muito volumoso,
embora leve, e ter seu preço como produto reciclável muito baixo, não há
interesse dos catadores em recolhê-lo. É muito mais negócio catar o papelão ou
as latinhas de alumínio. O isopor, via de regra, vai parar nos aterros sanitários.
Então por que não responsabilizar a indústria pela coleta e
destinação correta do isopor? Ora, porque não se quer onerar a indústria. É
mais prático usar o solo para plantar embalagem e encarecer o milho que é
largamente consumido no país tanto in natura como na forma de fubá e de
maisena. Sem contar que o milho é também usado como ração animal tanto na
suinocultura como na avicultura.
No programa que assisti, o jornalista exultava com a
novidade e aqui, ai de mim, vou sofrer mais uma vez pela escassez de vocabulário.
Sim, pois se digo que o jornalista exultava com o amido de milho virando
embalagem, o que dizer de outro entrevistado que no mesmo programa falava do
fim dos combustíveis fósseis e da grande vantagem que tem o país por poder
produzir cana para mover automóveis. Combustível sustentável, segundo ele.
Mas desde quando é sustentável usar a terra para produzir
combustíveis e embalagens em vez de alimentos? A fome, endêmica em muitos
cantos do mundo, não parece fazer parte das preocupações dos preservacionistas
e afins. O importante é preservar o planeta para quem possa pagar por ele.
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