O nome do programa é: ”Sensacionalista, um jornal isento de
verdade” e mesmo que o humorístico esteja já aí, no nome, há gente que crê
tratar-se de um noticioso de verdade. Os esquetes do programa que aparecem
compartilhados nas redes sociais merecem os comentários mais indignados e
iracundos. O pessoal do “bandido bom é bandido morto” é o que mais opina para
pedir intervenção militar, pena de morte e esterilização dos pobres a cada
reportagem do Sensacionalista. Bem que, verdade seja dita, pra esses fãs do
Bolsonaro e do Malafaia, até um desenho animado da Disney ou um episódio do
Chaves merece o mesmo tipo de comentário.
Mas o que pode parecer apenas falta de neurônios e de senso
de humor, tem explicação melhor. O fato é que fica fácil confundir um programa
humorístico em forma de telejornal com os telejornais.
Se no Sensacionalista o desempenho dos apresentadores poderia
denunciar o caráter cômico do negócio, o costume dos telespectadores com o histrionismo, as caras de circunstância
e a falsa indignação dos telejornais “sérios”, faz com que ele creia estar
diante de mais um noticiário de TV. Mas tem pior.
Para embaralhar tudo, dessa vez foi uma profissional da imprensa
que não soube diferenciar notícia de humor. E não poderia ser outra (na verdade
poderia ser outra sim) senão Raquel Sheherazade a musa dos linchadores.
Todos sabemos que a moça não brilha pelo intelecto. Seu
negócio são uns chiliques e comentários de cunho conservador e popularesco. Os
chiliques são (mal) interpretados, mas os comentários parecem sairem-lhe d’alma,
como diria o poeta.
Proibida pelo patrão de falar bobagens diante das câmeras,
Sheherazade tem usado a internet para tal fim e ontem, para defender Jair
Bolsonaro, seu ídolo e mentor intelectual, que agrediu a deputada Maria do
Rosário com sua torpeza e boçalidade habitual, Sheherazade fez o que todos os
que defendem o indefensável fazem: tentou desqualificar a vítima. Acontece que
para isso a jornalista publicou como verdadeira uma notícia do blog “Joselito
Müller, jornalismo destemido”. Ora, esse também é um blog de humor que brinca
publicando as notícias mais estapafúrdias.
Ainda que no blog haja manchetes que dizem que o governo vai
estatizar o Rivotril e que Mikail Gorbachov foi preso por fazer perestróika em
público, Sheherazade não percebeu que se tratava de comicidade e reproduziu a
nota que atribuía a Maria do Rosário a frase: “Quem cometer um crime contra um
gay, merece a pena de morte.”. Sheherazade ainda comentou: “Mais uma vez
Rosário falou sem pensar.” O mais engraçado é como termina a notícia que
Sheherazade acreditou ser verdadeira. Joselito Müller conta que para fugir do
assédio dos jornalistas, Maria do Rosário fingiu atender uma chamada no celular
e só mais tarde percebeu que estava falando no controle remoto. Só Sheherazade
(só ela não) para acreditar nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário