quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Era só uma piada, Sheherazade


O nome do programa é: ”Sensacionalista, um jornal isento de verdade” e mesmo que o humorístico esteja já aí, no nome, há gente que crê tratar-se de um noticioso de verdade. Os esquetes do programa que aparecem compartilhados nas redes sociais merecem os comentários mais indignados e iracundos. O pessoal do “bandido bom é bandido morto” é o que mais opina para pedir intervenção militar, pena de morte e esterilização dos pobres a cada reportagem do Sensacionalista. Bem que, verdade seja dita, pra esses fãs do Bolsonaro e do Malafaia, até um desenho animado da Disney ou um episódio do Chaves merece o mesmo tipo de comentário.
Mas o que pode parecer apenas falta de neurônios e de senso de humor, tem explicação melhor. O fato é que fica fácil confundir um programa humorístico em forma de telejornal com os telejornais.
Se no Sensacionalista o desempenho dos apresentadores poderia denunciar o caráter cômico do negócio, o costume dos telespectadores  com o histrionismo, as caras de circunstância e a falsa indignação dos telejornais “sérios”, faz com que ele creia estar diante de mais um noticiário de TV. Mas tem pior.
Para embaralhar tudo, dessa vez foi uma profissional da imprensa que não soube diferenciar notícia de humor. E não poderia ser outra (na verdade poderia ser outra sim) senão Raquel Sheherazade a musa dos linchadores.
Todos sabemos que a moça não brilha pelo intelecto. Seu negócio são uns chiliques e comentários de cunho conservador e popularesco. Os chiliques são (mal) interpretados, mas os comentários parecem sairem-lhe d’alma, como diria o poeta.
Proibida pelo patrão de falar bobagens diante das câmeras, Sheherazade tem usado a internet para tal fim e ontem, para defender Jair Bolsonaro, seu ídolo e mentor intelectual, que agrediu a deputada Maria do Rosário com sua torpeza e boçalidade habitual, Sheherazade fez o que todos os que defendem o indefensável fazem: tentou desqualificar a vítima. Acontece que para isso a jornalista publicou como verdadeira uma notícia do blog “Joselito Müller, jornalismo destemido”. Ora, esse também é um blog de humor que brinca publicando as notícias mais estapafúrdias.

Ainda que no blog haja manchetes que dizem que o governo vai estatizar o Rivotril e que Mikail Gorbachov foi preso por fazer perestróika em público, Sheherazade não percebeu que se tratava de comicidade e reproduziu a nota que atribuía a Maria do Rosário a frase: “Quem cometer um crime contra um gay, merece a pena de morte.”. Sheherazade ainda comentou: “Mais uma vez Rosário falou sem pensar.” O mais engraçado é como termina a notícia que Sheherazade acreditou ser verdadeira. Joselito Müller conta que para fugir do assédio dos jornalistas, Maria do Rosário fingiu atender uma chamada no celular e só mais tarde percebeu que estava falando no controle remoto. Só Sheherazade (só ela não) para acreditar nisso.

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