O texto de Breno Altman no sítio informativo Ópera mundi se
intitula “Quando Dilma irá acalmar a esquerda?” E começa assim: “Abundam
analistas e protagonistas elogiando as escolhas da presidente para o
ministério, as medidas anunciadas nas últimas semanas e o discurso que tem
predominado desde a reeleição”.
Já de cara aparece a pergunta que não quer calar: por que
alguém iniciaria um texto com um verbo tão sujeito aos trocadilhos bobos e às
piadas infames? Bem, disso trato depois.
O artigo segue fazendo uma afirmação que quer se passar por
dúvida ou conjectura: “A idéia-força que atrai estes aplausos é a da pacificação.
Seria lance político de brilhantismo um conjunto de concessões destinadas a
desarmar o clima de enfrentamento da disputa presidencial”.
Aqui é o verbo ser no condicional o que incomoda. Esse
“seria” tem o tilintar de moeda falsa, faz o leitor pensar que está tendo uma
opinião, tomando uma posição, que está entre os que acompanham os abundantes
analistas e protagonistas. Nesse trecho a vontade é de abandonar a leitura e
abrir o Almanaque Capivarol, a folinha Mariana ou algo que faça prognósticos
mais seguros. Mas não. Não sou homem de abandonos.
O texto de Altman prossegue num tom de análise ponderada, no
mesmo tilintar. Chega mesmo a citar “ferrabrás do ruralismo” sem dar o nome da
nova titular da pasta da agricultura. Pudores?
Mas voltemos aos analistas e protagonistas que abundam. Quem
serão? Não os tenho lido ou ouvido. Toda notícia que leio e que fala do novo
ministério de Dilma reflete a mesma estupefação, a mesma incredulidade quanto
ao giro repentino do governo em direção ao que há de mais conservador e
reacionário no país
É bem verdade que ando fugindo daqueles colunistas que um dia
defenderam a permanência de Sarney na presidência do Senado em nome da
governabilidade e que apontavam como golpe de estratégia genial do Presidente
Lula a conquista do apoio de Maluf à candidatura de Haddad. Talvez sejam estes
os que agora defendem o novo ministério. Mas, convenhamos, não são abundantes
como quer Altman.
Sei que Altman não mente, apenas exagera quanto ao número de
analistas que acham que o novo ministério é parte de brilhante estratégia
política, daí o uso do verbo que sugere
multidões, farturas, profusões. Não me cabe dúvida de que há gente tentando dar
nó em pingo d’água para explicar a presença de Kátia Abreu, Kassab, Barbalho e
outros bichos no primeiro escalão do governo. Mas daí à abundância de elogios
vai uma enorme distância.
A conversa da correlação de forças no congresso e o papo da
governabilidade já foram por demais usados. Este discurso, supostamente
realista, já encheu pote e moringa, portanto havia que se inventar outro. Agora
fala-se de isolar núcleos golpistas e de extrema direita fazendo-se concessões
(e que concessões!) às classes dominantes. Esse argumento também consta no artigo
de Altman.
Se antes a equação era vencer a direita para fazer o que a
direita faria, hoje, a impressão que ficou depois da escolha de parte do novo
ministério é que se pretende isolar golpistas governando-se como os golpistas
governariam.
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