domingo, 7 de dezembro de 2014

O padre negro



O padre Wilson é negro e por insistência dos fiéis foi afastado de sua paróquia. Os fiéis de Adamantina (SP) escreveram para o bispo reclamando do jeito simples do padre (quanta sutileza) e do fato dele estar atraindo pessoas pobres e viciados em drogas para a igreja. Claro que o preconceito não era “apenas” contra os pobres e supostos viciados. O próprio padre ouviu uma conversa entre duas senhoras freqüentadoras de sua igreja em que uma delas dizia que se deveria retirar o galo de cima da igreja e lá botar um urubu.  
O bispo, mais que depressa, afastou padre Wilson de suas funções, mas disse que ele não foi afastado por ser negro e sim por estar dividindo os fiéis. Entendeu? Alguns paroquianos não gostaram de ter um padre negro dirigindo os serviços religiosos, certamente havia fiéis que não se importavam com a cor do padre. Daí a divisão do rebanho. A culpa é do padre e de sua cor que não produziram a unanimidade dos católicos de Adamantina. Não é um espetáculo de dialética?
Nas caixas de comentários dos sítios informativos que publicaram a notícia, os leitores mostraram indignação. Pelo menos nesse episódio não encontrei quem defendesse a atitude dos católicos de Adamantina. O teor dos comentários pouco variava. Neles lia-se que tal atitude não é própria de um cristão. Citou-se Jesus e Francisco. Falou-se de amor ao próximo.
Bem intencionados, os leitores comentadores não viram o óbvio: a igreja católica sempre foi racista. E não só a católica. Os cristãos protestantes também. A escravidão era apoiada por essas igrejas. No Brasil a igreja católica era proprietária de incontáveis escravos que labutavam em suas ricas e produtivas terras. Os cristãos nunca viram o negro, o índio, o judeu, o asiático ou o árabe como iguais. Convertidos, continuavam sendo tratados como inferiores a quem a igreja concedera a graça da salvação e o epíteto de cristão novo. Nada mais.
O colonialismo, o genocídio de povos não cristãos ao redor do mundo, o holocausto nazista, nada disso recebeu reproches dos cristãos.
A bíblia está repleta de senhores de escravos queridinhos de Deus. Vários povos e mesmo tribos judaicas foram retratados nas escrituras com o mais deslavado racismo. O verdadeiro cristão tem motivos de sobra para ser racista.
Talvez, o único erro de Padre Wilson seja o de ter abraçado a fé cristã. Ele, como descendente de pessoas que foram escravizadas, deveria ter se dado conta que não se pode confiar numa crença que sempre apoiou a escravidão, que sempre praticou todas as discriminações.




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