sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Corrupção

Na convenção do PSDB que oficializou o nome de José Serra como candidato do partido para a disputa presidencial passada, ouvimos da jornalista Eliane Catanhede, que falava ao vivo para o jornal das dez da Globo News, que se tratava de um evento de massa, mas “uma massa cheirosa”.
Esta pérola de preconceito está no youtube para quem quiser ver por toda eternidade
O que surpreende não é o reacionarismo da frase, mas a grosseria. Sempre se espera que mesmo as mentes mais conservadoras e preconceituosas tenham um mínimo de recato e compostura quando exercem o ofício de jornalista. Mas o fato aconteceu  quando a jornalista falava de improviso, sem um texto que disfarçasse  sua visão de mundo. No fundo foi melhor assim. Os telespectadores puderam ver realmente de que tratava a reportagem.
Os grandes meios de comunicação no Brasil e do mundo gostam mesmo é de massas cheirosas, comportadas. Vê-se isso muito claramente na cobertura que recebem as manifestações que tomam conta da Europa nos últimos meses.
Enquanto em Londres os manifestantes eram tratados como vândalos e marginais por terem promovido uma quebradeira, os jovens cheirosos e charmosos de Madri eram mostrados como indignados cidadãos. As reportagens de Londres traziam saques e agressões, enquanto os espanhóis eram entrevistados sobre os muitos comitês que haviam formado.( Tinha comitês demais para uma manifestação que queria mostrar-se como espontânea e sem lideranças.) Embora pacífica e ordeira  também foi reprimida pois estava atrapalhando o trânsito e o comércio no centro da capital. Não resistiram mais que uns dias.
Se sobre a Inglaterra nada foi dito sobre os fatores econômicos e sociais que deram origem ao quebra-quebra, no caso espanhol nada se questionou sobre a participação política daqueles que ali se manifestavam em pleno dia de pleito. Deu vitória folgada da direita nas eleições regionais. Embora indignados os eleitores daquele país estão prestes a dar nova vitória ao PP nas eleições para o parlamento nos  próximos dias.
Agora é a vez da Itália. No último fim de semana os manifestantes quebraram tudo em repúdio as novas medidas de arrocho que serão implementadas  pelo governo de Berlusconi, mas, delas pouco se falou. Nas reportagens dos jornais televisivos apareceram pessoas chorando, vitrines quebradas e carros incendiados. Seria até incoerente se a Globo ou a Bandeirantes fizessem restrições a essas medidas que os governos de Portugal, Itália ou Espanha estão tomando, afinal são as mesmas medidas que eles preconizam para nós: privatizações, diminuição dos gastos sociais, precarização do emprego e moleza para os bancos para evitar “uma crise sistêmica”.
Também no terreno doméstico a massa cheirosa ganha espaço nos noticiários com as manifestações anti-corrupção.. Senhoras com vassouras verde-amarelas são mostradas como símbolo da indignação popular frente aos desmandos e à roubalheira generalizada. Mesmo em seus trajes de faxina estas senhoras são chiques. Parece que saíram do movimento “cansei” promovido por João Dória e que esteve de moda no ano passado. Se esse movimento estava restrito à fina flor da burguesia paulista e tomava chá nos salões, o dos dias de hoje incorpora a classe média e vai às ruas. É supra-partidário, ou seja, é anti-governo.Após o último ato público que aconteceu no feriado de 12 de outubro, vi a entrevista de um dos “organizadores” no Jornal da  Cultura. Tratava-se do diretor da Ong  Contas Abertas, que ressaltando o aspecto supra-partidário do movimento, citou o fato de um manifestante que empunhava uma bandeira do Psol ter sido expulso e vaiado.. Quando questionado sobre o que origina as manifestações, respondeu que não é normal que quatro ministros sejam demitidos por corrupção em poucos meses de governo e isso levou à indignação  nossa população.
Ora, isso deveria ser visto como algo positivo. Mostra a disposição da Presidenta  de não tolerar tais fatos e em vez de manifestações anti-corrupção deveriam acontecer atos de apoio à Presidenta.. Mas não é disso que trata o movimento. Ele não quer acabar com a corrupção, quer ser contra o governo e o que ele tem de melhor que são os projetos sociais e a inserção de milhões de brasileiros na vida cidadã.
Claro que a maioria das pessoas que vão às manifestações o fazem de boa fé, imbuídos das melhores intenções. Mas estão servindo de massa de manobra para aqueles que plantam nas redes sociais esse movimento “espontâneo” A oposição de direita está adorando. Poupa-lhe do ridículo de empunhar uma bandeira contra a corrupção, único discurso possível nesse momento, já que os pontos negativos do governo passado e do atual, (reforma da previdência, manutenção do superávit  primário, submissão às regras do mercado especulativo etc) fazem parte do seu programa. Com as ruas ocupadas pelos indignados, a oposição pode restringir sua falação às tribunas do congresso, pois lá, mesmo ACM  Neto e Agripino Maia podem fazer-se de vestais. É do jogo.
O fato é que as pessoas de boa fé que acodem às manifestações anti-corrupção acreditam que passando pito nos corruptos vão tocar-lhes a consciência. Ou que denunciando-os vão fazer com que eles percam as eleições. Será que preciso citar o nome de um certo deputado paulista eleito e reeleito inúmeras vezes mesmo tendo contra si vários processos no supremo e um pedido de captura expedido pela Interpol?
Contra a corrupção somos todos, inclusive os corruptores que gostariam de desfrutar de benesses sem ter que pagar por elas ou pelo menos pagar propinas mais módicas.
Lá pelos anos 50, havia um político mineiro que respondia pela alcunha de Quinzinho (em mineirês; Quinzim). O apelido não era devido a ele se chamar Joaquim e sim por cobrar 15% de propina quando todos os outros corruptos cobravam 10%. O homem estava à frente de seu tempo.




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