“É melhor
ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe” Assim começa um
samba bossa nova que tem por autor da letra o “poetinha” Vinícius de morais. E
desses versos quem poderia discordar? Alem do mais são muito óbvios. A afirmação
soa quase falsa de tão exata. Mas segue versejando o poeta até dizer o que
tinha a intenção de dizer desde o princípio.”Fazer samba não é fazer piada e
quem faz samba assim não é de nada”. Pronto, ficamos sabendo que Noel Rosa não
era de nada, pois o que seria “Conversa de botequim” senão uma grande piada,
uma típica anedota carioca? E toda a tradição do samba de breque criado e
imortalizado por Moreira da Silva?_ Não é de nada, segundo o poeta de Ipanema.
Mas e o samba jocoso, tão presente na obra dos maiores do gênero? _De nada.
Diria Vinícius de Moraes, poeta e nome de rua.
Ainda nessa mesma canção
Vinícius continua dando receita de como fazer samba. “É preciso um bocado de
tristeza senão não se faz um samba não”. Nada mais falso. Nada mais falacioso.
Ouvi de Nelson Sargento em um documentário que homenageava o bamba
mangueirense, justamente o contrário. Dizia Nelson que não precisava estar
alegre pra fazer um samba alegre nem triste pra fazer um samba triste.Se o
depoimento do poeta de “Agoniza mas não morre” fora pouco, poderia recorrer a
linda letra do samba composto por João Nogueira no qual o portelense do Méier
descreve o poder da criação.”Não precisa se estar feliz nem aflito, nem se
refugiar em lugar mais bonito em busca da inspiração”. Fico com os dois
sambistas.
Acontece que Vinícius de Moraes,
neófito no samba, quis mostrar conhecimento de causa numa seara que não era a
dele. Iniciado na arte popular já maduro, queria, ademais de ensinar sambista a
fazer samba, demonstrar fidelidade aos que lhe o acolheram no mundo do samba
carioca. E sem nada conhecer do assunto chamou São Paulo de “túmulo do samba”.
Nem foi maldade, foi ignorância mesmo. Duvido que ele conhecesse a obra de
Geraldo Filme ou de Germano Mathias.E mesmo se conhecesse não creio que se
emocionasse com a história de Geraldo que aos treze anos, incomodado com seu
pai que não valorizava o samba paulistano, compôs um samba cujo refrão “Somos
paulistas e sambamos pra cachorro , pra ser sambista não precisa ser do
morro”,eu considero uma preciosidade pela singeleza de seus versos. Versos de
menino.
Duvido que o poeta do copo de whisky já ouvira
falar do samba de Pirapora com seus tambores ancestrais. Mas Adorinan Barbosa
já era nome consagrado quando Vinícius entrou na música popular. Ainda assim
creio que o desconhecesse. Ou quem sabe os versos de “Saudosa maloca” ou de
“Iracema” não lhe falassem ao gosto apurado de poeta acadêmico.
Sempre que as classes privilegiadas entram em
contato com o que é popular, dele se apropriam e chegam a acreditar que o
melhoraram. Recentemente vendo um documentário sobre a música dos anos
sessenta, ouvi de Nara Leão que as letras da música popular brasileira ganharam
qualidade naqueles tempos pois pela primeira vez os compositores tinham nível
universitário e citava Tom, que era arquiteto. Ora bolas, estou para descobrir o
que faz de um arquiteto bom compositor, que aliás, é o caso do grande Tom
Jobim. Mas se Tom é o maravilhoso melodista que conhecemos, tenho certeza que
isso nada tem a ver com suas horas passadas na faculdade de arquitetura. Alem
do mais um curso universitário não dá bom gosto a ninguém. Muito menos talento
musical. Preciso lembrar que nos dias de hoje temos um novo gênero musical
chamado sertanejo universitário? (Desculpe, peguei pesado)
Mas voltando ao tema. Nem Nara
Leão, com sua total falta de graça e sua voz de apartamento, nem Vinícius de
Moraes, contribuíram com o samba. Nada do que fizeram nesse gênero musical se
igualou ao que já havia sido feito antes ou viria a ser feito depois. Mesmo
Baden Powell que com Vinícius fez os
“afro-sambas”,apenas colheu de vindima alheia sem que o vinho produzido
soubesse melhor ao paladar do terreiro. Estas composições são para sala de
conserto de gringo.
Por falar em gringo, vale a pena
salientar que essa apropriação indébita do lavor popular também se dá em outras
plagas.
Quando o jazz começava a agradar
aos estadunidenses, alguém da indústria fonográfica, também iniciante, resolveu
convidar artistas daquele estilo musical para gravar. O escolhido foi um
trompetista negro que fazia furor com seu talento levando multidões ao Harlen
para ouvi-lo tocar. Mas o músico, além do grande talento também era possuidor
de enorme vaidade. O virtuose tocava com um lenço sobre o instrumento para que
outros músicos não vissem os movimentos dos seus dedos. Portanto ao receber o
convite meditou e recusou a oferta pois acreditava que tendo seu som gravado,
outros poderiam copia-lo. Com a recusa, os homens da gravadora foram atrás de
um grupo de brancos que também tinha muita aceitação no mundo do jazz. Estes
foram contratados e em pouco tempo já desbancavam o grande vendedor de discos
da época, o tenor italiano Enrico Caruso.. Esta banda pioneira nas gravações,
durou mais de cinqüenta anos e seu líder e fundador morreu jurando que o jazz
nada tinha de negro, que estes apenas copiavam a arte criada pelos brancos. Se
alguém lhe dava crédito, eu não sei.
"O morro não tem vez/E o que ele fez já foi demais/Mas olhem bem vocês/Quando derem vez ao morro/Toda a cidade vai cantar///É um, é dois, é três/É cem, é mil a batucar/O morro não tem vez/Mas quando derem vez ao morro/Toda a cidade vai cantar".
ResponderExcluirAdivinha de quem é a letra desse samba do Tom?
Adivinha quem fez as letras de "A Felicidade" e "Chega de Saudade"(músicas de Tom, a primeira uma delícia com João Gilberto, a segunda um primor com Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e Época de Ouro mais Elizeth Cardoso), e as letras de "Formosa" (música de Baden, grande interpretação de Ciro Monteiro), "Gente Humilde" (com Chico Buarque, música de Garoto) e "Marcha de Quarta-Feira de Cinzas" (música de Carlos Lyra, versão curiosa do paulista Jair Rodrigues)? Quem?
É. E também com música de Carlos Lyra adivinha quem fez a letra do "Hino da UNE"? Pode ouvir lá no youtube: http://youtu.be/CRWwjlZ4jUM
Jorge, meu irmão, vamos ouvir mestre Vinícius sem pé atrás e passar com ele uma "Tarde em Itapoã" (com música de Toquinho, paulistano de quatro costados, filho da terra da garoa, "túmulo do samba"... Sampa é o túmulo do samba como o Rio é o túmulo da indústria, embora seja a segunda cidade industrial do país. Vinícius tinha samba e tinha humor. E compôs dúzias de coisas com Toquinho.)