quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Frases







Em 1988, Carlos Menem concorria com Antonio Cafiero pela indicação de seu partido para disputar a presidência da República Argentina. Foram prévias renhidas com simpatizantes exaltados e grandes frases no melhor estilo grandiloqüente dos políticos daquele país. Num dos últimos atos públicos de sua campanha, Menem proferiu discurso no qual expunha os motivos que o levavam a querer disputar a Casa Rosada e por quem lutaria caso fosse eleito presidente. Disse o homem das costeletas:_”Por los niños pobres que tienen hambre, por los niños ricos que tienen sed de amor”. Pois é, ele não deixava escapar ninguém. Mas se esse discurso é risível, em outra fala, o filho de La Rioja resolveu citar o prócer de seu partido e mandou essa:_ “Como dijo Perón, nunca tantos hicieram tanto por tan pocos”.Isso ninguém me contou, eu mesmo ouvi ambos os discursos transmitidos pela Rádio Del Plata, presente nos comícios com seus microfones.
Mas se trocar o nome do autor ao citar uma frase já é pecado, o que dizer de quem cita, como se sua fosse, a frase de outro? Indesculpável. Mas há pior.
Outro dia, corria os olhos por um sítio informativo quando me deparei com a reprodução da coluna que Luis Felipe Pondé escreve na Folha de São Paulo. O filósofo, em seu texto áspero, fazia considerações sobre essa mania tão caipira de nossas classes médias de enaltecer a Europa em tudo. Eu, ainda que com certo receio, ia concordando com o pensador da Avenida Paulista quando encontro a frase:_”Eu não sou patriota, patriotismo é para canalhas”. Tive a certeza de estar diante de uma adulteração.A frase fora corrompida, deturpada, mas ainda estava lá., reconheci-a. “O patriotismo é o último refúgio de um canalha”
Quando o Samuel Johnson cunhou o dito, me parece óbvio que quis dizer que esgotados todos os recursos de canalhice, o sujeito de pouco caráter usa o artifício de um patriotismo postiço para perpetrar seu derradeiro golpe. De maneira nenhuma afirma que o patriotismo é coisa de canalhas, pois qualquer um olhando em volta, encontra patriotas dignos. Homens e mulheres que através da história fizeram do seu amor à terra em que nasceram, fonte de inspiração dos mais altos e desinteressados ideais. Basta lembrar o Tiradentes e os outros componentes da conjuração mineira. Ou, no século seguinte, toda a geração de literatos que instauraram o romantismo no Brasil. Claro que entre estes houve um grande número de canalhas e postiços, mas creio que não se pode mencionar Paula Brito, Teixeira e Souza ou Gonçalves Dias, nesses termos. Estes homens que iniciaram a puberdade à época da independência, tinham no amor à pátria nascente, algo mais que a pose ou o trejeito de alguns contemporâneos seus. E não vou mais alem nos exemplos para não começar a citar os vivos que poderiam me desmentir no futuro.
Mas como sabemos, Pondé ama as câmeras e, diga-se a verdade, por elas é amado. Talvez, as horas gastas maquiando-se para suas aparições na televisão ou sua ida a jantares e lugares finos o tenha impedido de pesquisar para citar corretamente.e com a cabeça na sua nutrida agenda, não foi capaz de meditar no que escrevia. Saiu-lhe o monstrengo em forma de oração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário